Paolo Cugini
No panorama contemporâneo da
reflexão teológica, cresce a necessidade de uma teologia que saiba ouvir a
realidade, uma teologia de baixo capaz de captar a ação do Espírito Santo
dentro da história concreta. Essa
perspectiva se apresenta como uma alternativa viva à teologia ocidental de tipo
dedutivo, que frequentemente fórmula dogmas a partir de conceitos abstratos, correndo o
risco de perder o contato com a experiência das pessoas e com aquilo que o
Espírito Santo prepara no cotidiano. A
teologia de baixo nasce da experiência, do encontro com o outro, da escuta das
perguntas que emergem das dobras da história e das feridas da humanidade. Nessa abordagem, a reflexão não parte de
princípios universais abstratos, mas da concretude da vida, das histórias de
homens e mulheres que buscam sentido e salvação. “A realidade supera a ideia”,
diria o Papa Francisco, resgatando a exigência de não se fechar em esquemas
estáticos, mas de se deixar interpelar pela história.
Essa abertura à realidade não
é apenas método, mas também conteúdo: é aqui que o Espírito Santo age,
transforma, prepara novos caminhos. A
teologia de baixo se torna, assim, uma teologia contaminada, ou seja, capaz de
se deixar interpelar e modificar pelo contato com a vida real, pelas culturas,
pelas mudanças sociais, pelos sofrimentos e pelas esperanças dos povos. A teologia ocidental, sobretudo em sua forma
mais dedutiva, privilegiou frequentemente a formulação de dogmas a partir de
conceitos abstratos, por vezes se afastando do contexto histórico e da
realidade vivida. Esse método, que tem
suas raízes na filosofia grega e na escolástica medieval, certamente garantiu a
coerência e a profundidade do pensamento cristão, mas corre o risco de se
tornar autorreferencial. O perigo é o de uma teologia in vitro, que
analisa a fé como um objeto de laboratório, sem se deixar contaminar pela vida,
e, pior, se defendendo dela. Dessa
forma, a reflexão teológica pode perder sua força profética e seu dinamismo,
não conseguindo captar aquilo que o Espírito Santo está preparando na história
através das novidades, das crises, dos desafios e das transformações. Este é, talvez, um dos problemas mais
evidentes no debate teológico contemporâneo, no qual é visível a incapacidade
da teologia oficial e do Magistério eclesial de dialogar com os temas que a
vida cotidiana aponta como urgentes. Uma
teologia que se defende da vida, para proteger seus princípios absolutos,
considerados inegociáveis, está destinada a ficar de fora dos jogos da vida
real e, a longo prazo, a ser ignorada no debate que busca soluções para os
problemas existenciais.
Ao contrário, uma teologia
contaminada é uma teologia que aceita o risco do encontro, da encarnação, da
mistura. Não teme sujar as mãos na
história, de se confrontar com aquilo que é novo, diferente, imprevisto. É uma teologia que reconhece que o Espírito
Santo age não apenas nos locais institucionais ou nos dogmas consolidados, mas
também e, sobretudo, nas periferias, nas perguntas incômodas, nas mudanças
sociais, nas lutas por justiça. Essa perspectiva lembra o modelo bíblico, onde
Deus se revela na história concreta de um povo, através de acontecimentos
muitas vezes marcados pela dor e pela esperança. A teologia de baixo,
contaminada pela realidade, torna-se então um lugar de discernimento, de
escuta, de criatividade, capaz de gerar novas sínteses e novos caminhos para a
fé. É nos caminhos da história que o
teólogo deveria estar, para se colocar em escuta, e elaborar uma teologia com
cheiro de terra e água, de vida vivida e não de cheiro de livros e estantes. Em um mundo em rápida mudança, a teologia não
pode se contentar em repetir fórmulas abstratas, mas deve se colocar à escuta
da realidade, permitindo-se ser contaminada pela história e pelas perguntas que
emergem do cotidiano. Somente assim
poderá realmente captar a ação do Espírito Santo, que continua a preparar novos
caminhos para a Igreja e para a humanidade. A teologia de baixo convida a
deixar as margens seguras da abstração para navegar no mar aberto da vida, onde
o Espírito sopra e renova todas as coisas.
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