Paulo
Cugini
Há
cerca de um ano, a Cáritas da paróquia de San Vincenzo di Paolo, onde exerço o
meu ministério, organiza uma vez por mês um almoço para aqueles que vivem nas
ruas, que não têm casa. É uma gota no oceano de pobreza que envolve o
território da nossa freguesia: temos consciência disso. Em todo o caso é um
sinal, no sentido de que, com este pequeno gesto, queremos implicitamente
comunicar que os vemos, sabemos o quanto sofrem e, na medida do possível,
estamos lá. Na realidade não se trata apenas do almoço, mas também do
pequeno-almoço da manhã
e da distribuição de roupas. Além disso, uma vez por mês, no mesmo dia do
almoço, a Cáritas visita as famílias que moram embaixo da ponte de Manaus, área
que faz parte da nossa paróquia.
Equipe da cozinha da Cáritas paróquial |
No
sábado, 20 de abril, participei do dia da Caritas e fiquei impressionado com
alguns dados. Pude constatar que aqueles que operam o serviço da Caritas são
todos pobres, ou seja, são pessoas do mesmo grupo social daqueles que são
alcançados pela Caritas. Na verdade, alguns destes voluntários da Cáritas já
foram ajudados a pagar a renda, ou com um saco de compras. É, portanto, uma
questão de pessoas pobres ajudarem outras pessoas pobres. Sem dúvida, quem
chega para participar da refeição da Caritas é mais necessitado do que quem faz
esse serviço, mas ainda é pobre. O segundo fato que realmente me impressionou
foi a situação de grande pobreza daqueles que visitamos sob a Ponte de Manaus
ou nas proximidades da ponte. São situações como essas que, ao nos depararmos
com elas, ficamos atordoados, sem palavras, permeados por uma sensação de
impotência, provocados a pensar que parece não haver limite para a desumanidade
de quem agarra tudo o que pode e não se preocupa com aqueles que não conseguem
nem comer as migalhas debaixo da mesa dos ricos.
Uma das baracas que se encontram perto da ponte |
O
município de Manaus fornece diariamente refeições aos pobres em dois locais da
cidade. Não os distribui gratuitamente, mas exige um real. Um gesto
simbólico para dizer que não oferece refeição grátis. Refeição que, quem quiser,
deve chegar às 9 da manhã para pegar o ingresso de inscrição e depois retornar
às 12. Estratégia usada pelo município para desencorajar os espertos que, para
comer de graça , entram sorrateiramente na fila dos pobres. O município,
portanto, faz alguma coisa, mesmo que a demanda seja muito ampla. Manaus é, na
verdade, uma cidade do país mais desigual do mundo. É o que emerge dos recentes
dados divulgados pelo site Unisinos da Universidade de São Leopoldo, no Sul do
Brasil, que organizou um mestrado sobre a realidade social da América Latina.
Cerca de 20 milhões de pessoas no Brasil vivem em favelas. Ainda assim, o
Brasil é a oitava potência económica do planeta e poderia facilmente colocar-se
no pódio, dada a grande riqueza em matérias-primas e o tecido industrial do
país. No continente sul-americano, mais do que em outras partes do planeta, é
visível o resultado devastador do modelo neoliberal, que continua a enriquecer
alguns e empobrecer a maioria da população.
O evento formativo de Fé e Cidadania |
Foi
fundada na paróquia de São Vincenzo de Paulo a Comissão Fé e Cidadania .
No mesmo sábado do jantar da Cáritas, à noite o grupo Fé e Cidadania organizou
um evento em que o Promotor de Justiça Flávio Mota e o advogado Carlo Santiago
foram convidados a apresentar e explicar as leis contra a corrupção eleitoral
presentes no Brasil. Este ano, na verdade, é ano de eleições municipais e, nas
cidades brasileiras, são eleitos prefeitos e vereadores. São eleições muito
disputadas, porque o dinheiro para a infraestrutura, educação e saúde das
cidades chega aos cofres dos municípios e, consequentemente, quem chegar ao
poder terá que gerir muito dinheiro. Não é por acaso que o país mais desigual
do mundo seja um dos países mais politicamente corruptos. Onde há pobreza há
corrupção.
O promotor de justiça Flavio Mota com o advogado Carlos Santiago |
O
trabalho pastoral que o Movimento Fé e Cidadania é chamado a realizar
consiste, em primeiro lugar, em formar os cidadãos sobre as leis do país contra
a corrupção eleitoral e, em segundo lugar, em garantir que os candidatos atuem
no nosso território paroquial no cumprimento das leis. Tanto o promotor de
justiça como o advogado presente no evento lembraram-nos que, o trabalho de
sensibilização que a paróquia está pronta para começar neste ano de eleições,
não será fácil e tranquilo, mas será necessário dotarmo-nos de muita paciência
e prudência. Vamos esperar pelo melhor.