quinta-feira, 22 de agosto de 2024

MENSAGEM POR OCASIÃO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2024

 


 

 “Ninguém pode exigir-nos que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social” (Papa Francisco, Evangelium Gaudium,182)

Reunidos no V Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal, em Manaus-AM, de 19 a 22 de agosto de 2024, fazemos chegar às irmãs e aos irmãos em Cristo e a todas as pessoas de boa vontade, nossas esperanças e preocupações a respeito das eleições municipais que se aproximam.

No dia 6 de outubro próximo iremos às urnas para escolher aqueles e aquelas que estarão à frente do Poder Executivo (prefeitos e prefeitas - vice-prefeitos e vice-prefeitas) e do Poder Legislativo (vereadores e vereadoras) de nossos municípios. Essas eleições têm uma importância particular pela proximidade dos candidatos e candidatas com os eleitores, bem como com suas preocupações mais concretas, por exemplo, a educação de qualidade para as crianças e adolescentes, o sistema público de saúde eficiente e universal, a segurança para vivermos em sociedade, a moradia digna e acessível à população de baixa renda, o cuidado com o meio ambiente – nossa Casa Comum, a atenção especial aos povos indígenas, ribeirinhos, pescadores, quilombolas, população em situação de rua e outros grupos em situação de risco e vulnerabilidade social. Diante dessas preocupações, e de tantas outras que afligem os povos, espera-se a garantia de políticas públicas que atendam principalmente os empobrecidos.

Um dos meios para dar a devida resposta a essas preocupações é identificar e escolher bem os candidatos e as candidatas. Dos prefeitos e prefeitas espera-se uma conduta ética nas ações públicas, nos contratos assinados, nas relações com os demais agentes políticos e com os poderes econômicos. Dos vereadores e das vereadoras requer-se uma ação correta de fiscalização e legislação que não passe pela simples identificação com a bancada de sustentação ou de oposição ao Executivo. O equilíbrio e a complementariedade entre os poderes Legislativo e Executivo são indispensáveis para a consolidação da democracia e o avanço da justiça social nos municípios. Portanto, deve ser dada igual atenção à escolha dos prefeitos e prefeitas e dos vereadores e vereadoras, visto que ambos devem ter um compromisso irrenunciável com a defesa integral da vida, que passa necessariamente pelos direitos humanos e sociais. Defender a vida é defender a Casa Comum em toda a sua complexidade. Para isso, nossos candidatos e candidatas devem ter a capacidade de colocar afetiva e efetivamente o bem comum acima de seus interesses pessoais ou corporativos.



Votemos responsavelmente pela Amazônia! É urgente, nos municípios de nossos territórios, políticas públicas que minimizem os efeitos das mudanças climáticas, favoreçam a agricultura familiar e as iniciativas agroecológicas, enfrentem o escandaloso problema do saneamento básico dando, por exemplo, tratamento eficaz aos resíduos sólidos urbanos através de aterros sanitários que possam recebê-los e tratá-los de forma segura e ambientalmente correta. Ao mesmo tempo, o apoio à fiscalização, identificação e punição dos crimes ambientais deve ser compromisso dos gestores públicos municipais. De quem pede o nosso voto, é importante verificar a história e os processos vividos, conhecer as trajetórias e o passado, identificar suas alianças políticas. A Igreja Católica no Brasil tem longa tradição na valorização da Ficha Limpa e na denúncia da imoral e antiética compra de votos que, além de crime, passou a cassar os mandatos dos culpados.

Votar por troca de favores ou simplesmente por amizade pode comprometer seriamente nosso futuro. Voto não tem preço, tem consequência! Lembramos que todas as informações sobre os candidatos e candidatas em que se pretende votar são importantes. É preciso examinar em fontes seguras se as propostas apresentadas correspondem à realidade. Infelizmente as desinformações, hoje potencializadas pela internet, têm a capacidade de mudar a vontade do voto popular, comprometendo assim a democracia.



Eleitor e eleitora, não permitam que a mentira determine seu voto. Outra atitude fundamental é repudiar quaisquer formas de violência e divisão. Numa sociedade plural e democrática, é legítimo que todos tenham a possibilidade de chegar às suas próprias conclusões, que nem sempre serão e nem precisam ser, iguais às dos outros. Um traço essencial do cristianismo é chamarmos a Deus de Pai-Nosso e, assim, assumimos que somos todos irmãos e irmãs. Nossa sociedade e os municípios em que vivemos não podem sair do processo eleitoral ainda mais divididos, pois “se um reino se divide contra si mesmo, ele não poderá manter-se” (Mc 3,24). Sendo assim, vamos aproveitar a oportunidade de, num período eleitoral pacífico e participativo, ajudarmos a construir uma sociedade de comunhão e amizade social.

Concluímos conclamando a todos e todas que se unam e rezem pelo bom êxito das próximas eleições. Que Nossa Senhora de Nazaré, rainha e padroeira da Amazônia, nos conduza pelos caminhos da justiça, da fraternidade e da paz. Manaus, 21 de agosto de 2024.

 

Participantes do V Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal

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