quarta-feira, 31 de julho de 2019

LEITURA POPULAR DA BÍBLIA



VERONA (ITALIA) 30 JULHO-4 AGOSTO 2019

UMA CAMINHADA ECO-MISTICA-POLITICA

Anna Maria Rizzante Gallazzi 

Síntese: Paolo Cugini

Mt 11,25 Oh Pai te agradeço pois revelou estas coisas aos pequenos e a escondeu aos sábios

A LPB a encontramos nos pequenos, os humildes. Para entender a Palavra precisamos nos coloca juntos dos pequenos. A LPB é um lugar, a terra dos pobres. Deus tomou parte, a parte dos pobres, que o ponto de partida da LPB. A consequência é o conflito, e quando acontece precisa decidir de que lado ficar. Deu por primeiro fez esta escolha. Deus esconde a verdade aos sábios. É deste jeito que Deus gosta.
Infelizmente a Igreja Católica trabalhou no meio dos sábios, esquecendo os pobres. Uma leitura popular é dizer de que lado nos colocamos.

O coração e a mente dependem aonde os pés pisam. Não pode existir uma espiritualidade que não seja militante. A espiritualidade deve nos ajudar a sermos militantes. A nossa ação depende aonde os nossos pés estão. Esta militância chega á ecologia, uma palavra que não existe na Bíblia. A ecologia é uma reflexão sobre o ambiente.

Ecologia: casa. De que casa estamos falando? Na Bíblia tem muitas casas com diferentes formas. Em casa nós estamos? Existe uma casa aonde a gente deve sair, como o Egito. A palavra farão quer dizer casa grande. Em que casa queremos entrar e contra quais casas queremos lutar? As vezes existe uma não casa, que é o corpo de uma pessoa.
Deus quer que as pessoas se incomodam para sentir de uma forma diferente.

História dos patriarcas. Descobrir aquilo que não foi dito, é muito interessante. No livro de Genesis capitulo 16 e 20 existe a história de Agar, que morava na tenda de Sara e Abrão. Estamos na época do nomadismo. Nesta tenda existem problemas. Sara não tem filhos. E então Abrão toma uma empregada, uma escrava, que podia ser utilizada para o dono e deita com ela para ter um filho. Depois disso Sara se queixa e Abrão entrega Agar á Sara. Agar no capitulo 16 que foge com a criança na barriga e no capitulo 20 a criança já tinha nascido. Porque esta diferença? Talvez porque estes capítulos vêm de tradições diferentes. As contradições na Bíblia devem nos atrair, pois é aí mesmo que tem um mistério que deve ser compreendido. Talvez esta Agar narra a história de um nós coletivo. Esta é uma leitura a partir dos empobrecidos, que muda profundamente a interpretação. Nunca saberemos a verdadeira história de Agar. Existe uma diferença entre história verdadeira e a verdade da história.
 Nunca saberemos da verdadeira história. Agar foi mandada embora e quem olha pra ela? O anjo do Senhor. É Agar que recebe a visita do Senhor no capitulo 16 e não Abrão. Este dato é muito importante. Agar recebe a mesma promessa de Abrão antes dele. Aqui temos o começo de uma dinastia. Não somos acostumados a parar sobre a figura de Agar, pois a nossa mentalidade machista e patriarcal vá logo a olhar a figura de Abrão. Deus escutou o grito de Agar, uma estrangeira. Só depois será a vez de Sara e Abraão. A memoria de Agar nunca foi cancelada, isso quer dizer que é muito forte. Deus revela as coisas aos pequenos. É Agar que dá o nome ao filho, é uma grande novidade.

Genesis capitulo 21: Agar é mandada embora, se perdeu e fica sem nada. Quando alguém chega ao fim algo acontece. Deus escuta o grito do filho de Agar. Deus não deixa ninguém à toa. Deus escuta o lamento do pobre. No capítulo 16 Agar dá o nome ao filho e no capitulo 21 Agar dá de beber ao filho. A mística da mão estendida é típica de Deus. Tomar conta de um poço era a atitude do chefe de uma tribo no deserto. Aqui, pelo contrário, é uma mulher a fazer isso. Além disso Agar indica a esposa para o filho. Também esta atitude era do homem.

sexta-feira, 5 de julho de 2019

O PROFETISMO DOS POBRES







ARQUIVO
 Miquel Calmon, dezembro 2003


Paolo Cugini

“Os pobres estarão sempre conosco”, nos diz Jesus. Também porque sempre existirão pessoas egoístas que farão de tudo para acumular para si, sem importar-se do sofrimento daqueles que não têm.

Como é que pessoas tornam-se tão insensíveis para não ouvirem o grito desesperado dos famintos, sedentos, excluídos? É simples: é só olhar do outro lado; é só pensar em si mesmo; é só encher a cabeça dos próprios problemas. Jesus curava os doentes, saciava os famintos e apontava para eles o caminho da vida. Isso quer dizer que se por um lado não basta dar de comer aos pobres sem oferecer um caminho de saída, é também verdade que a Palavra de Deus semeada no meio dos pobres precisa de um ato concreto de caridade. Esta é a tarefa da Igreja: anunciar a Palavra de Deus e, iluminada pelo Espírito Santo, encontrar formas concretas para ajudar os pobres, os excluídos a se levantarem. A Igreja é tal se a sua palavra convida os pobres a ficarem no centro dela, assim como fazia Jesus “disse ao homem da mão seca: levanta-se e fique no meio” (Mc. 3,3).

Na comunidade o pobre deveria sentir-se respeitado, acolhido e aceitado por aquele que é: filho, filha de Deus. Resgatar a dignidade dos pobres é a difícil tarefa da Igreja. É difícil porque hoje são os pobres mesmos a se desrespeitarem. Acostumados há séculos a serem pagos para não fazerem nada, o pobre percebe a dificuldade de um trabalho continuativo. Dezenas de anos de cestas básicas, bolsas escolas, projetos governamentais, que dão de graça comida e dinheiro, acostumaram os pobres na moleza pura. Aqueles que são chamados projetos sociais, na verdade são projetos que produzem massas anônimas, dependentes de tudo: são projetos imorais que ferem a dignidade das pessoas.

Porque o poder continua dessa forma, dando migalhas de graça aos pobres, deixando multidões de pessoas no total abandono?

A resposta está na dura realidade. Os que querem manter o poder precisam disso, precisam de multidões de miseráveis para si manter. É triste, mas é assim mesmo. Quem tem o poder, apesar das palavras mirabolantes, não tem nenhum interesse a resolver os problemas dos pobres de uma forma contundente. É melhor manter milhões de pessoas na total dependência, que ajudar as pessoas a se tornarem protagonistas da própria vida. Um pobre que pensa é um perigo: melhor mantê-lo na forma da dependência total, jogando algumas migalhas de vez em quando e ser, assim, agradecido. A Igreja é profética quando vive neste mundo do lado que Cristo escolheu: os pobres. É importante também dizer que esta escolha deve ser feita de uma forma inteligente e não superficial. Prudência e esperteza são virtudes evangélicas.

 Não adianta, então, levantar a bandeira dos excluídos só para aparecer.  A história da Igreja é infelizmente cheia dessas coisas. O caminho é lento e está nas mãos de Deus. Por aqueles que pelo amor a Cristo se deixaram atrair por esse caminho, que é o caminho da cruz, é suficiente saber que somos servos inúteis, mas servos de Cristo.