sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Pastoral da juventude: algumas reflexões

ARQUIVO (CAMINHAR JUNTOS-Miguel Camon-BA, 2004)








Paolo Cugini

Que o objetivo da Pastoral da Juventude seja anunciar o Evangelho aos jovens, acho que ninguém possa questionar. O problema é no método, ou seja, como é que se evangeliza a juventude hoje. Esta pergunta revela que não podemos anunciar o evangelho a todos os jovens que encontramos do mesmo jeito. Com os jovens que vivem na zona rural, por exemplo, precisa de um trabalho diferente daquele  que se faz com os  que vivem na cidade.

O evangelho exige ser encarnado, inculturado, ou seja, deve ter o mesmo cheiro,  o mesmo sabor do povo que se pretende evangelizar. Em todas as paróquias da nossa Diocese de Ruy Barbosa encontram-se jovens nos bairros, nas escolas, no campo, jovens de classe média e jovens de classe pobre (a maioria); jovens brancos, pretos, pardos, índios, ciganos. É antievangélico apresentar o mesmo estilo, o mesmo jeito, a mesma proposta a toda esta realidade diversificada de jovens. A maneira de anunciar o evangelho deve ser inventada dia-a-dia com os jovens que participam daquele grupo, naquele lugar específico.

O coordenador de um grupo jovem é craque quando sabe fazer isto. É claro que para ter esta capacidade criativa, deve ter dentro de si o desejo de anunciar Jesus aos jovens e, por fazer isto deve ter encontrado Cristo na própria vida. Jesus Cristo, de fato, aconselhava, orientava os seus discípulos e, sobretudo, ajudava a enxergar a realidade com olhos diferentes. Jesus comunicava aos discípulos a própria experiência pessoal de Deus.

 É nessa altura que convido os coordenadores dos próprios jovens a participarem da proposta formativa da paróquia feita de encontros, retiros, estudos bíblicos e, sobretudo a Santa Missa de domingo.
Quem não fixa os olhos em Cristo, quem não ama a Cristo, ao em vez de levar os jovens a Ele, os leva por outros caminhos. Se não tivermos em nós um coração cheio de amor de Cristo iremos explorar os próprios jovens para satisfazer as nossas misérias humanas. E assim o grupo ao em vez de ficar aberto aos outros jovens e inventar eventos para chamar e atrair outros jovens no grupo, este mesmo se transforma numa panelinha de poucos amiguinhos e bem fechadinhos. Que tristeza!

Segundo elemento importante na caminhada de evangelização da juventude é a comunidade. Não existe possibilidade nenhuma de ser grupo jovem e não ser pessoas bem engajadas na comunidade, na Igreja. De fato, se o objetivo da pastoral da juventude é, como vimos, anunciar Jesus, então Cristo encontra-se presente no seu corpo que é a Igreja.

Nos grupos jovens enfrentam-se os problemas da realidade corriqueira tentando  resolvê-los a luz da fé, do evangelho, na vivência da comunidade. Isto quer dizer que a vida da comunidade torna-se o ambiente vital do grupo jovem, pois é na comunidade que encontra o clima espiritual e existencial para crescer. Quanto mais a comunidade é organizada e ativa tanto mais se torna ponto referencial para os jovens. Em Miguel Calmon, (isto acontece em várias comunidades) os grupos jovens mais fortes e ativos encontram-se nas comunidades mais organizadas,  vivas e ativas.



terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

“Entre nós não deve ser assim” Reflexão sobre as recentes eleições municipais


ARQUIVO


Paolo Cugini

As eleições municipais terminaram; graças a Deus! Ninguém   estava mais agüentando a confusão, os carros de som, as músicas (de péssimas qualidade) dos candidatos. Nas próximas eleições iremos exigir mais atenção contra a poluição sonora. Foi muita falta de respeito, muita falta de educação cívica. Os cidadãos têm direito para serem respeitados, também no período eleitoral.

Nesse contexto o Movimento Fé e Política fez a própria parte. Desde o começo, o movimento apontou a direção da própria ação; conscientizar o povo sobre os direitos e deveres dos eleitores, sobre a importância do voto para o bom desenvolvimento da democracia, explicando,   aonde foi possível, as exigências da lei 9.840, contra a corrupção eleitoral. No primeiro programa que o Movimento Fé e Política realizou pela Rádio Comunitária Canabrava FM, foi salientado que a mudança de mentalidade do eleitor e do candidato era  uma conquista civil  impossível para ser alcançada no breve período. Foi com esta consciência, que entramos na campanha política de uma forma alegre e tranqüila. Realizamos vários eventos de conscientização, utilizando métodos diferentes, avaliando semanalmente o nosso trabalho. Foi uma semente que queremos, de agora em diante, cultivar para que a consciência democrática de nossa cidade, possa crescer sempre mais.

