segunda-feira, 12 de maio de 2025

A Europa entre crise institucional e econômica nos anos '30 do seculo XX: O advento dos fascismos



Paolo Cugini

 

A crise do sistema democrático foi sem dúvida o sinal mais claro que o "Declínio do Ocidente" estava se realizando. De fato, em poucos anos as jovens democracias que se tinham formado depois da Primeira Guerra Mundial, foram progressivamente derrotadas pelos regimes de tipo autoritário. Foi o caso da Polônia do Marechal Pilsodsky, da Turquia de Mustafá Kemal, da Grécia do General Metaxas, da Iugoslávia do Rei Alessandro I, da Ditadura Comunista de Bela Kun na Hungria, da Áustria do Monsenhor Seipel e do Chanceler Dollfus.

Não fugiram à mesma experiência autoritária a Espanha com a Ditadura Militar de Primo de Rivera e do Rei Alfonso XIII e o Portugal de Salazar.

Os países da Europa Setentrional e Ocidental, quer dizer as monarquias escandinavas, países baixos, Bélgica, Inglaterra, França também, se em seguida "fugiram ao contágio das ditaduras não foram, porém, prevenidos totalmente contra os seus germes. A tentação os assaltou" .

Tal tentação foi testemunhada pela crescente formação de grupos e movimentos políticos que se inspiravam nos modelos do fascismo e do comunismo, que tentaram em várias circunstâncias derrubar as democracias. A França foi sem dúvida o lugar geopolítico onde esta tensão entre forças institucionais não foi maiormente vivida. É só lembrar a movimentada experiência da Action Française de Maurras que acabou em 1926 com a condenação Pontifícia e, do outro lado, a crescente influência do partido comunista francês que teve o maior respaldo na experiência do Fronte Popular em 1936.

Se nestes Estados "se constatava a incapacidade dos regimes democráticos de enfrentar o problema da governabilidade, na forma nova que derivava da situação política e social pós-bélica", do outro lado algumas nações iam experimentando alguns modelos políticos e institucionais. A ruptura dos equilíbrios políticos provocados pela Primeira Guerra Mundial limpou o campo da entrada política do fascismo de Mussolini na Itália. A marcha em Roma em outubro de 1923, forçou o Rei Vittorio Emanuele III a entregar para Mussolini o cargo para a formação do governo e a declarar assim o começo da Ditadura Fascista. No mesmo período, na Alemanha atormentada por causa de problemas internos devidos à queda da moeda, e dos problemas de política externa provocados da ocupação da rica zona industrial da Ruhr da parte da França de Poincaré, , Hitler encontrou espaço em novembro de 1923 para tentar, sem sucesso, um Golpe de Estado (Putsch da cervejaria).

Rica de tensões internas era também a situação da União Soviética. O partido Bolchevico, promotor da Revolução de outubro de 1917, se tornou progressivamente o centro e o ponto referencial do Novo Estado. A identificação Partido-Estado se fez sempre mais estreita e assumiu formas novas com a entrada de Stalin no poder em 1926. O objetivo de "construção do socialismo em um só país", amadurecido depois do falimento do internacionalismo proletário, que se fazia porta voz de uma Revolução Socialista mundial, conduziu o Partido Comunista a dirigir todos os esforços para fazer da União Soviética uma nação economicamente auto-suficiente e competitiva. O choque do partido com as massas camponesas, especialmente com os Kulaki, incapazes de entrar nos rígidos esquemas dos planos qüinqüenais, foi imediato e violento. Precisaram muitos esforços, pagos, sobretudo pela população, para que os vários planos econômicos pudessem alcançar os níveis desejados.

Fascismo e Comunismo se tornaram modelo institucional sempre mais atraente, sobretudo, pelo jeito enérgico e forte que, por causa de uma situação de confusão geral, era acolhido por uma massa sempre mais desnorteada e necessitada de pontos referenciais.

O 24 de novembro de 1929, que passou a história como "a 5ª feira preta" a Bolsa de New York não conseguiu vender 70 milhões de ações, provocando a perda de 18 bilhões de dólares. Foi o começo de uma crise que, em pouco tempo, botou de joelho a América e, em poucos anos, arrasou as economias mais fortes do continente europeu, ou seja, da Alemanha, da Inglaterra e da França. As nações golpeadas pela crise econômica tiveram que enfrentar problemas ligados ao desemprego, ao aumento da inflação, derrotadas de bancos, fechamento de indústrias. Os governos, tomados de surpresa, não conseguiam a encontrar medidas capazes de enfrentar, de imediato, uma situação tão catastrófica. Em poucos anos, o equilíbrio econômico internacional estava totalmente desmantelado. Sentimentos de medo e desconfiança perpassaram todos os setores do mundo político e social. O sistema democrático, que já tinha entrado em crise nos anos ’20, no começo dos anos ’30 recebeu um golpe duríssimo: "Para todos a democracia Parlamentar — como tinha observado Loubet de Bayle — tinha se tornado sinônimo de mentira, fraqueza, mediocridade, baixaria".

