sexta-feira, 26 de agosto de 2022

MISSIONÁRIO

 





Paolo Cugini

Você não se torna um missionário porque vai em missão. É algo que uma pessoa deve ter dentro de si como baptizado, como discípulo de Jesus, que quer imitá-lo, quer seguir o seu exemplo. E então com entusiasmo tomamos as ruas, as casas para encontrar as pessoas onde as pessoas vivem e ali sem mediação, sem subterfúgios, o Evangelho de Jesus é anunciado E não precisa de estruturas, de coisas muito sofisticadas. Ele precisa simplesmente de um coração que o acolha e que ao acolhê-lo se torne testemunha, portador, anunciador.

Jesus não precisa de sofisticação: é o engano do mundo que complica tudo e sobretudo que tenta fazer tudo à mercê dos ricos, daqueles que não aceitam as coisas, mas as compram. Jesus, por outro lado, não o compramos. Talvez, alguém pense que está comprando, mas a realidade é diferente. Também porque Jesus foge e se esconde: esconde-se onde a humanidade não o procura, ou seja, nos pobres, nos sofredores, nos excluídos, nos marginalizados, nos sem-teto e sem terra. Nesta perspectiva missionária, missionário não é apenas aquele que anuncia o Evangelho à humanidade, mas ao mesmo tempo está em constante busca do Senhor. Porque a verdade é que ninguém possui o Senhor, também porque o Senhor não se deixa possuir por ninguém, e há uma necessidade contínua de buscá-lo. E então, enquanto o missionário anuncia o Senhor, ele o encontra nos pobres que recebem o anúncio, ele o encontra toda vez que tenta sair: fora das igrejas, dos oratórios, dos esquemas pré-estabelecidos; para um encontro mais verdadeiro e autêntico, porque é pobre e despojado de tudo. Um missionário é aquele que, como Cristo, está em busca de homem, mulher e vai procurá-lo para entrar em sua casa, procurar uma aproximação, um relacionamento. De fato, o missionário é antes de tudo um homem, uma mulher de relacionamento, que busca a relação, que ama conhecer os outros e se deixar conhecer.

É claro que o espírito missionário envolve um cansaço, um retorno. Isso significa que, assim como há tempo para sair, também há tempo para entrar. E é o momento da oração, da reflexão, da volta diante do Pai. É o momento, também, de acolher o outro. A missão, para quem a vive, envolve também uma mudança. Toda aproximação, se for autêntica, implica uma mudança. Há algo que deve morrer para dar lugar ao outro, à novidade do outro. E o outro é o irmão, a irmã a quem me aproximei para levar um anúncio de salvação que é o conhecimento do Senhor. E neste encontro descobrimos que há algo que não sabíamos; descobrimos que enquanto carregamos o Senhor, Ele mesmo nos espera no irmão, na irmã. Por isso, há sempre uma morte no encontro do anúncio, porque o novo mata o passado, o velho, para dar lugar ao novo. Não há ressurreição sem morte (Diário, Miguel Calmon, capela da casa  no bairro das Populars,  2000).