Na homilia do último dia do ano passado alertei os católicos sobre as eleições políticas deste ano, dizendo que teriam sido uma avaliação da nossa maturidade espiritual. Interiorizar a Palavra de Deus é viver esta Palavra na vida do dia-a-dia. A Palavra de Jesus é uma Palavra profética de denúncia contra as injustiças sociais, contra as hipocrisias. Além disso, é uma Palavra de amor, de conversão, de perdão. Um cristão que participa da mesa eucarística do domingo, não pode considerar o irmão, que participa da mesma mesa, um inimigo, pelo simples fato que vota num candidato diferente. Infelizmente isso aconteceu. Várias pessoas começaram tratar o irmão de forma diferente, como um inimigo, pelo simples fato de que votava num outro candidato. Interiorizar a Palavra de Deus e o seu Espírito leva as pessoas ao respeito da liberdade do voto. É Jesus mesmo que fala: “Entre nós não deve ser assim: mas quem quiser ser o primeiro seja o último”.
O respeito da liberdade do outro, do pensamento do outro, da possibilidade do outro agir e pensar de uma forma diferente da minha, não é apenas uma conquista de vida espiritual, mas também é uma atitude democrática. A existência de uma oposição na cidade é uma bênção pelo andamento democrático. É absurdo querer que todo mundo pense do mesmo jeito. É absurdo, antidemocrático e desumano. O espírito democrático fortalece na pluralidade de opiniões, na comunhão da diversidade e não na uniformidade.

Somente cultivando esta diversidade, este espaço democrático da pluralidade de opiniões, poderemos evitar o risco do totalitarismo. De fato, na história os regimes totalitários- fascismo, nazismo, comunismo- se mantiveram ao poder com o controle das massas. O pensamento único não existe, a não ser na cabeça de alguém, que quer viver em paz e, para isso, obriga  todos a pensarem como ele.
 Os grandes derrotados destas eleições foram os pobres. Esquecidos nestes anos, foram  visitados de uma forma maciça nestes últimos três meses.“Ali vem o outro”. Parecia brincadeira, a procissão corriqueira dos candidatos caçando votos. Porque os candidatos não foram da mesma forma insistentes nas casas dos comerciantes, dos professores, dos moradores das ruas  do centro?
Mais uma vez o pobre foi considerado como simples mercadoria, possível a ser comprado, também a preço baixo. O pobre sabe que não tem voz nem vez: deve aceitar tudo. Forçado a escutar projetos mirabolantes até com palavras dificílimas (“Padre, quer dizer esta palavra, que o fulano de tal usou para dizer o que vai fazer?”), o pobre abre a porta pra todo mundo. O pobre é assim considerado como prostituta, que abre a porta de casa a todos aqueles que oferecerem dinheiro. Para considerar os pobres como filhos e filhas de Deus, com uma dignidade, Miguel Calmon, deve amadurecer muito. Ao meu ver o futuro de Miguel Calmon não está na frente, mas atrás.

Explico-me. Pessoalmente acredito muito no trabalho de base que está sendo desenvolvido nas comunidades de base, seja na zona rural que na sede.
Se tivermos a paciência de regar cada dia a semente  que está sendo plantada, sem dúvidas colheremos frutos. Os homens novos que Miguel Calmon precisa, ainda não chegaram, ainda não são formados. Mas chegarão. Os homens novos que Miguel Calmon precisa são aqueles que falam de Deus, agem e pensam como Ele. Nos comícios que assisti, vários candidatos falavam de Deus e de Maria e depois lançavam palavras de ódio contra os adversários. É esta a hipocrisia que deve ser tirada do meio. Isso é possível. Através de um caminho de conversão, de mudança de atitude, mudança que somente o Espírito do Senhor pode realizar. Por isto digo que o futuro de Miguel Calmon está por trás. Está naqueles adolescentes e jovens apaixonados pelo Senhor, que estão dedicando horas de joelho por Ele, meditando a sua Palavra.
O homem novo não nasce de um dia para o outro. É um longo caminho, silencioso, escondido. Até que um dia...  