Diante do avanço das forças autoritárias e totalitárias, as velhas democracias de Inglaterra e França, não souberam reagir com estratégias políticas adequadas. Ambas, de fato, com razões diferentes, se fizeram promotoras de políticas protecionistas renunciando a intervenções enérgicas contra os sonhos expansionísticos da Alemanha, com medo de desencadear uma Segunda Guerra Mundial. Na Inglaterra tal política encontrava um vasto consentimento, também porque assegurava uma boa capacidade da economia. Pela França, a situação era mais complexa. Encontrava-se entre fogos contrastantes de forças políticas opostas. O mal-estar social devido à estagnação econômica que marcou um declínio da produção de 20% entre 1930 e 1938 manifestou-se no primeiro momento, através dos movimentos de direita e, entre eles, a Action Française e a Croix de Feu. O cume se teve com a manifestação antiparlamentar, que as direitas organizaram no dia 06 de fevereiro 1934 em Paris, mas que fracassou por causa da falta de apoio da opinião pública. Neste clima de desordem política, nasceu a união das esquerdas que se concretizou na experiência do Fronte Popular do 1936. O breve governo do socialista Léon Blum, que promoveu importantes inovações no campo social, foi dilacerado por causa de lutas internas entre comunistas e socialistas. A crise das grandes democracias preparava lentamente o terreno para a Segunda Guerra Mundial.


A IGREJA POBRE E DOS POBRES NO DEBATE DO CONCILIO VATICANO II

 



Paolo Cugini

Um elemento surgido no Concílio Vaticano II que contribuiu para contaminar toda a Igreja foi o debate sobre a Igreja pobre e dos pobres. É verdade que pouco deste debate foi incluído nos documentos do Concílio. A verdade, porém, é que as reflexões propostas e debatidas no Concílio deixaram uma marca profunda em muitos bispos, a ponto de contaminar as suas escolhas futuras nas dioceses a que pertencem. Para uma análise aprofundada do debate conciliar sobre o tema em questão, acompanhe o trabalho de Matteo Mennini (2016). A sua obra visa reconstruir um debate que marcou profundamente o Concílio Vaticano II e que ajuda a compreender melhor o significado do pontificado atual do Papa Francisco. Os dois pontos de referência desta investigação histórica são a atividade do grupo do Colégio Belga e o papel do seu principal animador, nomeadamente o padre francês Paul Gauthier[1]. A pesquisa busca contextualizar o debate eclesial no contexto dos acontecimentos para não correr o risco de reduzi-lo a uma simples disputa teológica interna. O trabalho está estruturado em três partes. No primeiro, Mennini (2016) reconstrói a gênese do tema em questão, apresentando também os principais protagonistas do debate conciliar sobre a Igreja dos pobres. O primeiro deles é o Papa João XXIII que, na famosa mensagem radiofónica transmitida para anunciar a abertura do Concílio Vaticano II, anunciou que: “Diante dos países subdesenvolvidos a Igreja apresenta-se como é e quer ser, como a Igreja de todos, e particularmente da Igreja dos pobres” (Mennini, 2016, p. 43). Linguagem simples e clara, que expressava o desejo de abrir um diálogo com o mundo sobre as questões candentes da atualidade e, entre elas, a desigualdade social. Além disso, o início da década de ‘60 do século passado, ainda estava muito próximo do fim da Segunda Guerra Mundial e as nações estavam envolvidas na reflexão sobre o tipo de progresso económico a propor. “Afirmou-se uma perspectiva dinâmica que, a partir da Segunda Guerra Mundial e do paralelo ao processo de descolonização, substituiu a definição de atraso pela de subdesenvolvimento” (Mennini, 2016, p. 56).

O Papa João XXIII com as suas intervenções mostra que o Concílio Vaticano II não pretendia apenas parar para esclarecimentos no interior da Igreja, mas quis oferecer a sua contribuição para abordar os grandes temas do mundo contemporâneo. Uma figura importante no debate sobre a Igreja dos pobres, à qual Mennini (2016) dedica muito espaço ao longo da pesquisa, é o padre francês Paul Gauthier. Próximo das experiências dos irmãozinhos de Charles de Foucauld e atento à experiência dos padres operários, já presentes na França desde a década de 1930, Gauthier distribuiu durante as primeiras semanas do Concílio um dossiê intitulado: “Jesus, a Igreja e os pobres”, que oferecerá aos bispos e teólogos a oportunidade de aprofundar a sua reflexão sobre a relação entre a Igreja e os pobres. O dossiê surgiu da percepção de que a igreja, tendo perdido contato com a classe trabalhadora, havia perdido contato com os pobres. Daí a questão central: a separação entre a Igreja e as massas trabalhadoras foi um sintoma da ruptura mais profunda entre a Igreja e Cristo? Gauthier colocou o dedo na ferida da percepção que o mundo tinha de uma Igreja distante das massas trabalhadoras:

Gauthier conectou a ideia de que Cristo havia entrado no mundo dos trabalhadores e dos pobres diretamente à doutrina da Mystici Corporis[2] , no qual se afirmava que o que veio da plenitude divina de Cristo flui para a Igreja para que ela se pareça tanto quanto possível com Ele (Mennini, 2016, p. 63).

