Paolo Cugini
Uma característica específica
do período cultural em que estamos imersos é que não é fácil fazer uma síntese.
Existem muitas variantes culturais do novo paradigma que rapidamente mudam de
horizonte ou desaparecem. Este é um aspeto novo. Até há algumas décadas, a
cultura ocidental possuía uma estrutura interna, chaves de leitura claras, uma
orientação de fundo partilhada. O mesmo pode ser dito das culturas de outros
povos, cada uma com uma história, uma tradição bem distinguível. O problema do
historiador, do investigador, do arqueólogo que estuda o passado, sobretudo nas
culturas milenares, consiste em localizar documentos e, uma vez encontrados,
poder interpretá-los.
Nas culturas dos séculos
passados, nota-se o esforço de transmitir o conhecimento adquirido,
especialmente de forma oral e, em alguns casos, por escrito ou através de
outros meios, como a pintura, o desenho, a arquitetura. Quando são encontrados
artefactos arqueológicos, o entusiasmo é sempre elevado, pois aumenta a
possibilidade de conhecer um pouco melhor aquele povo específico, as suas
tradições, os seus costumes. Hoje, o discurso mudou completamente. O problema
da atualidade é a infinidade de documentos que todos os dias são produzidos em
todo o mundo e colocados na rede. Existe uma disponibilidade de material
documental de todos os tipos como nunca antes se viu na história. Este aspeto,
em vez de simplificar as coisas, complica-as imensamente. Quem faz investigação
hoje deve aprender a navegar no oceano infinito de material documental sobre
cada tema específico que se pretenda estudar e aprofundar. Passou-se de um
material disponível escasso e muitas vezes em más condições, ao ponto de
dificultar a identificação do autor e a autenticidade do documento em questão,
mas que, ao mesmo tempo, permitia delimitar a pesquisa, para uma tal quantidade
de documentos que torna quase impossível ao investigador realizar um trabalho o
mais objetivo possível.
Há um dado que une esta impressionante quantidade de material documental proveniente de todas as partes do planeta e que caracteriza as culturas: o facto de que cada ramo do saber atual partilha o prefixo "pós". Poderíamos dizer que estamos na cultura do depois, com uma dupla atenção ao presente e à projeção para o futuro. Por um lado, a obsessão pela imagem, de como aparecemos perante os outros, impulsiona o comportamento no esforço diário de permanecer em sintonia com o que aparece no mercado. Ser considerado atual significa existir. Por outro lado, a insatisfação de viver num presente cheio de uma miríade de ideias e modos de ser, com os quais se torna difícil identificar-se e encontrar um caminho próprio, leva à busca pelo futuro. São inúmeros os projetos, as projeções em mundos distópicos, seja na literatura, seja nas artes, que permitem habitar idealmente outros mundos sem demasiadas preocupações com os dramas do presente.
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