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Maria, o lado materno de Deus


ARQUIVO



Paolo Cugini

Conforme uma tradição muito antiga, o mês de maio na Igreja católica é o mês dedicado a Maria. Desde o começo da sua historia, a Igreja sempre teve um carinho todo especial por Maria, a mãe de Jesus, o nosso Salvador. Devoção a Maria que se espalhou, sobretudo nas camadas mais pobres da sociedade, que sempre encontram em Maria a ternura e Deus, o seu lado materno, carinhoso. Por isso a devoção Mariana sempre encontrou grande respaldo, pois ajuda a perceber a dimensão terna de Deus, a sua misericórdia, amenizando assim os elementos de dureza que as vezes aparecem na Bíblia e que amiúde encontramos na pregação, sobretudo de cunho pentecostal. Além disso, a devoção a Maria mãe do Senhor valoriza a figura da mulher, contribuindo a desmanchar aquele machismo endêmico que espalhou-se injustamente também no cristianismo. O mistério da salvação da humanidade passa necessariamente do consentimento de uma mulher, Maria, escolhida desde a eternidade, para ser a mãe do Salvador Jesus Cristo.  A sã devoção Mariana ajuda, assim, a purificar a vida espiritual e a experiência religiosa daquele machismo que estraga o relacionamento entre os irmãos, distorcendo a imagem da mulher. Por isso, podemos afirmar tranqüilamente que o mundo de hoje precisa muito de Maria, do jeito dela, da maneira delicada e silenciosa de enfrentar os problemas da vida. Precisamos de Maria para que Ela nos ajude a considerar a mulher não apenas do lado do prazer, mas sim como parceira amiga e sensível, que Deus quis colocar ao nosso lado para humanizar a historia.
Precisamos de Maria neste mundo violento para aprendermos a solucionar os problemas do dia a dia não com a arrogância e a truculência, mas sim com aquela delicadeza típica do estilo feminino.

 Que Maria mãe de Jesus e mãe nossa, nos acompanhe sempre e nos ajude a sermos discípulos autênticos do seu Filho Jesus, na construção do seu reino de justiça e de amor.




Esperando São Pedro ou... O cão?


ARQUIVO (agosto 2006)



 Paolo Cugini


“Vamos sozinhos para algum lugar deserto, para que vocês descansem um pouco!” (Mc 6,32).

Ouvimos nestes dias este versículo de Jesus que convida os seus discípulos para descansar um pouco com Ele. É uma atitude importante que vale a pena escutar com atenção e transferir no nosso dia a dia. Se e verdade que devemos trabalhar com firmeza e responsabilidade para colaborar a realização do plano de Deus, é também verdade que de vez em quanto é importante descansar. O problema sobre este assunto é este: como descansar. De fato, se prestarmos atenção ao jeito do povo descansar, parece que, quanto mais descansa, tanto mais... cansa! Nas festas de São Pedro, por exemplo, muitos jovens passaram três dias e três noites na rua dançando, pulando, bebendo, cantando ininterruptamente. Como é que descansa um cara numa agonia dessa?!
Nestes dias realizei uma pesquisa entre os jovens que estão freqüentando a Catequese do Crisma, sobre o tema da festa: o resultado foi extremamente interessante. Perguntando sobre o motivo das pessoas procurarem as festas, muitos jovens responderam assim: “para esquecer os problemas”.

Achei importante e, ao mesmo tempo, um pouco triste, esta resposta. Quando uma pessoa é feliz da vida, não precisa arrumar algo para esquecer os problemas. Aliás, o esforço que deve ser feito, é ajudar as pessoas a enfrentar os próprios problemas e não fugir. Afinal de conta são as crianças que fogem dos perigos, enquanto os adultos ao longo da vida aprendem a enfrentá-los. É verdade que uma festa não é nada de mal, aliás, é bom e faz bem a saúde física e moral, mas quando numa cidade há três meses todo final de semana tem festa, isso é demais e prejudica a higiene mental. Um povo todo alienado ao longo dos anos precisa aumentar sempre mais as doses de “Diesepan”. Pelo contrário, um povo tudo conscientizado não precisa de nada e não dá prejuízo nenhum ás farmácias da cidade.

