sábado, 11 de janeiro de 2025

Caminhar mancando




 Paolo Cugini


Nos últimos dias fui levado a refletir sobre uma frase de São Tomás de Aquino que encontrei no Ofício de Leituras, que dizia assim:

 “É melhor mancar na estrada do que caminhar em passo acelerado. Aqueles que mancam na estrada, mesmo que façam pouco progresso, estão, no entanto, chegando ao fim. Por outro lado, quem se desvia, quanto mais rápido corre, mais se afasta do seu objetivo”.

Enquanto lia atentamente este texto de Santo Tomás de Aquino, veio-me à mente outro do sociólogo polaco Zygmunt Bauman. Num de seus famosos livros – Amor Liquido - Bauman argumentou que uma característica da era atual, chamada de pós-moderna, é a velocidade da cidade, a rapidez das mudanças, o que exige uma notável capacidade de mobilidade nas pessoas e a consequente capacidade de não identificar-se com qualquer coisa. Para poder acompanhar a diversidade de situações e as novas possibilidades que a pós-modernidade apresenta, segundo Bauman é preciso ser “líquido”, não nos prendermos muito a algo que pode então nos impedir de entrar em novos situações. O homem e a mulher contemporâneos, ensina Bauman, são aqueles que aprenderam a mudar continuamente de caminho, porque parece que o importante não é o destino, mas a jornada.  Ao ler estas afirmações alguns podem ficar chocados, mas é exatamente este estilo de vida que a cultura atual propõe em diferentes níveis de complexidade e que assimilamos.

Talvez o significado de uma jornada espiritual deveria ser ajudar-nos a aceitar de caminhar mancando na estrada em que estamos e vencer a tentação de correr por outras estradas. Mancar na estrada significa aprender a aceitar-nos como somos, acolhendo e integrando os nossos limites e as nossas incapacidades na nossa visão do mundo. Jesus subiu mancando o Calvário, sem dúvida não por causa dos seus próprios pecados, já que não tinha nenhum, mas tomando sobre si os nossos. Essa lenta e sangrenta jornada até o Monte Calvário ensina muitas coisas. 

Em primeiro lugar, dissipa uma opinião tipicamente pós-moderna que diz que a vida deve ser feita com pressa, que é preciso correr e que é preciso chegar sempre antes dos outros. Em segundo lugar, o caminho manco de Cristo no Calvário ensina que no caminho que percorremos devemos olhar para a meta que é Cristo e que não é verdade que todos os meios possíveis possam ser usados para alcançá-la. As quedas de Jesus ao subir o Calvário nos ensinam que o primeiro meio importante para alcançar a meta somos nós. O caminho atrás do Senhor manco, ajuda-nos a compreender-nos, a descobrir-nos, a compreender quem somos e assim a libertar-nos finalmente daquelas máscaras que colocamos para parecermos diferentes, mais rápidos, quase iguais aos outros. Jesus ensanguentado na cruz nos ensina que não é importante no caminho da vida parecer limpo, perfeito, penteado, mas mostrar-nos como somos. O importante não é o que parecemos aos outros, mas o que somos. O importante não é a aparência, mas a autenticidade, não é mancar, mas chegar.

Parece-me que esta forma de estar no mundo, isto é, como pessoas autênticas, revela a importância de um caminho espiritual sério. Quem não decide levar a sério a vida espiritual perde uma oportunidade de ouro de se conhecer melhor e, portanto, de poder viver em paz consigo mesmo e com os outros. E só assim descobriremos que a verdadeira felicidade não está em correr por muitos caminhos, mas em descobrir a beleza do próprio caminho, não está em ir rápido, mas em caminhar devagar, cuidando das próprias feridas. Nesta lenta jornada pela estrada da vida , aprendendo a curar nossas feridas para alcançar a meta, descobriremos que ao nosso lado, na mesma estrada ,  existe alguém que está mancando e precisa ser levantado para continuar andando. São os dons que a beleza da lentidão mostra ao longo do caminho e que jamais poderíamos descobrir na agonia da velocidade.


3 comentários:

  1. Olá!
    Esses dias tenho refletido muito sobre a vida e muitas escolhas que fiz ao longo desses anos.
    Sua reflexão me deu muito para pensar! Obrigada padre pela partilha!

    ResponderExcluir
  2. Augusto Cury em uma das suas colocações nós diz:"Temos que aprender a observar o curso da água,nos obstáculos criemo.s adaptações"
    A sociedade requer pessoas adaptáveis,se observarmos ciclo da origem da vida,a mutação garante a espécie.
    Jesus foi aquele homem de luz mostrando caminhos que levam a vida plena.
    A espiritualidade dá condição menos fadante tornado a liquidez caminhos longo água passa até chegar no oceano.





    ResponderExcluir