No dossiê Gauthier recordou a Igreja à sua vocação original de anunciar o Evangelho aos pobres e, para realizar este projeto, era necessário viver entre eles. O padre francês se tornaria o líder de um grupo de bispos reunidos em outubro de 1962 pelos bispos Himmer e Hakim, para começar a refletir sobre as questões candentes do dossiê de Gauthier (1965). O encontro produziu diversas conclusões e propostas, entre as quais a de eliminar os obstáculos que impediam a Igreja de mostrar ao mundo do trabalho a sua verdadeira natureza e missão. A percepção partilhada pelo grupo é que os pobres não conseguem aceitar as mensagens da Igreja porque ficam escandalizados com os sinais externos e o nível de vida dos seus membros. Dois membros do grupo, os Bispos Mercier e Hélder Camara, propuseram recorrer ao Papa para que o Concílio tratasse explicitamente da pobreza da Igreja. Mennini (2016) mostra o esforço do grupo de trabalho para desenvolver um texto que mostrasse a relação intrínseca entre a atenção aos pobres, a igreja pobre e a liturgia. Segundo o grupo, existe uma pompa litúrgica que ofende os pobres. A Igreja dos pobres deve, portanto, ser visível tanto no estilo de vida dos ministros como nas celebrações litúrgicas. “Não existe o perigo de que a suntuosidade dos móveis e das vestes litúrgicas possa constituir motivo de escândalo para quem assiste às cerimónias?” (Mennini, 2016, p. 74).

São observações deste tipo, expressas na sala do Conselho pelos representantes do colégio belga, que animaram os debates do Concilio. Foi expressa cada vez mais uma profunda preocupação por uma compreensão renovada da pobreza da Igreja como condição para a sua credibilidade no mundo e que a pobreza da Igreja não poderia ser simplesmente um tema entre outros. Segundo Mennini (2016), foi precisamente esta forte presença do Colégio Belga no Concílio que provocou o debate da Igreja pobre e dos pobres, mesmo fora das câmaras do Vaticano. Na verdade, o autor cita cartas pastorais de muitos bispos e revistas católicas que falam ampla e profundamente sobre o tema em questão. Entretanto, Paul Gauthier, verdadeiro líder do grupo de trabalho constituído sobre o tema da pobreza da Igreja, lançou em 1963 um novo livro no qual perguntava por que era tão difícil falar da Igreja dos pobres. Gauthier estava consciente de que o problema da Igreja dos pobres punha em causa a estrutura eclesiológica tradicional. “Para um cristão – sublinha o autor – Cristo está tão presente nos pobres como na Eucaristia e na hierarquia. Admitir isto significou muito mais do que uma orientação pastoral, não foi a atualização de uma prática, mas do próprio conteúdo da fé (Mennini, 2016, p. 101).

Tornou-se assim cada vez mais claro que o movimento desencadeado pelas reuniões do Colégio Belga e, sobretudo, pela ação de Paul Gauthier, ultrapassou o âmbito do próprio Concílio e influenciou o debate pastoral de muitas dioceses. Os encontros no Colégio Belga deram início à promoção de uma experiência concreta e visível da pobreza na Igreja e da evangelização dos pobres. O próprio Gauthier iniciou uma reflexão sobre a pobreza numa perspectiva ecumênica e a relação da Igreja com o comunismo, que o grupo de trabalho olhou com grande preocupação pastoral. Durante a segunda sessão do Concilio, os membros do grupo do Colégio Belga reuniram-se para analisar o trabalho realizado. Monsenhor Himmer afirmou que, ao lado de aspectos positivos, incluindo a difusão da sensibilidade em relação ao tema da Igreja pobre e dos pobres entre os fiéis leigos, havia, no entanto, algumas dúvidas. Himmer argumentou que as próprias categorias nas quais ele vinha trabalhando há algum tempo não eram claras.

O que significa Igreja dos Pobres? Como foi entendida a presença de Cristo nos pobres? Qual é a relação entre uma Igreja que quer viver na pobreza, a evangelização dos pobres e as formas de ajuda paternalista? (Mennini, 2016, p. 130).

O debate sobre a Igreja dos pobres torna-se cada vez mais tenso com o passar do tempo, até porque nem todos conseguem acompanhar a impetuosidade e as contínuas provocações de Paul Gauthier. Alguns exegetas e teólogos e, entre eles, o teologo De Lubac (2017), depois de terem analisado os projetos de documentos produzidos pelo grupo, para serem discutidos nas sessões conciliares, consideraram aqueles textos demasiado ideológicos e não isentos de erros graves.

Na terceira e última parte do livro Mennini (2016) aborda o tema da relação da Igreja com a modernidade. Encontramo-nos num ponto de viragem no Concilio. A morte do Papa João XXIII e a eleição de Paulo VI criaram muitas tensões tanto no mundo eclesial como civil. A grande questão que muitos se colocavam era perceber se o novo Papa tinha continuado no estilo do Papa João. Desde os primeiros movimentos, como afirma Mennini (2016) e, sobretudo, a primeira encíclica de Paulo VI, a Ecclesiam suam, dissipou todas as dúvidas. A encíclica, de fato, estabeleceu como ponto de partida a atitude daquele diálogo que tinha sido característico do estilo do Papa João. Um dos pontos mais quentes desta nova etapa conciliar, a partir do tema que o livro trata, segundo o autor, gira em torno do novo livro de Paul Gauthier: Le Concile et l' Eglise des Pauvres (1965). Segundo Mennini (2016), o texto de Gauthier, enviado em forma de manuscrito a Himmer e a vários bispos, para recolher as primeiras opiniões, encontrou muita resistência. O problema do estilo, da forma correta de utilizar e propor as teses mais significativas da Igreja dos pobres, desenvolvidas pelo grupo, começa cada vez mais a surgir. Mercier esperava que as aquisições teológicas do grupo do Colégio Belga fossem retrabalhadas por Congar e Mollat, a fim de estimular novas pesquisas, e assim garantir maiores garantias sobre o referencial teórico a ser apresentado na comissão conciliar.

