terça-feira, 23 de setembro de 2025

O Paganismo Eslavo Contemporâneo: Entre Mitos e Religião Vivida

 



 

Palestrante: Prof. Dr. Giuseppe Maiello (Universidade de Praga)Moderadora e Tradutora: Profa. Dra. Marcia Enéas Costa (UFPB)Síntese: Paolo Cugini

Desde 1054, formam-se dois polos: Oriente e Ocidente. Existe uma fronteira cultural que ao longo dos séculos gerou guerras. Hoje, essa fronteira voltou a ser uma espécie de “cortina de ferro”.

O mundo eslavo é marcado por guerras e divisões: sempre foi assim? As línguas eslavas são próximas entre si. Se houver concentração, é possível comunicar-se com os povos eslavos. A distância linguística entre as línguas eslavas leva à consideração de que, em tempos passados, todos esses povos possuíam uma única cultura. Esses povos não deixaram vestígios antropológicos; chamamo-los de eslavos. Temos poucas fontes históricas. Os eslavos não utilizavam a escrita, tal como os povos indígenas que se valem da oralidade. Para reconstruir as fontes religiosas dos eslavos, baseamo-nos nas fontes dos prelados cristãos ou nos relatos de viajantes muçulmanos que visitavam esses lugares para comprar escravos. A palavra “eslavo” é muito semelhante à palavra “escravo”.

A partir do final do Iluminismo, observa-se um grande interesse pelas culturas eslavas. Os etnógrafos desempenharam um papel importante, especialmente em temas ligados aos costumes sexuais. Os cristãos assimilaram elementos culturais dos eslavos, modificando-os e cristianizando-os. No século XX, surgem os primeiros resultados das pesquisas antropológicas sobre a cultura eslava. O paganismo eslavo foi interpretado pelas leis. Identifica-se o modelo linguístico eslavo com a existência de um povo indo-europeu chamado ariano. Os indo-europeus, os arianos, foram considerados a melhor raça. Em particular, na Alemanha, acreditava-se que os arianos eram loiros e de pele clara, tese impossível de ser comprovada. A Alemanha nazista gastou enormes quantias para “melhorar” a raça ariana. A simbologia nazista utiliza materiais provenientes do período ancestral dos povos eslavos.

Paganismo eslavo contemporâneo. A Rússia é o maior país eslavo. Atualmente, existem 193 minorias étnicas na Rússia. Muitas dessas minorias conseguiram preservar suas culturas, também porque a Rússia permitiu este processo de conservação. A Rússia é um terreno fértil para o renascimento do paganismo, mesmo que esse renascimento tenha raízes em movimentos filosóficos ocidentais. Isso é visível em alguns poetas russos. Pintores e músicos também são testemunhas do paganismo russo. O paganismo eslavo russo contemporâneo possui muitos elementos de pacifismo. Em alguns grupos pagãos, sobretudo polacos, nota-se certa simpatia por símbolos nazistas que estão presentes no paganismo eslavo ancestral. Entre os eslavos orientais, houve uma fratura no mundo neopagão.

Os grupos pagãos contemporâneos discordam dos seus próprios modelos. O nacionalismo tornou-se tão radical que provocou tensões entre os grupos. No paganismo eslavo contemporâneo oriental, há uma tendência à politização em relação aos povos eslavos ocidentais. Existe também a sensibilidade em relação à Terra como sagrada. Os valores religiosos são mais fortes nas faixas etárias mais avançadas da população.

O paganismo eslavo contemporâneo é um fenômeno marginal na sociedade. Religião vivida no paganismo eslavo contemporâneo: existem rituais que seguem o calendário solar, realizados de quatro a cinco vezes por ano. As celebrações populares são mais frequentes. São as comunidades agrárias que enfatizam a mitologia solar. As danças que seguem o movimento da lua remetem a sociedades ainda mais arcaicas.

Perguntas

Nos rituais pascais, há contaminações com referência a mitos pré-cristãos. A igreja, apesar de existirem jogos sexuais que podem incomodar, tolera-os. Há muitas contaminações. O nazismo apropriou-se de símbolos pré-cristãos, mas uma parte não queria confrontar o cristianismo. Buscavam a supremacia da raça.

 

sábado, 6 de setembro de 2025

GRITO DOS EXCLUÍDOS E EXCLUIDAS MANAUS 2025

 




A Arquidiocese de Manaus está organizando uma grande manifestação com o objetivo de envolver a região da Bacia Hidrográfica do Sul.

 

Paolo Cugini

 

O Grito dos Excluídos consiste numa uma série de manifestações populares realizadas no Brasil em 1995, por ocasião do Dia da Independência, culminando em 7 de setembro, Dia da Independência do Brasil. Essa manifestação milagrosa representa o primeiro passo rumo à exclusão da sociedade, denunciando os mecanismos sociais de exclusão e propondo uma abordagem alternativa para uma sociedade inclusiva.

