domingo, 29 de setembro de 2019

PAZ E SILÊNCIO







[Arquivo Miguel Calmon 2002]


Paolo Cugini


É assustador ver como os homens têm facilidade de pegar as armas para matar outros homens. É ainda mais espantoso quando isto é feito em nome de supostos princípios religiosos. Eu, de fato, acredito naquilo que Bin Laden, há alguns dias, vem dizendo por aí, ou seja  que a guerra dos Estados Unidos, além de manifestar um interesse para o petróleo iraquiano, representa também uma tentativa de contrastar o mundo islâmico.

A guerra é sempre feia, mas quando no meio aparecem motivos religiosos é ainda mais feia. Quem é que vai se lembrar da sensação decepcionante que provocou a chacina que aconteceu na Ruanda em 1994 quando duas tribos de religião católica, Utsi e Tutsi se massacraram para obter o poder político?

Pertencer a uma igreja ou a uma religião é uma coisa, interiorizar um conteúdo religioso é toda uma outra história. E assim nós temos igrejas lotadas de pessoas religiosas, que não sabem quase nada do conteúdo da religião que dizem pertencer. O resultado desse ateísmo religioso está aí, sobre os olhos de todo mundo. Quantas fofocas e brigas. Quantas pessoas religiosas não conseguem perdoar e dizer aquela palavrinha mágica: “desculpa”.

Interiorizar o Evangelho para que seja Jesus a guiar nossos passos, nosso pensamento: é o grande desafio.  Aceitar calar a boca e escutar. Parar de sair, entrar em si mesmo, é buscar o silêncio para aprender a discernir a voz do Mestre, para segui-lo.   
                                                                           

sábado, 21 de setembro de 2019

OS POBRES NÃO NOS DEIXARÃO DORMIR





[Arquivo Miguel Calmon 2004]
Paolo Cugini

Quem nasceu pobre, em um contexto pobre acha que a realidade é isto mesmo. Quem nasceu escravo nunca viu passar na cabeça dele de querer ser o patrão. Mesma coisa vale para o rico: ele pode até chegar a ter pena do pobre, más não vai querer trocar de jeito nenhum o seu lugar. O mundo é assim, cada um no seu cantinho.

É interessante observar como cada um deste dois mundos se organiza. O pobre vive o seu dia a dia se virando de qualquer jeito, tecendo uma rede de amigos e parentes que podem socorre-lo no momento de extrema necessidade. O pobre procura no rico um protetor, alguém que passa ajuda-lo de vez em quando. Os pobres sabem que, para eles, é impossível alcançar o patamar dos ricos. Por isto, vive tranquilo, se organizando e procurando sobreviver num nível baixo de vida. Aprender a viver com pouco e de pouco, ficar alegres e agradecer a Deus do pouco que consegue, ficar satisfeito de tudo aquilo que Deus cotidianamente doa: é esta a grande riqueza do pobre!

Pensar que uma família pobre cheia de filhos possa viver com o dinheiro que passa o governo, é loucura pura. Se o pobre não reclama, mas pelo contrário agradece a Deus pelo pouco que recebe, é porque aprendeu a arte da sobrevivência. Aprendeu a dormir no chão, a se curar de doenças com chá de ervas do mato, pois os remédios são caríssimos. Aprendeu a aceitar o frio nos meses de inverno e a fome nos dias onde não tem nada pra comer. O pobre aprendeu que, se ele não tem nada para cuidar da sua vida, da sua família não é porque Deus é injusto, mas porque o homem é mau.

É por isso que a paroquia deve seguir sempre mais de perto o caminho de Jesus, incentivando uma vida de partilha. A Igreja é aberta para ricos e pobres e, os ricos, escutando o evangelho, deveriam aprender a partilhar, pensando projetos sociais que visam ajudar os pobres, a aprender deles a viver com pouco.

BATISMO E COMUNIDADE



[Arquivo Miguel Calmon 2003]
Paolo Cugini



Pois todos fomos batizados num só Espírito para sermos um só corpo (1 Cor 12,13).