2. Além disso, sempre na mesma pesquisa, procuramos entender se São Pedro tem a ver com a festa popular que se espalhou na Bahia. Descobrimos que Pedro foi o apóstolo que Jesus escolheu para chefiar a sua Igreja e que hoje este papel é do Papa, o chefe da Igreja Católica. Nada ver então, com a cachaça, as músicas indecentes, as brigas, as imoralidades que se encontram na assim chamada “Festa de são Pedro” ou “Esperando são Pedro”.
 Os jovens que participaram da pesquisa, acharam interessante apresentar uma proposta para mudar de nome a esta festa e, assim, ao invés de se chamar “Esperando São Pedro” poderia se chamar: “Esperando o diabo” ou, se preferir: “Esperando o diacho”. É bom aprender a dar o nome certo as coisas, para não confundir o povo.


Anunciai a Boa Nova a Todos!


ARQUIVO (março 2018)



Paolo Cugini

1. A Páscoa está se aproximando e todos nós somos convidados a refletir sobre o mistério da morte e da Ressurreição de Cristo, pra entendermos o sentido que este evento tem pela nossa vida. Passei estas ultimas semanas de quaresma lendo e meditando com os jovens das comunidades da zona rural, os capítulos do Evangelho de Marcos que relatam a paixão e morte de Jesus. Muitos destes jovens ficaram se questionando: “Mas porque Jesus, o Filho de Deus, que veio ao mundo para anunciar a Boa Nova aos pobres, que realizava milagres esbanjando vida para todos, que curava os dentes e amava a todos e a todas, foi massacrado e humilhado naquela forma horrível que é narrada nos Evangelhos?”. A resposta a esta pergunta foi encontrada no Evangelho de Mateus ao capitulo 23, aonde se relata o discurso de Jesus contra os chefes religiosos e políticos do tempo, criticando a hipocrisia deles e denunciando as atitudes erradas. A palavra e a ação de Jesus incomodava o poder acostumado a fazer qualquer malandragem á luz do sol, sem ninguém se queixar por medo das retaliações. A Boa Nova que Jesus anunciou contem também esta denuncia profética contra toda forma de exploração, todo abuso de poder prejudicando o povo mais pobre e humilde. Por isso os chefes políticos e religiosos se juntar para decidirem de matar Jesus (Marcos 3,6).

2. Dá pra perceber imediatamente que, apesar de ter passado mais de dois mil anos da morte e ressurreição de Jesus, as coisas não mudaram muito.  Ainda hoje, como naquele tempo, o poder é acostumado a fazer o que quiser, se beneficiando de qualquer forma, as custas dos pobres. E se alguém se queixar é cassete na hora. Existe todo um povo que vive apavorado, com medo de denunciar os abusos e as explorações que corriqueiramente agüenta por medo das retaliações. Existe todo um povo que passa a vida toda se censurando, vivendo não na forma que bem queria, mas encostado no poder achando que pelo menos o poder oferece alguma coisa. O questionamento sobre esta atitude é grande: será que vale a pena abrir mão dos próprios ideais por um pedaço de pão? Será que vale a pena abrir mão até da própria fé, pra viver encostados a vida toda nestas pessoas que não sabem nem onde fica a Igreja?  Será que esta é vida? Será que Jesus veio ao mundo para que o povo vivesse deste jeito? Dá pra acordar?

3. Jesus morreu e ressuscitou. Este é um dato bíblico fundamental. De fato, se Cristo ressuscitou quer dizer que está vivo, que o mal não prevaleceu sobre Ele. Se Cristo é vivo isso quer dizer não apenas que Ele é presente e acompanha de perto os nossos passos, mas também que o Seu Espírito está dentro de nós e nos impulsiona para que o Seu Reino de amor se realize entre nós. Não basta gritar Aleluia! Gloria a Deus! Para manifestarmos o nosso agradecimento a Deus por tudo aquilo que em Cristo nos proporcionou, precisamos dar continuidade á Sua obra maravilhosa, saindo do medo, manifestando a nossa fé na Ressurreição de Cristo, denunciando as maracutaias do poder corrupto. É neste ano de eleições políticas que precisamos manifestar a nossa fé na ressurreição de Cristo. Como é, de fato, que podemos gritar Aleluia! na Igreja e depois sermos cúmplices  das armadilhas corruptas do poder, sendo instrumentos de compra e venda de votos? A fé na Ressurreição de Cristo que na Páscoa celebramos com tanto vigor, exige um estilo de vida que seja digno de Cristo, respeitoso do seu sofrimento, em continuidade com o seu anuncio. Pedimos a Deus a força de sermos cristãos corajosos, capazes de enfrentar as conseqüências de uma vida autentica, manifestando a alegria de viver uma vida justa e fraterna.



