Paolo Cugini
Há um
sentimento de vazio espiritual que percebe-se na vida das comunidades cristãs.
É difícil mudar o paradigma. É difícil viver a fé não apenas em clima de
minoridade, mas também é difícil pensar em si mesmo de forma diferente. Viemos
de séculos e séculos em que todos eram cristãos e o cristianismo era a forma de
sociedade. Missas, sacramentos, rituais, festas litúrgicas moldaram a estrutura
social do Ocidente. Agora que todo este mundo entrou em colapso, ninguém se
sente mais obrigado a rituais cristãos.
Na era da Cristandade, não
participar da vida religiosa significava condenação eterna, o inferno no
futuro. Agora que o envelope sacro se foi, todos os medos desapareceram. O que
nos resta? O fim da Cristandade coincide com o fim da religião como forma
sacra, que molda a sociedade. O cristianismo transmitia uma mensagem que fazia
coincidir a aparência social com o pertencimento à religião, à igreja. O
problema agora é viver a fé promovida pelo Evangelho sem fingir que a sociedade
se preocupa. Esta é uma fase delicada porque, apesar do fim da era cristã, toda
uma série de rituais e elementos sacrais continuam presentes na sociedade, que
durante séculos identificaram o pertencimento à vida social e que permaneceram
no tecido social, apesar de não saberem, e não entender seu significado. Muitos
pais, apesar de não acreditarem no Evangelho e não frequentarem uma igreja,
recorrem a ela para batizar seus filhos ou pedir para participar do caminho dos
sacramentos, causando perda de tempo, tensão sem fim. Aproximamo-nos da igreja
como se fosse qualquer loja, na qual qualquer pessoa tem o direito de comprar o
que quiser. É sem dúvida uma fase de transição que, como tal, estará destinada
a desaparecer. Fase de transição que é portadora de tensões entre quem dirige a
vida religiosa e que nem sempre tem consciência da transição que vivemos, e
quem vive a religião apenas como pertencimento social.
Então, chegará o tempo em que
poderemos viver a proposta de Jesus em pequenos grupos, entre aqueles que
aceitaram a mensagem do Evangelho e fizeram escolhas a respeito, sem ter que
prestar contas de uma sociedade que, por agora, vai ignorar o que se tornou uma
minoria e não pretende mais afetar a sociedade, pelo menos de fora. Seremos
como o fermento na massa - finalmente! -, livre da tirania da aparência e do
desempenho a todo custo. Estaremos nas casas, também porque, entretanto, as
igrejas e catedrais já terão sido convertidas em estruturas de uso social e
coletivo. E é na dimensão familiar do lar que poderemos saborear o sabor da diversidade
da vida, das opções, que só o Evangelho pode oferecer, sem a preocupação de ter
que provar alguma coisa. Nessa altura, teremos nos libertado das catedrais, das
pesadas estruturas eclesiais, das procissões, das estátuas, dos vestidos
litúrgicos, de todos aqueles ornamentos resultantes da corrida desenfreada que
a Igreja fez durante séculos no poder, pagando um preço altíssimo. Não veremos
mais nas ruas aqueals personagens esquisitas vestidas de preto, símbolo da
morte prematura, quando deveriam ter vestido as roupas coloridas da alegria.
Haverá paz em nossos corações crendo no Evangelho, em Jesus Cristo e,
finalmente, seremos libertados dessas doutrinas construídas com o propósito de
valer algo no mundo.
Boa Noite! Esse Texto é muito interessante. Realmente nos faz refletir sobre ser cristão no mundo contemporâneo!!
ResponderExcluirUm olhar de Águia consegue ver além da possibilidade vivida,uma visão ampla...
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