Foram estudadas diversas estratégias sobre como apresentar o problema da Igreja dos pobres no debate conciliar. Por um lado, há quem defendia que é necessário antes de tudo falar diretamente com Paulo VI e, por outro, quem não considerava que tal abordagem fosse necessária. Neste contexto, o autor destaca a ação do então bispo de Bolonha Lercaro, coadjuvado por Giuseppe Dossetti. À medida que avançamos na reflexão percebemos cada vez mais que:

não bastava afirmar a necessidade do espírito de pobreza dos indivíduos, mas era preciso condenar o das instituições e, ainda mais, as formas modernas de usura, superar as formas de caridades de esmola para desenvolver estruturas de cooperação em favor da autonomia dos pobres (Mennini, 2016, p. 176).

Neste ponto, o debate se amplia para a busca das causas da pobreza. O Bispo Zoungrana do Alto Volta, falou em nome de 70 bispos africanos, argumentando que, o atraso no desenvolvimento, especialmente em África, se deveu a vários fatores. Antes de mais nada, foi necessário considerar a questão demográfica, o uso da terra, combinada com a limitada possibilidade de investimentos e a consequente falta de competitividade comercial dos países pobres. O debate na Câmara do Concilio continuou sobre o tema da questão dos trabalhadores e do comunismo. Pela narrativa relatada por Mennini, podemos perceber a grande importância que tiveram as intervenções de Woytila, que fez questão de apresentar e argumentar os perigos do marxismo e, ao mesmo tempo, apresentar a Igreja como única alternativa a ele. A partir deste momento, as intervenções no debate conciliar centraram-se no tema do ateísmo dos pobres e dos trabalhadores influenciados pelo comunismo. Também neste caso, foram esclarecedoras as reflexões propostas por Paul Gauthier: “O ateísmo dos pobres, diferente do dos ricos, esconde uma oração, silenciada pela propaganda que abusou da ignorância das massas, pela miséria que causou um sentimento de abandono e injustiça (Mennini, 2016, p. 205).

Segundo Gauthier (1965), a condenação do comunismo pela Igreja teria distanciado ainda mais os trabalhadores e, portanto, os pobres, da Igreja. Muitos dos pedidos propostos tanto por Gauthier como pelo grupo reunido no Colégio Belga, não foram aprovados ou foram aprovados de forma muito obscura. Foi por esta razão e com esta consciência que um grupo de cerca de sessenta bispos conciliares reuniu-se no dia 16 de novembro de 1965, cerca de vinte dias antes o encerramento do Concílio, para celebrar uma missa durante a qual assinaram um pacto, que ficou na história como o pacto das catacumbas. Neste texto, os bispos presentes no evento, declararam a sua disponibilidade para viver com sobriedade no que diz respeito à alimentação, à habitação e aos meios de transporte “de uma forma coerente com a vida quotidiana do nosso povo” (Mennini, 2016, p. 221). Declararam também, que não queriam possuir nada, confiando a gestão financeira a leigos. O compromisso estendeu-se também ao envolvimento dos irmãos e da sociedade civil neste estilo de sobriedade evangélica.



[1] Paul Gauthier (1914-2002) foi um padre e teólogo francês, considerado um dos precursores da Teologia da Libertação. Tem trabalhado principalmente no Médio Oriente e na América Latina em nome das pessoas mais pobres. Juntamente com Ettore Masina fundou a Rete Radie Resh pela solidariedade internacional.

[2] A Mystici Corporis Christi é a quarta encíclica de Pio XII, publicada no dia 29 junho 1943.


sexta-feira, 9 de maio de 2025

A EMOÇÃO DE UM HOMEM SOZINHO, GUIA ESPIRITUAL DO MUNDO

 


Gosto de ver o novo Papa assim: montado num burro. Assim como Jesus entrando em Jerusalém. É uma fotografia que diz muito mais sobre o novo Papa do que seu currículo acadêmico ou as tarefas que assumiu na Igreja. Há muita simplicidade transparecendo nessa imagem e todos nós precisamos desesperadamente dela.

Sua emoção era visível quando ele apareceu diante do povo. Estava claro que ele estava lutando para conter sua emoção. Há muita humanidade nesses pequenos detalhes, e é disso que o povo de Deus precisa: humanidade. Uma pessoa que se emociona significa que ela deixa espaço para os sentimentos, que em decisões importantes ela não se referirá apenas a conexões racionais de causa e efeito, mas haverá espaço para o que vem do coração e, neste momento particular da história, isso não é pouca coisa.

O novo Papa precisará muito dessa sua humanidade, para acompanhar um mundo devastado pelo ódio e pelas guerras, pelo desprezo das massas de pobres pelo pequeno grupo de ricos. Não serão suas qualificações acadêmicas que farão a diferença como guia espiritual neste mundo conturbado, mas sua paciência, sua gentileza, sua capacidade empática, seu desejo de tecer um diálogo com todos. O fato de ele falar de pontes a serem construídas é um bom indicativo de como ele pretende acompanhar a Igreja na dinâmica de um mundo conflituoso, que constrói muros, rejeita quem busca uma vida melhor e despreza os pobres. A igreja que constrói pontes: parece-me uma bela imagem que diz muitas coisas, cheia de esperança.