Amizade em Cristo: a única que vale


ARQUIVO (2008)


Paolo Cugini

Muitas pessoas nestes meses estão mudando de atitude. Alguns que sempre sorriam estão fechando a cara. Outros, que até então nem conhecia, estão se aproximando, outros ainda que nunca pisaram os pés na Igreja, estão virando católicos fervorosos. É o milagre da política, aliás, da politicagem: em ano de eleições tudo muda e, de repente, o inimigo se torna amigo e o amigão vira rival.

A amizade é um sentimento muito profundo que nasce de dentro do coração. “Quem encontra um amigo encontra um tesouro” (Ecl 6,15), pois encontrar alguém que partilha conosco as idéias, que nos acolhe do jeito que somos, que é desinteressado, que está perto de nós em todo momento, na alegria e no sofrimento, é muita graça de Deus. “Amigo fiel não tem preço e o seu valor é incalculável” (Ecl 6, 16).

Dizia um grande filósofo que cada um tem os amigos que merece: quem é bom provavelmente terá amigos bons, que é ruim é fácil que atraia pessoas ruins. Para termos amigos bons precisamos zelar de nós mesmos, buscar uma vida justa, aprimorar as nossas atitudes, fortalecer a nossa vida espiritual.
É Jesus que nos ensinou o caminho da verdadeira amizade. Foi Ele que anunciou o Reino de Deus criando um relacionamento de profunda amizade com um grupo de pessoas, homens e mulheres (Cf. Lc 8,1-3), amizade tão profunda que o Senhor fez de tudo para que pudesse permanecer para sempre. É isso que experimentamos na Missa do domingo: a presença amiga de Jesus, que nos convida a buscar o bem, a justiça, a fraternidade. E é também isso que encontramos na Igreja: pessoas dispostas a zelar da própria alma, atentas às necessidades dos irmãos e irmãs.

É com este espírito de amizade que participamos da comunidade, criando laços novos para que o mundo acredite que existe um pedacinho de humanidade aonde é o amor que prevalece, é a justiça o centro de interesse. Quem experimenta a amizade verdadeira infundida por Cristo em nós, não sentirá mais a tentação mundana de “amizades” que duram uma estação, uma promessa.
Neste ano de eleições temos, então, a possibilidade de avaliarmos a profundidade das nossas amizades, dos relacionamentos que estamos tecendo, da verdade da nossa caminhada cristã. Todos aqueles que se afastam de nós somente por motivos políticos, porque não somos do partido deles, são cristãos que não prestam e é bom agradecer a Deus por este afastamento. Todos aqueles que se aproximam de nós com um sorriso deslumbrante para nos seduzir, são da pior raça de hipócritas: é bom mantê-los à distância.

Pedimos a Jesus a força e a firmeza de não vacilar nunca, mas de mantermos firme o nosso propósito de amar a Deus sobre qualquer coisa. E, como dizia uma grande filósofa, quem ama a Deus não aceita qualquer coisa; quem ama a Deus não aceita qualquer amigo. Saibamos ser exigentes com as pessoas que nos rodeiam para depois não nos arrependermos e nos queixarmos da nossa solidão.



Páscoa, a vida que vence a morte

ARQUIVO (Avril 2006)





Paolo Cugini

1.A liturgia do assim chamado “sábado do aleluia” é rica de símbolos e de sentidos, que ajudam os fieis a entrar no mistério da ressurreição de Jesus Cristo. Mistério que transforma a realidade  e a vida daqueles que o acolhem.
 Ressuscitar quer dizer voltar a viver: isso aconteceu com Jesus. O mundo massacrou o corpo de Jesus, mas o Pai o ressuscitou: a vida venceu a morte. Tudo isso é simbolizado na vigília do sábado santo com a liturgia do fogo. O povo se reúne  num lugar escuro, fora da Igreja, no redor de uma fogueira. Depois da benção do fogo o povo entra devagarinho na Igreja atras do círio  Pascal aceso: a luz que vence as trevas.