Sua origem remonta à II Semana Social Brasileira, promovida pela Pastoral Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), realizada entre 1993 e 1994, quando Dom Luiz Demétrio Valentini era o responsável pela Pastoral Social. Embora a iniciativa tenha sido lançada diretamente pela CNBB, diversas organizações participaram do movimento desde sua criação: igrejas do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, movimentos sociais e organizações cristãs comprometidas com a justiça social. Os eventos são variados: celebrações, atos públicos, romarias, caminhadas, seminários e debates, teatro, música, dança e feiras de economia sustentável.

No dia 5 de setembro, feriado mais importante para os povos amazônicos, acontece em Manaus o primeiro passo para o 31º Grito dos Excluídos. O tema é "A Vida em Primeiro Lugar" e o lema "Cuidar da Casa Comum e da Democracia é uma Luta Diária", que ecoa o clamor pela vida, pela floresta e pela democracia. A questão é o futuro da Amazônia, que a tornará provincial, um marco na história do nosso país que comemora o destino e a resistência dos povos desta terra. Se for comemorado antes do Dia da Amazônia, é a necessidade de ser cuidada e preservada.



O evento, promovido pela Arquidiocese de Manaus por meio de sua Pastoral Social, nasceu com um papel importante na cura da Amazônia e de cada pessoa de sua população. Cuidar da Amazônia é cuidar da vida e de toda a humanidade. Mas vemos isso como a floresta destruída, os rios contaminados, os povos indígenas e ribeirinhos atacados, expulsos e assassinados. A Amazônia não é vida, cultura, cheiro e resistência; vivemos na ecologia central, vivemos em resistência.

Agora é mais um momento de paz no Plebiscito Popular 2025 - Justiça Fiscal Já! e em toda a produção agrícola, com o firme apoio do partido presente. Essa reivindicação é uma grade de arrecadação de impostos e contribuições, composta por um imposto de renda sulista para quem ganha uma multa de 5.000 reais e o risco de um imposto milionário, que acumula riqueza às custas dos pobres. Um dos slogans mais recorrentes durante a manifestação: "Parem de taxar os pobres, enquanto os ricos acumulam riqueza e se esquivam de suas responsabilidades sociais!"

Durante o mês de março, a campanha "Água e lixo não se misturam" foi destaque. Essa campanha visa mobilizar a sociedade, tanto pública quanto privada, para o enfrentamento das ondas em Igarapés. A marcha percorreu a Zona Leste de Manaus, reunindo centenas de pessoas que levantaram a voz por uma vida digna para aqueles em situação de exclusão e vulnerabilidade social, reivindicando, entre outras coisas, vida, saúde, moradia, políticas públicas, respeito e dignidade.



Por fim, o Cardeal Leonardo Steiner, marcando presença por meio de seu longo relacionamento com o Arcebispo de Manaus, o encorajou a continuar impecavelmente construindo uma sociedade mais generosa e fraterna, em nome do Evangelho.

Um discurso de gratidão a todos, olhando para o futuro, por terem participado do 31º Grito dos Excluídos. Agora, a partir desta questão prospectiva, continuamos a dizer algo, criando uma população de dois milhões e trezentas pessoas. Mas nós o amaremos em seu nome. Mostraremos a nossa verdadeira realidade, porque acredito que ela transformará. E eu creio, em nome do Evangelho, que podemos ter uma sociedade comunitária, uma sociedade fraterna, podemos viver em nossa casa comum e sempre ter um governo, ancorar uma revolução, ser sempre democráticos, sempre em paz, enfatizou Dom Leonardo.

Nossa paróquia, São Vicente de Paulo, participou com cerca de cem pessoas.

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Jacques Derrida e o conceito de contaminação na desconstrução

 




Uma reflexão crítica sobre a desconstrução derridiana e a interação entre tradições


Paolo Cugini

Jacques Derrida (1930-2004), filósofo franco-argelino, é universalmente reconhecido como o pai da desconstrução, uma metodologia de leitura e pensamento que revolucionou as formas de compreender o texto, o sentido e a tradição. Um dos pontos importantes de sua reflexão é o conceito de “contaminação”, termo que adquire um valor positivo e estratégico não apenas na crítica literária, mas também na interpretação dos textos religiosos, dos sistemas de pensamento e das tradições culturais.

A desconstrução, segundo Derrida, é o movimento que evidencia as tensões, contradições e aporias dentro de um texto, revelando como nenhuma construção teórica, nenhum sistema, pode ser considerado puro ou autossuficiente. A ideia de contaminação surge como antídoto à lógica identitária e à busca de uma origem incontaminada. Em "Da Gramatologia" (1967), Derrida afirma que “o texto está sempre já contaminado por aquilo que não é ele”, sublinhando que nenhum sentido pode ser pensado como isolado e que todo significado se gera na interação e na diferença. A contaminação, neste contexto, não deve ser entendida como um defeito ou uma intrusão negativa, mas como a própria condição de possibilidade do sentido: “A pureza nunca é dada, é sempre construída contra, pela exclusão ou pela diferenciação de uma alteridade que necessariamente a contamina.” (Derrida, "A Disseminação", 1972).