Houve um momento, nos minutos em que o novo Papa foi anunciado ao mundo, em que surgiu um forte contraste. De um lado, os gritos selvagens, quase como de estádio, dos fãs ferozes na Praça de São Pedro; de outro, o rosto contraído de um homem emocionado que, olhando para aquelas pessoas calorosas, sente todo o peso da responsabilidade espiritual que acaba de lhe ser confiada. Talvez, mais do que gritos e aplausos de estádio, que tanto lembram a entrada de Jesus em Jerusalém, primeiro louvado e depois insultado, seja necessária uma dose de calma, uma espiritualidade da espera, aquela que sabe acompanhar silenciosamente os acontecimentos da história e da vida, procurando não sobrecarregar demasiadamente com expectativas aquele que acaba de assumir um papel tão importante.

 

sábado, 3 de maio de 2025

CONTAMINAÇÕES TEOLOGICAS

 





Paolo Cugini


As palavras de Kepler vêm à mente quando, em seus diários, ele descreve sua dificuldade, que terminou em desespero, ao tentar aplicar os dados matemáticos de Tycho Brahe para descrever a rotação da Terra em torno do Sol. Ele não podia, como ele mesmo admitiu, porque tinha em sua mente a ideia aristotélica de perfeição, que era identificada com a figura geométrica do círculo. Foi graças a uma intuição, depois de alguns anos de trabalho duro, que ele pensou em uma nova figura geométrica: a elipse. A partir daquele momento, os dados matemáticos começaram a se encaixar quase perfeitamente. Além disso, Thomas Khun nos disse que os paradigmas culturais não só exigem longos períodos para serem estruturados, mas também para mudar e abrir espaço para novos modelos interpretativos. Coletar os dados que a ciência nos fornece hoje, permanecendo abertos a novas possibilidades e, sobretudo, não as considerando como definitivas, é a atitude epistemológica fundamental para não cair na armadilha ideológica. O mundo em expansão que a ciência nos oferece, como vimos, exige a disposição de permanecermos abertos a coisas novas, e não de nos fecharmos em estruturas ideológicas de pensamento, como aconteceu e continua acontecendo. Abandonar as confortáveis instalações dogmáticas do pensamento que, com o tempo, tendem a se tornar rígidas, significa apreender os aspectos positivos do mundo interconectado. Há uma primeira indicação metodológica que vale a pena considerar, que é a capacidade de trabalhar em conjunto, de criar redes de competências. É uma indicação de que a Igreja, acostumada a tomar decisões sozinha, a gerir o conhecimento como algo privado, a ser controlada como um monopólio. O caminho sinodal iniciado pelo Papa Francisco, que retoma o estilo dialógico de Jesus posto em prática durante o Concílio Vaticano II, está na linha do mundo interconectado, que exige a disposição de caminhar juntos, de valorizar as competências de todos, na consciência de que a verdade, antes de ser um conteúdo a possuir e defender, é um dom que encontramos no caminho, especialmente quando com humildade nos colocamos ao lado dos outros nessa busca.

Por estas razões, o conceito de contaminação parece-me importante, para ser usado no contexto teológico e eclesiológico. Primeiro, teológico. Reconhecer que o Espírito está presente na história e sopra onde quer, significa colocar-se na humilde atitude de escuta. Só assim é possível captar o dom repentino de uma verdade que vem de outro lugar, que não é fruto da nossa cultura e da nossa elaboração conceitual. Esta é, na minha opinião, a mudança paradigmática que a teologia é chamada a fazer: não se apressar em elaborar doutrinas fechadas, mas esperar pacientemente por aqueles fragmentos de verdade que o Espírito despertou e está despertando em outras culturas. A disponibilidade para se surpreender com as manifestações do Mistério exige atenção ao tempo presente e, nessa perspectiva, o método fenomenológico pode auxiliar na pesquisa. Trata-se, então, de aprender a pensar a verdade não como um conceito metafísico, estruturado em dinâmicas lógicas rígidas, que a tornam impermeável a qualquer contato cultural e assim provocam tensões, mal-entendidos, guerras. O novo contexto cultural que recupera positivamente os dados da ciência, nos ajuda a pensar a verdade como um "campo" aberto às novidades que um mundo em expansão produz, sempre pronto a integrar o discurso que acolhe as contaminações que vêm de todas as direções. A verdade como novidade contínua que encontramos no caminho da vida, reconhecível pelos significados encontrados na semente do Evangelho: amor, justiça, bem, paz.

Em segundo lugar, o uso do conceito de contaminação no campo eclesiológico não deve ser considerado arriscado. Acredito que, justamente nesse nível, a mudança de paradigma não só é mais fácil de ser alcançada, como já está em andamento. É em pequenas comunidades que ocorrem encontros não planejados com elementos que vêm de diferentes mundos religiosos, como canções, ritos, símbolos, que a hierarquia não pode controlar, graças a Deus. É desnecessário, portanto, citar aqueles raros exemplos de contaminação religiosa que ocorreram ao longo dos séculos, como o caso de Matteo Ricci que, justamente por isso, foi combatido pela Igreja. Nesse caminho, a experiência eclesial amazônica pode ser uma espécie de laboratório, considerando a grande riqueza cultural e religiosa que advém de séculos de experiência. Não é por acaso que a Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) vem estudando há alguns anos o desenvolvimento de um rito amazônico, também como resultado das reflexões surgidas no Sínodo sobre a Amazônia. É no cotidiano que é possível descobrir harmonias de conteúdos que vêm de outros caminhos e que têm o sabor do Evangelho. É nas comunidades que as contaminações ocorrem espontaneamente: basta deixá-las acontecer.


quinta-feira, 24 de abril de 2025

SINODO: ALÉM DAS PALAVRAS

 