É assim que São Paulo escreve mostrando o sentido do Batismo, para os membros da comunidade de Corinto. O Espírito que recebemos no Batismo, além de ser instrumento de nossa salvação, nos impele a formarmos um só corpo.
Assim a Igreja torna-se o conjunto de todos os batizados que impelidos pelo Espírito Santo, esforçam-se para alcançar a comunhão. De que maneira?
Perdoando, partilhando aquilo que eles têm, solidarizando com os mais fracos, os mais carentes, comprometendo-se a realizar um mundo mais justo e fraterno. É por estes motivos que a nossa paróquia de Miguel Calmon, escutando as orientações da nossa Diocese de Rui Barbosa, sempre com mais força e determinação, caminhamos para que o Batismo volte a ser aquilo que era desde o começo do Cristianismo: a porta de entrada na Igreja. Infelizmente a falta de conhecimento da Palavra de um lado e, exigências pastorais do outro, produziram uma rachadura muito profunda no sentido original do Sacramento do Batismo. E assim, ao invés de ser o Sacramento que coloca uma pessoa dentro de uma comunidade cristã, o Batismo torna-se algo de autônomo, independente, como um objeto de uma loja que se possa até comprar.

De que forma nossa paróquia está ajudando os católicos para entrarem nesta nova mentalidade (que na realidade é bastante velha enquanto remonta às origens de nossa Igreja)? Em primeiro lugar, nestes últimos anos foram fortalecidas as comunidades de base não apenas na zona rural, quanto também na cidade. De fato, nasceram 17 novas comunidades na zona rural e 12 na cidade, além de manter acompanhamento pastoral naquelas que já existiam.   Fato interessante é que, além da equipe paroquial são também os ministros da Palavra e algumas das pastorais da nossa paróquia que estão ajudando no fortalecimento das Comunidades Eclesiais de Base. A Pastoral Familiar, da Juventude, do Dízimo, os Vicentinos nestes anos ajudaram em muitos encontros nas comunidades e encontraram sempre o entusiasmo do povo de Deus. Em segundo lugar, para ajudar as comunidades a desenvolver-se foi priorizado um trabalho de formação das lideranças que continuam também este ano.
Para ajudar a viver a ligação entre Sacramento do Batismo e Comunidades, nas últimas Assembléias foram tomadas algumas decisões. De agora em diante na Igreja Matriz o Batismo será celebrado uma vez por mês dentro da Missa das crianças e não mais em uma celebração separada. Foi preparado também um calendário onde foi marcada a celebração de Batismo em cada comunidade eclesial de base da cidade. A Pastoral do Batismo, ao invés de organizar cursos de Batismo centralizados, decidiu apoiar o trabalho Pastoral de base colocando-se a disposição das comunidades para visitar as famílias, com palestras nos bairros e celebrar a Palavra. Na zona rural os líderes das comunidades reunidas em Assembléia no mês de novembro, decidiram marcar um dia por ano para celebrar o Batismo em comunidades antecipando este dia com momentos específicos de celebrações.

é por estas razões que as assembleias paroquiais, em sintonia com as orientações Diocesanas, decidiram que para batizar uma criança os pais devem ser pessoas acostumadas a freqüentar a comunidade (pelo menos um dos dois). Isto vale também para os padrinhos. De fato, que sentido tem assumir a responsabilidade de ser padrinho ou madrinha de uma criança quando a minha ligação com a comunidade é fraca ou às vezes inexistente.?  Além disso sendo que o dever do padrinho e da madrinha é acompanhar espiritualmente através da oração e do testemunho pessoal à criança dentro da vida da comunidade eclesial, os padrinhos devem viver conforme os ensinamentos do Evangelho e da Igreja. Por esta razão podem ser padrinho e madrinha pessoas de dezesseis anos, ser batizados e que freqüentem a Igreja, e se estiverem juntos que sejam casados na Igreja.

No final, querido leitor, quero te dizer uma coisa: não busque a Igreja só para pedir coisas – comida, cesta básica, sacramentos como se a Igreja fosse uma loja qualquer. Busque a Deus para uma vida mais digna. Se fizer isto sem dúvida você descobrirá a Igreja como uma comunidade de irmãos e irmãs que, apesar dos limites, esforçam-se para realizar o reino de Deus.