2. Quer dizer esta simbologia litúrgica para a nossa vida corriqueira? 
Quem acredita que Jesus ressuscitou da morte, sabe que a ultima palavra da historia é de Deus. Se é verdade que o mal exerce no tempo cotidiano um poder extraordinário, que arrasta multidões, é também verdade que o dono da vida é Deus e, quem confia nele, não ficará desamparado. É isso que nos ensina a historia de Jesus: ficou fiel até o fim. Acreditou no amor de seu Pai também debaixo dos golpes do carrasco. E agora Ele está vivo enquanto aqueles que o mataram estão mortos: esta é a verdade que a Palavra de Deus nos ensina.

3. Estamos mergulhados numa realidade aonde os corruptos dominam a historia. Quantos pobres são humilhados, massacrados, esculhambados! Os poderosos deste mundo ( que na realidade são um monte de idiotas e ignorantes, muitas vezes chegando ao poder com o dinheiro dos outros, explorando a influencia dos amigos e roubando o que puder roubar) gostam de judiar  dos pobres, também porque o pobre não tem como se defender. Estes poderosos sem escrúpulo e sem vergonha, não sabem, porem que, atrás de cada pobre que é por eles massacrado, é presente o mesmo Cristo. E Cristo ressuscitou e é vivo, enquanto todos os poderosos deste mundo estão de baixo do chão, comidos pelos vermes. Esta é a realidade misteriosa, que nós aprendemos na caminhada da Igreja e que nos impulsiona a continuar alegres e cheios de coragem gritando ao mundo, com as palavras e com a nossa mesma vida:
“Jesus Cristo é vivo!” “Vocês mataram o Autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos” (Atos dos Apóstolos 3, 15). Durmam com um barulho deste!

                                                                                                              


domingo, 3 de fevereiro de 2019

O PROFETISMO DE LÉO




Paolo Cugini
[publicamos um artigo escrito no 2011 sobre um amigo querido que muitas pessoas conhece]
Infelizmente Léo foi embora. Ganhou um concurso do Estado no Sul da Bahia. Bom para ele, ruim para nós que ficamos órfãos, apesar de torcer para que ele se possa dar bem neste novo trabalho. Se Léo quisesse, com os conhecimentos que ele tem e, sobretudo com a sua oratória arrasadora e a capacidade incomum de articular discursos de deixar o interlocutor maluco, poderia ensinar em qualquer faculdade do Brasil. Só que Léo gosta de fazer aquilo que mais sente no momento: não é o cara que corre atrás de oportunidades. Ele é um amigo, no sentido amplo e antigo do termo, ou seja, no sentido da gratuidade, da doação e, quem se doa não tem tempo por cálculos. 

Existem pessoas racionais, sentimentais, malucas: Leo é uma mistura de tudo isso com algo a mais, ou seja, o instinto da verdade. Sempre criticaram Léo pelo fato dele escrever, falar e nunca fazer. Na realidade o fazer de Léo foi exatamente o seu dizer, denunciar. Denunciando o poder, enfrentando com textos polêmicos os políticos locais,  Léo fazia com que o povo, os pobres, os jovens enxergassem uma maneira de ver diferente. Num contexto aonde o esforço corriqueiro é criar um pensamento único, o Vírus do Léo, as suas matérias escandalosamente polemicas, provocavam imediatamente um olhar diferente.

Em todos estes anos Léo não se corrompeu. Por isso não cresceu. O Leo do 2011 é o mesmo do 2001. Nestes dez anos quantas pessoas se venderam, mudaram de partido, se tornaram improvisamente ricas. Leo não: é o mesmo cara de sempre, que mora num apartamento alugado, com o dinheiro ganho do seu mesmo trabalho: professor de história. A força dele, que pouquíssimos têm, é a moral. Léo escreve aquilo que pensa porque tem moral e esta ninguém compra e ninguém tira. A moral é o preço da coerência com as próprias idéias. Leo pagou duramente ao longo destes anos o preço da sua moral. Foi agredido, insultado, ameaçado, denunciado. Até levantaram falso contra ele dizendo que bate na mãe. Somente nós amigos sabemos o quanto Léo ama a própria mãe. Apesar di tudo isso Léo está ainda ali, de pé, sorrindo com aquela alegria que deriva da consciência limpa, de ter feito o seu trabalho, alegre de ter ajudado tanta gente a enxergar o mundo e a história de Miguel Calmon de forma diferente. Por isso sentimos a sua falta. Léo não é um santo, mas um homem coerente e autentico sim. Boa viagem Léo. Continue sendo aquele professor de história que os estudantes admiram. Sobretudo continue sendo a voz da verdade dos sem voz, dos injustiçados. Continue sendo o profeta do povo. Que Deus te abençoe.