A luta para democratizar os relacionamentos na Igreja


Paul Cousins

O processo sinodal da Igreja, iniciado há alguns anos pelo Papa Francisco, além dos muitos momentos positivos vividos especialmente entre os participantes dos dois Sínodos, mostrou algumas feridas que a Igreja vem arrastando há anos, na verdade, há séculos. Um esforço duplo é sentido. A primeira diz respeito à dificuldade daqueles que exercem a função de liderança da comunidade e que fazem parte da chamada hierarquia eclesiástica, de se sentirem parte da comunidade e não separados dela. A outra dificuldade diz respeito à forma verdadeiramente embaraçosa como a Igreja se aproxima das mulheres. Nestas poucas linhas tento dizer algo sobre o primeiro esforço. Também hoje na Igreja, infelizmente, as relações dinâmicas são marcadas por uma profunda desigualdade, que ameaça por dentro a bondade do caminho eclesial. Como podemos, de fato, avançar, dar continuidade a um caminho que começou mal, porque marcado pelo medo de deixar comunidades eclesiais mais livres para se expressar, mais autônomas e menos subjugadas por uma autoridade que parece vir de outro planeta, no sentido de que não parece pertencer ao mundo real? 

Tudo seria mais fácil e lógico se aqueles que na Igreja têm a tarefa de orientação pastoral permanecessem em contato constante com aqueles que vivenciam o cotidiano das comunidades. O que se sente há anos no caminho da Igreja é uma grande, às vezes enorme, distância entre as comunidades eclesiais e seus líderes, os pastores, os bispos e, com eles, os documentos que são emitidos. Este aspecto é estranho, porque desfigura o sentido autêntico do serviço que, no sentido evangélico, deve ser oferecido por aqueles que são chamados a desempenhar um papel de liderança na comunidade cristã. As palavras do Papa Francisco sempre me vêm à mente quando, na Evangelii Gaudium, ele defendeu a primazia da realidade sobre as ideias. A sensação que se tem, ao ler os relatos que emergem das fases do Sínodo, é a dificuldade de escuta da realidade e, ao mesmo tempo, o distanciamento da doutrina elaborada em relação à vida cotidiana das comunidades. Há uma espécie de distonia entre a vida e a doutrina, no sentido de que esta última parece não conseguir ler a experiência e, por isso, às vezes o que está escrito nos documentos oficiais da Igreja choca-se dramaticamente com os sentimentos do povo santo de Deus, como sempre diria o Papa Francisco. Por um lado, percebe-se a alegria de descobrir o Evangelho, da proposta impactante de Jesus, que convida as comunidades a se colocarem corajosamente ao lado dos pobres, dos excluídos da sociedade, para pensar juntos caminhos de justiça e de paz, neste mundo violento e agressivo. Nestes caminhos comunitários, percebe-se a grande força que o Espírito do Concílio Vaticano II deu ao caminho de toda a Igreja, fazendo-a redescobrir a beleza de ser povo de Deus, chamado a ser sinal de contradição no mundo. É neste nível que se percebe a idiossincrasia, o contraste, que se manifesta na incapacidade de aceitar como bom o que as comunidades indicam como dados a serem escutados para depois elaborar uma doutrina que tenha sabor de “ovelhas”, para usar as palavras do Papa Francisco.

Afinal, não é de se espantar essa dificuldade em ouvir quem vive na base da comunidade e levar suas sugestões a sério. Por um lado, houve um desenvolvimento desproporcional do ministério petrino ao longo dos séculos, que distanciou progressivamente a figura do Papa não só do povo, mas também e sobretudo da origem. O Vaticano II teve que trabalhar duro para tentar resolver um pouco da confusão institucional que se desenvolveu ao longo do tempo. Primeiro, realocando toda a hierarquia dentro do povo de Deus, e não acima. Em segundo lugar, recuperando o papel dos bispos no caminho eclesial, papel que, ao longo dos séculos, foi ofuscado pelos holofotes todos voltados para a figura cada vez mais excêntrica e totalitária do Papa. Por fim, um passo notável do Concílio foi falar e valorizar os leigos, mostrando seus carismas, o sacerdócio comum, a participação no tríplice múnus profético, real e sacerdotal. É verdade que, como afirma o epistemólogo Thomas Khun, as grandes revoluções exigem muito tempo para criar raízes, mas é igualmente verdade que o ímpeto de mudança provocado pelo Vaticano II se fez sentir em vários níveis. 

Sabemos que palavras e frases pomposas não são suficientes para erradicar uma prática que perdura há séculos e já passou por muitas estações. A prática que faz prevalecer a doutrina sobre a consciência pessoal, a imposição e a exigência de obediência obsequiosa, em vez do estímulo ao desenvolvimento da liberdade pessoal. Bastaria folhear alguns documentos eclesiásticos ou algumas encíclicas do século XIX para entender o nível do problema. Tanto o Mirari Vos de Gregório XVI em 1832 quanto o Syllabus de Pio IX em 1864, para dar apenas alguns exemplos, condenaram a liberdade de consciência e a liberdade de imprensa. Parece incrível, mas é exatamente isso que está escrito nesses dois documentos. Estes são textos, no entanto, que indicam a consequência lógica daquelas proibições à leitura da Bíblia por leigos em línguas vernáculas, emitidas pelo Papa Pio IV em 1564, na conclusão do Concílio de Trento. Proibições que revelam o medo de uma interpretação individual da Escritura, de uma autonomia em relação ao Texto Sagrado, o que poderia resultar em contraste com a leitura oficial da Igreja. O medo da liberdade de consciência é o sintoma de uma subversão radical da proposta de Jesus que, durante sua vida pública, fez de tudo para ajudar seus discípulos a terem uma visão crítica da religião, a não confiar nos charlatões do momento, a buscar uma visão mais autêntica da realidade. Sabemos que esse clima de desconfiança em relação a uma possível leitura individualista das Sagradas Escrituras foi fomentado pela polêmica com Lutero e sua afirmação da sola Scriptura. No entanto, voltando no tempo, descobrimos que proibições à leitura das Escrituras já existiam no século VII d.C. C., imediatamente após o colapso do Império Romano e a destruição das grandes bibliotecas do Ocidente cristão. A barbárie cultural abriu caminho, por um lado, para a expansão da devoção religiosa e, por outro, para uma institucionalização da Igreja num sentido político e não evangélico. 

