Análise crítica da teologia dogmática e proposta de um
novo modo de pensamento teológico
Paolo Cugini
No panorama contemporâneo, a
reflexão teológica encontra-se numa encruzilhada epistemológica crucial. Se a
teologia dogmática pode ser definida como "sólida", isto é, fundada
em princípios e sistemas estáveis e muitas vezes imutáveis, o seu oposto
natural é a "liquidez". Esta metáfora, emprestada do léxico das
ciências sociais, sugere uma teologia capaz de se adaptar, fluir e renovar em
relação às necessidades históricas, culturais e sociais do presente.
A solidez da teologia
tradicional, embora assegure coerência e identidade doutrinal, muitas vezes
gera rigidezes que dificultam o diálogo com as complexidades dos acontecimentos
atuais. Essa rigidez epistêmica, de fato, torna difícil atender às novas demandas
da sociedade, gerando desorientação e desconfiança nas possibilidades de
reforma. Uma estrutura sólida, se incapaz de mudança, corre o risco de ruir
diante de desafios que não consegue compreender ou resolver, a ponto de
desaparecer gradualmente do horizonte cultural.
Nesse contexto, surge a
necessidade de uma nova teologia, capaz de abordar os problemas à medida que
surgem, sem se tornar rígida diante da diversidade ou da novidade. A teologia
líquida, nessa perspectiva, não se limita a tolerar as diferenças, mas as acolhe
como uma oportunidade de crescimento, escuta e diálogo. Ela encara a
pluralidade de opiniões não como uma ameaça, mas como um estímulo construtivo
que pode renovar a própria doutrina.
A teologia líquida
distingue-se, portanto, pela sua capacidade de dar e receber, de acolher as
contribuições de outras teologias sem receio de contaminação. Desta forma,
incorpora um modelo eclesial mais inclusivo e misericordioso, em nítido
contraste com a rigidez doutrinal que, ao longo dos séculos, por vezes semeou
violência e intransigência. As páginas sombrias da história, da
"santa" Inquisição à caça às bruxas, testemunham como a teologia
rígida, aliada ao poder político, impôs à força uma fé uniforme, obliterando a
diversidade e a liberdade de consciência.
Em conclusão, a teologia
líquida oferece um paradigma alternativo, capaz de superar as rigidezes do
passado e promover um pensamento teológico mais aberto e dialógico, atento aos
desafios do presente. Somente por meio dessa transformação epistemológica será
possível restaurar a teologia à sua função original: como um espaço de
pesquisa, debate e experiência espiritual autêntica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário