quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

DAS COISAS SIMPLES DA VIDA

 




Paolo Cugini

 

Recebi nestes dias de uma minha amiga uma imagem que retrai um pai olhando seu filho pequeno enquanto trabalha a madeira. Chama atenção nesta imagem o olhar cheio de ternura do pai, que observa com atenção o próprio filho com o desejo de deixá-lo livre para que desenvolva as próprias potencialidades e, ao mesmo tempo, a preocupação para que não aconteça nada. É bonito também ver a criança que trabalha com interesse aquele pedaço de madeira, despreocupado com o mundo como deveria ser por cada criança, porque sabe no seu coração que seu pai está vigiando e não deixará que ninguém mexa com ele.  Olhando a imagem viajei com a mente pensando no mistério de Deus que se fez carne e viveu escondido numa família. São relações humanas que, no mistério da família de Nazareth, são ressaltadas como fundamentais no crescimento da pessoa humana. Se quisermos, então, nos tornarmos mais humanos, precisamos valorizar este dato simples e profundo que é constituído pelas relações humanas que acontecem no lar. Respirando a ternura dos nossos pais crescemos sadios, assimilando os valores da vida que se transmitem de uma forma natural, com gestos naturais e singelos. Proteger o próprio filho, desejar que ele cresça sadio, almejar para ele uma vida autêntica: só estes sentimentos naturais produzem por si mesmos toda uma seria de atitudes vitais que moldam positivamente a nossa história.

 

Nos momentos críticos da nossa vida de adultos muitas vezes quem fornece o material existencial para sairmos bem, não são as nossas forças físicas ou mentais, mas sim as nossas lembranças que levemos nos nossos corações. A lembrança daquele abraço cheio de amor e de sorriso de nossa mãe ou a lembrança da caricia do nosso pai, de um conselho paterno na hora certa, são as vitaminas espirituais que nos sustentam ao longo dos anos.  Passamos a vida enxugando os neurônios na busca de algo que possa nos realizar e amiúde não encontramos nada, porque andamos longe demais e esquecemos de olhar dentro de nós. Sobretudo esquecemos o dom vital dos nossos pais, da nossa família. Talvez achemos que isso é coisa do passado e que agora não serve mais. Pensamos que o nosso futuro é feito somente daquilo que nós mesmos conseguimos, tentando e nos libertar daquilo que foi.

 

A nossa vida é tecida com os fios sutis da ternura e do amor dos nossos pais, dos nossos irmãos, parentes. Crescemos nos alimentandos dos relacionamentos corriqueiros familiares. São estes elementos implícitos, não pensados por nós, que encontramos ali no momento do nascimento, que nos são oferecidos gratuitamente que mais influenciam a nossa estrutura pessoal no bem e no mal. Bem por nós se tivemos a sorte de nascer num lar sadio, com pessoas boas. A nossa vida não se decide pelas coisas conseguimos conquistar, mas sim com a qualidade dos nossos relacionamentos, da nossa humanidade. A que adianta ser não sei o que, mas depois totalmente incapazes de valorizar as pessoas que vivem perto de nós no trabalho, na família, no dia a dia. É nos pequenos gestos de atenção, de escuta do outro, de interesse pelas pessoas que estão ao nosso redor que conseguimos mudar nós mesmo e, de reflexo, levar um pouco de amor no mundo. Tudo isso não se aprende na escola o na rua, mas o se recebe de forma implícita e singela nas atitudes dos nossos pais no lar familiar. 

 

Um comentário:

  1. Realmente Padre.
    As primeiras lições que devemos receber, com certeza tem que ser da família. Principalmente lições de respeito, amor, harmonia , e principalmente de cuidados...

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