O medo da autonomia dos leigos e das comunidades cristãs por parte da hierarquia eclesial, portanto, vem de muito tempo e não pode ser erradicado de um dia para o outro. Esse medo indica a incapacidade de pensar um caminho eclesial que valorize os carismas de todos, como nos sugeriu São Paulo. Também significa a distância infinita do plano de Jesus para uma comunidade de discípulos homens e mulheres iguais. Por isso é importante prestar muita atenção aos conceitos que são propostos pela hierarquia eclesiástica para indicar o caminho a seguir. Aprendi, de fato, a desconfiar daqueles bispos que falam muito sobre comunhão, mas depois, na prática, entendem a comunhão como uma submissão à sua vontade, e não como uma partilha de opiniões de acordo com o princípio da igualdade. Além disso, conhecemos muito bem a história do Sínodo Extraordinário dos Bispos, realizado em Roma em 1985, que levou à substituição da ideia conciliar da Igreja como povo de Deus pela da Igreja como comunhão. Não há nada a reclamar sobre a bondade do conceito de comunhão, que, no entanto, funciona, eclesiasticamente falando, se mantido em relação ao do povo de Deus. O risco, que então se concretizou, consiste em fazer renascer no dinamismo eclesiástico, de modo delicado e pela janela, aquele autoritarismo clerical que o Concílio Vaticano II tinha decisivamente posto para fora. 

A partir do batismo, como sugere o número 32 da Lumen Gentium, é o dado importante a ser retomado para construir comunidades nas quais todos se sentem à mesma mesa com direito à palavra e à manifestação de sua opinião. Devemos fazer tudo para recuperar o fato fundamental do princípio da igualdade, que já é vivenciado em muitas comunidades, mas que se complica quando se senta à mesa alguém que pensa ter mais direitos que os outros. Essa dissonância, que muitas vezes se disfarça de arrogância, revela um caminho eclesial feito de clericalismo, de autoritarismo sem qualquer fundamento evangélico. Jesus havia dito que entre nós, discípulos, tanto homens como mulheres, o estilo é o do serviço humilde, de buscar o último lugar e não o primeiro, como acontece na lógica do mundo. “Não será assim entre vós” (Mc 10,43). Democratizar as relações dentro da Igreja seria um sinal profético de grande valor, neste tempo marcado pela nostalgia do totalitarismo.


quinta-feira, 10 de abril de 2025

BÍBLIA E HERMENÊUTICA: CARLOS MESTERS

 





CONGRESSO CONTINENTAL DE TEOLOGIA

PORTO ALEGRE – OUTUBRO 2012


Síntese: pe Paolo Cugini

Centro dos estudos Bíblicos: CEBI. Sem os movimentos populares nãohaveria leitura popular da Bíblia. É necessário colocar a Bíblia na mão do povo. 

Desenvolver uma metodologia de leitura bíblica numa caminhada pastoral. É aqui que nasce o método: ver, julgar, agir. 

A leitura popular da Bíblia ajudou a dar a palavra aqueles que não são acostumados. Este fato ajudou no caminho do protagonismo dos leigos. Quando o leigo se conscientiza com a Palavra de Deus a coisa vai para a frente. 

Onde se manifestou isso?

1. Teologia da terra: é a questão que mais se destaca a nível nacional.

2. Movimento político. Lei da ficha limpa, lei 9840, etc.

3. A consciência indígena. 

4. A luta dos afrodescendentes

5. Lutas das mulheres. Lei Maria da Penha

6. Mobilização dos homossexuais

7. Frentes ecológicas

8. Novos avanços da ciência (biotecnologia, física quântica, etc)

Problemas abertos: saúde, educação, alimentação, moradia.

A pauta ampliou o leque, mas os grandes problemas estão abertos.

Ap 13: a visão das duas bestas. 

A besta que vem da terra é o neoliberalismo que produz o consumismo. Hoje a morte está presente em muitas casas. Hoje a questão é saber se estamos sabendo enfrentar esta segunda besta. 

A Dei Verbum é o documento talvez mais importante do Concilio. Deus fala também hoje, e não apenas no passado. A Bíblia nos ensina onde Deus fala hoje, no meio do povo, na nossa vida. Deus fala hoje. 

“Aquilo que vimos e ouvimos nós o anunciamos a vós”. 

7 pontos 

1. A Bíblia é a Palavra de Deus. A Palavra já está no coração do povo. A missão principal é revelar. Deus está nos fatos. Tirar o véu dos fatos. A vida ajuda entender a Bíblia e vice-versa. Tudo é revelação, pois Deus criou chamando. 

