quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

NATAL 2021

 


 

 Paolo Cugini

 

Contemplando as páginas dos Evangelhos que narram os acontecimentos que marcaram o nascimento de Jesus, as escolhas de Deus são marcantes. Há um caminho específico e, ao mesmo tempo, surpreendente, que se delineia nos Evangelhos, um caminho que somos convidados a seguir se quisermos conhecer o Senhor da vida. O que chama a atenção são as contradições deixadas ao longo do caminho, os contrastes marcantes em relação à maneira comum de pensar sobre Deus.

 Ele nasce excluído entre os excluídos. Na verdade, não havia espaço entre as casas de Belém para acolher os dois peregrinos de Nazaré, Maria e José. Havia espaço para todos, mas não para eles. No entanto, era visível que Maria estava esperando um bebê e precisava de atenção e hospitalidade. Jesus, antes mesmo de nascer, carrega os sinais da rejeição, dos indesejados. 

Pobres entre os pobres. Jesus foi colocado em uma manjedoura. Esse aspecto do nascimento de Jesus também nos faz refletir muito. Os muitos cristos que dormem todas as noites sob as arcadas no frio vêm à mente: Jesus está sem dúvida entre eles. 

Migrante entre os migrantes. Com poucos anos de vida, Maria, José e o menino Jesus foram forçados a emigrar para o Egito, devido à loucura de um rei louco. Jesus experimenta a humilhação de ser indesejado em sua própria terra, exilado, migrante, desenraizado. Ele carrega na alma as feridas que uma experiência como essa pode causar, deixando uma marca profunda, que exige muito amor para ser curada. Nos primeiros anos de vida, Jesus vive a pobreza radical que caracteriza toda a humanidade que vive à margem da história, nas favelas, nas fronteiras em busca de um lugar acolhedor, humilhado e rejeitado porque diferente, maltratado porque sem nenhuma propriedade. 

Este estranho nascimento, com um caminho tão diferente do que se poderia pensar, não é por acaso, mas é um misterio e, ao mesmo tempo, muito claro, indício para todos e todas aqueles que procuram um sentido para a vida.

 

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

A CRISTANDADE TERMINA E APARECE A ALEGRIA DO EVANGELHO

 



Paolo Cugini

Há um sentimento de vazio espiritual que percebe-se na vida das comunidades cristãs. É difícil mudar o paradigma. É difícil viver a fé não apenas em clima de minoridade, mas também é difícil pensar em si mesmo de forma diferente. Viemos de séculos e séculos em que todos eram cristãos e o cristianismo era a forma de sociedade. Missas, sacramentos, rituais, festas litúrgicas moldaram a estrutura social do Ocidente. Agora que todo este mundo entrou em colapso, ninguém se sente mais obrigado a rituais cristãos.

Na era da Cristandade, não participar da vida religiosa significava condenação eterna, o inferno no futuro. Agora que o envelope sacro se foi, todos os medos desapareceram. O que nos resta? O fim da Cristandade coincide com o fim da religião como forma sacra, que molda a sociedade. O cristianismo transmitia uma mensagem que fazia coincidir a aparência social com o pertencimento à religião, à igreja. O problema agora é viver a fé promovida pelo Evangelho sem fingir que a sociedade se preocupa. Esta é uma fase delicada porque, apesar do fim da era cristã, toda uma série de rituais e elementos sacrais continuam presentes na sociedade, que durante séculos identificaram o pertencimento à vida social e que permaneceram no tecido social, apesar de não saberem, e não entender seu significado. Muitos pais, apesar de não acreditarem no Evangelho e não frequentarem uma igreja, recorrem a ela para batizar seus filhos ou pedir para participar do caminho dos sacramentos, causando perda de tempo, tensão sem fim. Aproximamo-nos da igreja como se fosse qualquer loja, na qual qualquer pessoa tem o direito de comprar o que quiser. É sem dúvida uma fase de transição que, como tal, estará destinada a desaparecer. Fase de transição que é portadora de tensões entre quem dirige a vida religiosa e que nem sempre tem consciência da transição que vivemos, e quem vive a religião apenas como pertencimento social.

Então, chegará o tempo em que poderemos viver a proposta de Jesus em pequenos grupos, entre aqueles que aceitaram a mensagem do Evangelho e fizeram escolhas a respeito, sem ter que prestar contas de uma sociedade que, por agora, vai ignorar o que se tornou uma minoria e não pretende mais afetar a sociedade, pelo menos de fora. Seremos como o fermento na massa - finalmente! -, livre da tirania da aparência e do desempenho a todo custo. Estaremos nas casas, também porque, entretanto, as igrejas e catedrais já terão sido convertidas em estruturas de uso social e coletivo. E é na dimensão familiar do lar que poderemos saborear o sabor da diversidade da vida, das opções, que só o Evangelho pode oferecer, sem a preocupação de ter que provar alguma coisa. Nessa altura, teremos nos libertado das catedrais, das pesadas estruturas eclesiais, das procissões, das estátuas, dos vestidos litúrgicos, de todos aqueles ornamentos resultantes da corrida desenfreada que a Igreja fez durante séculos no poder, pagando um preço altíssimo. Não veremos mais nas ruas aqueals personagens esquisitas vestidas de preto, símbolo da morte prematura, quando deveriam ter vestido as roupas coloridas da alegria. Haverá paz em nossos corações crendo no Evangelho, em Jesus Cristo e, finalmente, seremos libertados dessas doutrinas construídas com o propósito de valer algo no mundo.