sábado, 3 de maio de 2025

CONTAMINAÇÕES TEOLOGICAS

 





Paolo Cugini


As palavras de Kepler vêm à mente quando, em seus diários, ele descreve sua dificuldade, que terminou em desespero, ao tentar aplicar os dados matemáticos de Tycho Brahe para descrever a rotação da Terra em torno do Sol. Ele não podia, como ele mesmo admitiu, porque tinha em sua mente a ideia aristotélica de perfeição, que era identificada com a figura geométrica do círculo. Foi graças a uma intuição, depois de alguns anos de trabalho duro, que ele pensou em uma nova figura geométrica: a elipse. A partir daquele momento, os dados matemáticos começaram a se encaixar quase perfeitamente. Além disso, Thomas Khun nos disse que os paradigmas culturais não só exigem longos períodos para serem estruturados, mas também para mudar e abrir espaço para novos modelos interpretativos. Coletar os dados que a ciência nos fornece hoje, permanecendo abertos a novas possibilidades e, sobretudo, não as considerando como definitivas, é a atitude epistemológica fundamental para não cair na armadilha ideológica. O mundo em expansão que a ciência nos oferece, como vimos, exige a disposição de permanecermos abertos a coisas novas, e não de nos fecharmos em estruturas ideológicas de pensamento, como aconteceu e continua acontecendo. Abandonar as confortáveis instalações dogmáticas do pensamento que, com o tempo, tendem a se tornar rígidas, significa apreender os aspectos positivos do mundo interconectado. Há uma primeira indicação metodológica que vale a pena considerar, que é a capacidade de trabalhar em conjunto, de criar redes de competências. É uma indicação de que a Igreja, acostumada a tomar decisões sozinha, a gerir o conhecimento como algo privado, a ser controlada como um monopólio. O caminho sinodal iniciado pelo Papa Francisco, que retoma o estilo dialógico de Jesus posto em prática durante o Concílio Vaticano II, está na linha do mundo interconectado, que exige a disposição de caminhar juntos, de valorizar as competências de todos, na consciência de que a verdade, antes de ser um conteúdo a possuir e defender, é um dom que encontramos no caminho, especialmente quando com humildade nos colocamos ao lado dos outros nessa busca.

Por estas razões, o conceito de contaminação parece-me importante, para ser usado no contexto teológico e eclesiológico. Primeiro, teológico. Reconhecer que o Espírito está presente na história e sopra onde quer, significa colocar-se na humilde atitude de escuta. Só assim é possível captar o dom repentino de uma verdade que vem de outro lugar, que não é fruto da nossa cultura e da nossa elaboração conceitual. Esta é, na minha opinião, a mudança paradigmática que a teologia é chamada a fazer: não se apressar em elaborar doutrinas fechadas, mas esperar pacientemente por aqueles fragmentos de verdade que o Espírito despertou e está despertando em outras culturas. A disponibilidade para se surpreender com as manifestações do Mistério exige atenção ao tempo presente e, nessa perspectiva, o método fenomenológico pode auxiliar na pesquisa. Trata-se, então, de aprender a pensar a verdade não como um conceito metafísico, estruturado em dinâmicas lógicas rígidas, que a tornam impermeável a qualquer contato cultural e assim provocam tensões, mal-entendidos, guerras. O novo contexto cultural que recupera positivamente os dados da ciência, nos ajuda a pensar a verdade como um "campo" aberto às novidades que um mundo em expansão produz, sempre pronto a integrar o discurso que acolhe as contaminações que vêm de todas as direções. A verdade como novidade contínua que encontramos no caminho da vida, reconhecível pelos significados encontrados na semente do Evangelho: amor, justiça, bem, paz.

Em segundo lugar, o uso do conceito de contaminação no campo eclesiológico não deve ser considerado arriscado. Acredito que, justamente nesse nível, a mudança de paradigma não só é mais fácil de ser alcançada, como já está em andamento. É em pequenas comunidades que ocorrem encontros não planejados com elementos que vêm de diferentes mundos religiosos, como canções, ritos, símbolos, que a hierarquia não pode controlar, graças a Deus. É desnecessário, portanto, citar aqueles raros exemplos de contaminação religiosa que ocorreram ao longo dos séculos, como o caso de Matteo Ricci que, justamente por isso, foi combatido pela Igreja. Nesse caminho, a experiência eclesial amazônica pode ser uma espécie de laboratório, considerando a grande riqueza cultural e religiosa que advém de séculos de experiência. Não é por acaso que a Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) vem estudando há alguns anos o desenvolvimento de um rito amazônico, também como resultado das reflexões surgidas no Sínodo sobre a Amazônia. É no cotidiano que é possível descobrir harmonias de conteúdos que vêm de outros caminhos e que têm o sabor do Evangelho. É nas comunidades que as contaminações ocorrem espontaneamente: basta deixá-las acontecer.


2 comentários:

  1. Acredito que as coisas devem acontecer naturalmente, de acordo com a vontade de Deus e a realidade de cada ciltura.

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  2. Grandioso. Uma reflexão necessária e urgente. Dá voz a verdades tantas vezes ignoradas, esquecidas, suplantada é permitir o espírito se manifestar. Precisamos ter coragem de encarar outras verdades.

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