2. A Bíblia é a Palavra de Deus em linguagem humana. Se é linguagem humana deve ser interpretada. 

3. Jesus é a chave principal da Palavra. 

4. A Bíblia é livro da Igreja. A infalibilidade nasce de baixo para cima. A força das CEBs é na base. A leitura fundamentalista agrada aos poderes conservadores.

5. A leitura orante. A interpretação da Bíblia deve estar a serviço da evangelização e não de ideologias. 

6. No céu convive água e fogo: é típico do pensamento semitio, convivência dos polos oposto. Na mentalidade europeu-grega os opostos se eliminam: a razão e o mito, a razão acaba com o mito. Na mentalidade semítica acontece a convivência dos apostos: marido e mulher. O discurso científico é fundamentalista, porque exige sempre a fundamentação; pelo contrário o conhecimento do povo não precisa disso. 

7. Justiça de Deus: nova possibilidade de ser salvo. 


segunda-feira, 31 de março de 2025

O VERGONHOSO ESPETACULO DO ASSENTEISMO DOS VEREADORES DE MANAUS

 



No centro o vereador José Ricardo organizador do evento


Paulo Cugini

Na última semana aconteceram duas audiências públicas na Camara dos Vereadores de Manaus. A primeira, realizada no dia 27 de março 2025, na ocasião da apresentação da Campanha da Fraternidade com o tema: Ecologia Integral. Entre as várias autoridades presentes e os representantes de alguns movimentos sociais, que atuam na cidade, estava o cardeal de Manaus dom Leonardo Steiner. Nesta ocasião somente dois vereadores se fizeram presente: José Ricardo e Pai Amado. 

O segundo evento realizado no dia 31 de março, foi uma audiência pública articulada pelo vereador José Ricardo, para debater sobre a cobrança da tarifa de esgoto. Tema, este, de grande importância pela população que, em vários casos, como foi relatado por alguns moradores presente na Camara, recebem o boleto para o pagamento da taxa, mas sem receber o serviço. Neste evento os vereadores presentes foram cinco: José Ricardo, Pai Amado, Rodrigo Guedes, Paulo Tayrone, Sergio Baré. 

Nas últimas eleições municipais, que aconteceram o ano passado, foram eleitos 41 vereadores. Come se encontra no site do Tribunal Superior Eleitoral: “Cada vereador é eleito de forma direta, pelo voto, tornando-se um representante da população. Por isso, deve propor projetos que estejam de acordo com os interesses e o bem-estar do povo”. Este é o ponto delicado sobre o qual quero chamar a atenção. 

Membros do Movimento fé e cidadania da paróquia São Vicente de Paulo
presentes ao evento

Todos nós lembramos o grande trabalho realizado o ano passado pelos candidatos a vereadores, que fizeram de tudo para serem eleitos. Muitas foram as promessas pronunciadas nos comícios. Muitas, também, as apertadas de mãos, os sorrisos, os abraços. Muitas foram as pessoas que, de uma forma ou de outra, colaboraram para que, os candidatos que apoiavam, fossem eleitos. Grupos de rua, ou até grupos religiosos se articularam para ver o próprio candidato sentado numa das preciosas 41 cadeiras da Camara Municipal de Manaus. Isso é louvável pois, se o vereador, como fala a constituição, representa o povo e é chamado a propor projetos com os interesses e o bem-estar do povo, para depois elaborar leis – outra tarefa importante do vereador -, é de suma importância que alguém do povo esteja sentado na Camara Municipal, para trabalhar em prol do povo.

A sensação que tivemos nesta semana participando destes dois eventos públicos é que, na realidade, a maioria dos vereadores que foram eleitos, não estão nem aí com o povo. Parece que fizeram de tudo no ano passado, não para trabalhar quatro anos em prol do povo, vivendo perto do povo, para pensar com o povo como melhorar a vida, mas o único interesse parece tenha sido botar no bolso uma boa grana sem fazer absolutamente nada. Falando de grana é bom lembrar que, no dia 8 de janeiro 2025, saiu uma matéria no jornal Globo dizendo que os vereadores de Manaus passam a receber a partir do 2025 o maior salário entre os legisladores municipais do Brasil, igualando os parlamentares de São Paulo. O subsidio, lembra sempre a Globo, foi fixado por 26080 Reais mensais, acompanhando o teto estabelecido pela legislação para cidade com maior população. Além disso, devem ser levados em conta outros benefícios que, conforme os cálculos encontrados na matéria da Globo, chega ao numero espantoso de 98 000 reais por mês.  Este dado aumenta ainda mais a nossa decepção, a nossa revolta: é muita falta de vergonha na cara. 


Não se fazer presente num evento na casa onde eles são chamados a representar o povo, pagados além de qualquer imaginação, para demonstrar a própria solidariedade com o povo pobre que sofre injustiça, revela a falta de compromisso da maioria dos vereadores de Manaus, que não se fizeram presente á eventos que teriam exigidos como minimo uma presença, além da possíbilidade de manifestar a opinião como represntantes eleitos pelo povo.

Isso não vai ficar aqui. O Movimento fé e Cidadania da Igreja Católica que está presente na paróquia de São Vicente de Paulo, vai ficar de olho aberto, atento, registrando tudo de bem e também de mal que está acontecendo e que vai acontecer na casa do povo, sendo os vereadores nossos representantes. 

O objetivo do nosso trabalho é acumular um material suficientemente documentado para orientar melhor o povo na escolha dos nossos representantes, para que sejam verdadeiramente a serviço das causas do povo, sobretudo os mais pobres e carentes.