Quando Derrida se confronta com a leitura dos textos religiosos, sua crítica da pureza adquire um alcance ético e político. No ensaio "Fé e Saber" (1996), Derrida mostra como toda religião, toda tradição espiritual, é irremediavelmente marcada pela contaminação de outras narrativas, práticas, rituais e linguagens. Não existe uma tradição religiosa que possa ser separada de influências externas; mesmo os textos sagrados são o resultado de sedimentações, traduções, interpolações e reescritas. “Não há religião que possa se afirmar na pureza de sua origem: toda fé é atravessada, alterada, modificada pelo encontro, pela troca, pela tradução.” (Derrida, "Fé e Saber"). Isso significa que a busca por uma “origem pura”, seja numa religião, seja numa cultura, é uma construção ideológica que serve para delimitar fronteiras identitárias e excluir a alteridade. Ao contrário, a contaminação torna-se um espaço de abertura, de diálogo e de hospitalidade.

Deridda


A abordagem derridiana não se limita a uma crítica epistemológica, mas se traduz numa verdadeira ética da contaminação. Em "Adeus a Emmanuel Lévinas" (1997), Derrida retoma o tema da hospitalidade, mostrando como a abertura ao outro e a disponibilidade “a ser contaminado” são as condições da justiça e da responsabilidade. “A hospitalidade é sempre a possibilidade de ser afetado, transformado, contaminado pelo outro que acolho.” (Derrida, "Adeus"). Essa visão se reflete também na leitura dos textos religiosos, onde a interpretação deve aceitar a possibilidade de ser “contaminada” por outros sentidos, outras tradições, outras linguagens, sem querer neutralizá-las ou absorvê-las. Derrida rejeita qualquer ideia de fronteira rígida entre as tradições, propondo a contaminação como processo criativo e gerador.

Em "O Monolinguismo do Outro" (1996), a contaminação linguística torna-se metáfora do diálogo entre culturas e religiões. A língua, como a tradição, está sempre já atravessada por traços de outras línguas, e é justamente por isso que está viva: “Nunca falamos uma língua pura. Cada palavra, cada texto, cada tradição é atravessada pela diferença, pela marca de uma alteridade que a constitui.” (Derrida, "O Monolinguismo do Outro"). Neste sentido, a desconstrução mostra que a contaminação é a própria condição de toda identidade: não um perigo, mas um recurso.

Quando se leem os textos religiosos com o olhar derridiano, descobre-se que toda sacralidade, todo dogma, é o resultado de uma estratificação histórica, de uma contaminação com textos precedentes, paralelos ou externos. A Bíblia, o Corão, os Vedas, são textos que carregam a memória de línguas, tradições e culturas diferentes, e toda tentativa de purificá-los está fadada ao fracasso. A leitura desconstrucionista, assim, convida ao reconhecimento das marcas de outras tradições dentro de cada texto sagrado, a acolher a contaminação como abertura para novos sentidos e novas interpretações; viver a diversidade não como ameaça, mas como possibilidade de hospitalidade e justiça.

Também as práticas e rituais religiosos, observa Derrida, são o resultado de contaminações. As liturgias cristãs, por exemplo, incorporaram elementos pagãos, e as festividades religiosas são frequentemente entrelaçadas com tradições populares e folclóricas. Em "Fé e Saber", Derrida escreve: “As práticas nunca são puras: são fruto de uma multiplicidade de encontros, negociações, adaptações.” Essa consciência permite superar as rigidezes dogmáticas e acolher a pluralidade como riqueza. A tentativa de preservar uma tradição em sua suposta pureza, segundo Derrida, conduz inevitavelmente à exclusão, à violência simbólica e material contra o outro. A contaminação, ao contrário, é o caminho para uma sociedade mais justa porque aberta à diferença e à transformação. Em "Políticas da Amizade" (1994): “O verdadeiro amigo é aquele que aceita a possibilidade de ser afetado, modificado, contaminado pelo outro, sem perder a própria hospitalidade.”

O conceito de “contaminação” na filosofia da desconstrução de Jacques Derrida revela-se uma poderosa ferramenta para a leitura dos textos religiosos, das tradições e das culturas. Nenhuma tradição, nenhum texto, nenhuma identidade pode ser pensada como “pura”, pois todo sentido se produz na abertura e na hospitalidade ao outro. Viver a contaminação significa acolher a diferença, reconhecer a marca do outro, e deixar-se transformar pelo encontro. É nesta perspectiva que a desconstrução se torna não apenas uma teoria da leitura, mas uma verdadeira ética da hospitalidade.