Paolo Cugini
A crise do sistema democrático foi sem dúvida o sinal
mais claro que o "Declínio do Ocidente" estava se realizando. De
fato, em poucos anos as jovens democracias que se tinham formado depois da
Primeira Guerra Mundial, foram progressivamente derrotadas pelos regimes de
tipo autoritário. Foi o caso da Polônia do Marechal Pilsodsky, da Turquia de
Mustafá Kemal, da Grécia do General Metaxas, da Iugoslávia do Rei Alessandro I,
da Ditadura Comunista de Bela Kun na Hungria, da Áustria do Monsenhor Seipel e
do Chanceler Dollfus.
Não fugiram à mesma experiência autoritária a Espanha
com a Ditadura Militar de Primo de Rivera e do Rei Alfonso XIII e o Portugal de
Salazar.
Os países da Europa Setentrional e Ocidental, quer
dizer as monarquias escandinavas, países baixos, Bélgica, Inglaterra, França
também, se em seguida "fugiram ao contágio das ditaduras não foram, porém,
prevenidos totalmente contra os seus germes. A tentação os assaltou" .
Tal tentação foi testemunhada pela crescente formação
de grupos e movimentos políticos que se inspiravam nos modelos do fascismo e do
comunismo, que tentaram em várias circunstâncias derrubar as democracias. A
França foi sem dúvida o lugar geopolítico onde esta tensão entre forças
institucionais não foi maiormente vivida. É só lembrar a movimentada
experiência da Action Française de Maurras que acabou em 1926 com a condenação
Pontifícia e, do outro lado, a crescente influência do partido comunista francês
que teve o maior respaldo na experiência do Fronte Popular em 1936.
Se nestes Estados "se constatava a incapacidade
dos regimes democráticos de enfrentar o problema da governabilidade, na forma
nova que derivava da situação política e social pós-bélica", do outro
lado algumas nações iam experimentando alguns modelos políticos e
institucionais. A ruptura dos equilíbrios políticos provocados pela Primeira
Guerra Mundial limpou o campo da entrada política do fascismo de Mussolini na
Itália. A marcha em Roma em outubro de 1923, forçou o Rei Vittorio Emanuele III
a entregar para Mussolini o cargo para a formação do governo e a declarar assim
o começo da Ditadura Fascista. No mesmo período, na Alemanha atormentada por
causa de problemas internos devidos à queda da moeda, e dos problemas de
política externa provocados da ocupação da rica zona industrial da Ruhr da
parte da França de Poincaré, , Hitler encontrou espaço em novembro de 1923 para
tentar, sem sucesso, um Golpe de Estado (Putsch da cervejaria).
Rica de tensões internas era também a situação da
União Soviética. O partido Bolchevico, promotor da Revolução de outubro de
1917, se tornou progressivamente o centro e o ponto referencial do Novo Estado.
A identificação Partido-Estado se fez sempre mais estreita e assumiu formas
novas com a entrada de Stalin no poder em 1926. O objetivo de "construção
do socialismo em um só país", amadurecido depois do falimento do
internacionalismo proletário, que se fazia porta voz de uma Revolução Socialista
mundial, conduziu o Partido Comunista a dirigir todos os esforços para fazer da
União Soviética uma nação economicamente auto-suficiente e competitiva. O
choque do partido com as massas camponesas, especialmente com os Kulaki,
incapazes de entrar nos rígidos esquemas dos planos qüinqüenais, foi imediato e
violento. Precisaram muitos esforços, pagos, sobretudo pela população, para que
os vários planos econômicos pudessem alcançar os níveis desejados.
Fascismo e Comunismo se tornaram modelo institucional
sempre mais atraente, sobretudo, pelo jeito enérgico e forte que, por causa de
uma situação de confusão geral, era acolhido por uma massa sempre mais
desnorteada e necessitada de pontos referenciais.
O 24 de novembro de 1929, que passou a história como
"a 5ª feira preta" a Bolsa de New York não conseguiu vender 70
milhões de ações, provocando a perda de 18 bilhões de dólares. Foi o começo de
uma crise que, em pouco tempo, botou de joelho a América e, em poucos anos,
arrasou as economias mais fortes do continente europeu, ou seja, da Alemanha,
da Inglaterra e da França. As nações golpeadas pela crise econômica tiveram que
enfrentar problemas ligados ao desemprego, ao aumento da inflação, derrotadas
de bancos, fechamento de indústrias. Os governos, tomados de surpresa, não
conseguiam a encontrar medidas capazes de enfrentar, de imediato, uma situação
tão catastrófica. Em poucos anos, o equilíbrio econômico internacional estava
totalmente desmantelado. Sentimentos de medo e desconfiança perpassaram todos
os setores do mundo político e social. O sistema democrático, que já tinha
entrado em crise nos anos ’20, no começo dos anos ’30 recebeu um golpe
duríssimo: "Para todos a democracia Parlamentar — como tinha observado
Loubet de Bayle — tinha se tornado sinônimo de mentira, fraqueza, mediocridade,
baixaria".
Diante do avanço das forças autoritárias e totalitárias, as velhas democracias de Inglaterra e França, não souberam reagir com estratégias políticas adequadas. Ambas, de fato, com razões diferentes, se fizeram promotoras de políticas protecionistas renunciando a intervenções enérgicas contra os sonhos expansionísticos da Alemanha, com medo de desencadear uma Segunda Guerra Mundial. Na Inglaterra tal política encontrava um vasto consentimento, também porque assegurava uma boa capacidade da economia. Pela França, a situação era mais complexa. Encontrava-se entre fogos contrastantes de forças políticas opostas. O mal-estar social devido à estagnação econômica que marcou um declínio da produção de 20% entre 1930 e 1938 manifestou-se no primeiro momento, através dos movimentos de direita e, entre eles, a Action Française e a Croix de Feu. O cume se teve com a manifestação antiparlamentar, que as direitas organizaram no dia 06 de fevereiro 1934 em Paris, mas que fracassou por causa da falta de apoio da opinião pública. Neste clima de desordem política, nasceu a união das esquerdas que se concretizou na experiência do Fronte Popular do 1936. O breve governo do socialista Léon Blum, que promoveu importantes inovações no campo social, foi dilacerado por causa de lutas internas entre comunistas e socialistas. A crise das grandes democracias preparava lentamente o terreno para a Segunda Guerra Mundial.
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