quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Fé e Vida





ARQUIVO
[Miguel Calmon, 2001]

Paolo Cugini


Se a visão cristã leva a olhar para o “novo céu e a nova terra” (Ap 21,1) isso não enfraquece, antes estimula o nosso sentido de responsabilidade pela terra presente (João Paulo II). São palavras do Papa que salientam a ligação entre fé e vida, amor a Deus, amor e fidelidade a terra. São palavras que apelam à nossa responsabilidade para com a criação. Isto quer dizer que, quanto mais amamos a Deus e buscamos a sua proteção, tanto mais esta busca deveria nos levar para um compromisso mais firme para com a justiça, a paz, a saúde e em uma palavra: a cidadania.

 Nem precisaria falar disso porque em Jesus encontramos o exemplo. De fato, o Filho de Deus comprometeu-se com a vida, a justiça, a exclusão social. A compaixão que ele manifestou em várias ocasiões para com os mais pobres que, a seu ver, eram “como ovelhas sem pastor” era fruto do relacionamento íntimo que Jesus tinha com seu Pai.

Estou aqui escrevendo sobre isso porque entre nós católicos espalhou-se uma doença espiritual que se manifesta em duas formas opostas, mas que brota da mesma raiz: a separação entre fé e vida. De fato, de um lado encontramos aqueles que acham que a vida de fé se resolve dentro das paredes da igreja, e aí vem o esforço para uma liturgia super organizada, esbanjando dinheiro com flores, cortinas, acessórios litúrgicos.  Quanto mais se gasta nestas coisas, tanto mais Deus e os santos gostam (assim acham eles).

 De outro lado encontramos os católicos comprometidos com as causas sociais: a terra, a água, as lutas políticas. Com estes católicos é melhor não falar de sacramentos, de Eucaristia, menos ainda de liturgia: arregalam os olhos como se tivesse o bicho da meia noite na frente.

Se quisermos curar esta doença espiritual, o melhor remédio é olharmos com mais intensidade o rosto de Cristo. Jamais encontraremos nele os sintomas desta doença, que afeta milhares de católicos no mundo todo. Em Jesus poderemos contemplar o Cordeiro de Deus que, enquanto celebra pela última vez o rito pascal com os seus discípulos, profetiza a própria morte como o coroamento de uma vida totalmente doada. Em Jesus fé e vida nunca são separadas.


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