sexta-feira, 5 de julho de 2019

O PROFETISMO DOS POBRES







ARQUIVO
 Miquel Calmon, dezembro 2003


Paolo Cugini

“Os pobres estarão sempre conosco”, nos diz Jesus. Também porque sempre existirão pessoas egoístas que farão de tudo para acumular para si, sem importar-se do sofrimento daqueles que não têm.

Como é que pessoas tornam-se tão insensíveis para não ouvirem o grito desesperado dos famintos, sedentos, excluídos? É simples: é só olhar do outro lado; é só pensar em si mesmo; é só encher a cabeça dos próprios problemas. Jesus curava os doentes, saciava os famintos e apontava para eles o caminho da vida. Isso quer dizer que se por um lado não basta dar de comer aos pobres sem oferecer um caminho de saída, é também verdade que a Palavra de Deus semeada no meio dos pobres precisa de um ato concreto de caridade. Esta é a tarefa da Igreja: anunciar a Palavra de Deus e, iluminada pelo Espírito Santo, encontrar formas concretas para ajudar os pobres, os excluídos a se levantarem. A Igreja é tal se a sua palavra convida os pobres a ficarem no centro dela, assim como fazia Jesus “disse ao homem da mão seca: levanta-se e fique no meio” (Mc. 3,3).

Na comunidade o pobre deveria sentir-se respeitado, acolhido e aceitado por aquele que é: filho, filha de Deus. Resgatar a dignidade dos pobres é a difícil tarefa da Igreja. É difícil porque hoje são os pobres mesmos a se desrespeitarem. Acostumados há séculos a serem pagos para não fazerem nada, o pobre percebe a dificuldade de um trabalho continuativo. Dezenas de anos de cestas básicas, bolsas escolas, projetos governamentais, que dão de graça comida e dinheiro, acostumaram os pobres na moleza pura. Aqueles que são chamados projetos sociais, na verdade são projetos que produzem massas anônimas, dependentes de tudo: são projetos imorais que ferem a dignidade das pessoas.

Porque o poder continua dessa forma, dando migalhas de graça aos pobres, deixando multidões de pessoas no total abandono?

A resposta está na dura realidade. Os que querem manter o poder precisam disso, precisam de multidões de miseráveis para si manter. É triste, mas é assim mesmo. Quem tem o poder, apesar das palavras mirabolantes, não tem nenhum interesse a resolver os problemas dos pobres de uma forma contundente. É melhor manter milhões de pessoas na total dependência, que ajudar as pessoas a se tornarem protagonistas da própria vida. Um pobre que pensa é um perigo: melhor mantê-lo na forma da dependência total, jogando algumas migalhas de vez em quando e ser, assim, agradecido. A Igreja é profética quando vive neste mundo do lado que Cristo escolheu: os pobres. É importante também dizer que esta escolha deve ser feita de uma forma inteligente e não superficial. Prudência e esperteza são virtudes evangélicas.

 Não adianta, então, levantar a bandeira dos excluídos só para aparecer.  A história da Igreja é infelizmente cheia dessas coisas. O caminho é lento e está nas mãos de Deus. Por aqueles que pelo amor a Cristo se deixaram atrair por esse caminho, que é o caminho da cruz, é suficiente saber que somos servos inúteis, mas servos de Cristo. 

Um comentário:

  1. Verdade, muitos deles vivem dentro dos tempo criando uma igreja que satisfaça seus ideais de vida, não vivência o real
    sentido do Evangelho pregado por Jesus Cristo,acreditar no Espírito Santo é tarefa fácil,porém rejeitado por parte dos humanos não humanizados...

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