terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

“Entre nós não deve ser assim” Reflexão sobre as recentes eleições municipais


ARQUIVO


Paolo Cugini

As eleições municipais terminaram; graças a Deus! Ninguém   estava mais agüentando a confusão, os carros de som, as músicas (de péssimas qualidade) dos candidatos. Nas próximas eleições iremos exigir mais atenção contra a poluição sonora. Foi muita falta de respeito, muita falta de educação cívica. Os cidadãos têm direito para serem respeitados, também no período eleitoral.

Nesse contexto o Movimento Fé e Política fez a própria parte. Desde o começo, o movimento apontou a direção da própria ação; conscientizar o povo sobre os direitos e deveres dos eleitores, sobre a importância do voto para o bom desenvolvimento da democracia, explicando,   aonde foi possível, as exigências da lei 9.840, contra a corrupção eleitoral. No primeiro programa que o Movimento Fé e Política realizou pela Rádio Comunitária Canabrava FM, foi salientado que a mudança de mentalidade do eleitor e do candidato era  uma conquista civil  impossível para ser alcançada no breve período. Foi com esta consciência, que entramos na campanha política de uma forma alegre e tranqüila. Realizamos vários eventos de conscientização, utilizando métodos diferentes, avaliando semanalmente o nosso trabalho. Foi uma semente que queremos, de agora em diante, cultivar para que a consciência democrática de nossa cidade, possa crescer sempre mais.

Na homilia do último dia do ano passado alertei os católicos sobre as eleições políticas deste ano, dizendo que teriam sido uma avaliação da nossa maturidade espiritual. Interiorizar a Palavra de Deus é viver esta Palavra na vida do dia-a-dia. A Palavra de Jesus é uma Palavra profética de denúncia contra as injustiças sociais, contra as hipocrisias. Além disso, é uma Palavra de amor, de conversão, de perdão. Um cristão que participa da mesa eucarística do domingo, não pode considerar o irmão, que participa da mesma mesa, um inimigo, pelo simples fato que vota num candidato diferente. Infelizmente isso aconteceu. Várias pessoas começaram tratar o irmão de forma diferente, como um inimigo, pelo simples fato de que votava num outro candidato. Interiorizar a Palavra de Deus e o seu Espírito leva as pessoas ao respeito da liberdade do voto. É Jesus mesmo que fala: “Entre nós não deve ser assim: mas quem quiser ser o primeiro seja o último”.
O respeito da liberdade do outro, do pensamento do outro, da possibilidade do outro agir e pensar de uma forma diferente da minha, não é apenas uma conquista de vida espiritual, mas também é uma atitude democrática. A existência de uma oposição na cidade é uma bênção pelo andamento democrático. É absurdo querer que todo mundo pense do mesmo jeito. É absurdo, antidemocrático e desumano. O espírito democrático fortalece na pluralidade de opiniões, na comunhão da diversidade e não na uniformidade.

Somente cultivando esta diversidade, este espaço democrático da pluralidade de opiniões, poderemos evitar o risco do totalitarismo. De fato, na história os regimes totalitários- fascismo, nazismo, comunismo- se mantiveram ao poder com o controle das massas. O pensamento único não existe, a não ser na cabeça de alguém, que quer viver em paz e, para isso, obriga  todos a pensarem como ele.
 Os grandes derrotados destas eleições foram os pobres. Esquecidos nestes anos, foram  visitados de uma forma maciça nestes últimos três meses.“Ali vem o outro”. Parecia brincadeira, a procissão corriqueira dos candidatos caçando votos. Porque os candidatos não foram da mesma forma insistentes nas casas dos comerciantes, dos professores, dos moradores das ruas  do centro?
Mais uma vez o pobre foi considerado como simples mercadoria, possível a ser comprado, também a preço baixo. O pobre sabe que não tem voz nem vez: deve aceitar tudo. Forçado a escutar projetos mirabolantes até com palavras dificílimas (“Padre, quer dizer esta palavra, que o fulano de tal usou para dizer o que vai fazer?”), o pobre abre a porta pra todo mundo. O pobre é assim considerado como prostituta, que abre a porta de casa a todos aqueles que oferecerem dinheiro. Para considerar os pobres como filhos e filhas de Deus, com uma dignidade, Miguel Calmon, deve amadurecer muito. Ao meu ver o futuro de Miguel Calmon não está na frente, mas atrás.

Explico-me. Pessoalmente acredito muito no trabalho de base que está sendo desenvolvido nas comunidades de base, seja na zona rural que na sede.
Se tivermos a paciência de regar cada dia a semente  que está sendo plantada, sem dúvidas colheremos frutos. Os homens novos que Miguel Calmon precisa, ainda não chegaram, ainda não são formados. Mas chegarão. Os homens novos que Miguel Calmon precisa são aqueles que falam de Deus, agem e pensam como Ele. Nos comícios que assisti, vários candidatos falavam de Deus e de Maria e depois lançavam palavras de ódio contra os adversários. É esta a hipocrisia que deve ser tirada do meio. Isso é possível. Através de um caminho de conversão, de mudança de atitude, mudança que somente o Espírito do Senhor pode realizar. Por isto digo que o futuro de Miguel Calmon está por trás. Está naqueles adolescentes e jovens apaixonados pelo Senhor, que estão dedicando horas de joelho por Ele, meditando a sua Palavra.
O homem novo não nasce de um dia para o outro. É um longo caminho, silencioso, escondido. Até que um dia...  

Nenhum comentário:

Postar um comentário