ARQUIVO
[Miguel Calmon, 2001]
Paolo Cugini
Se a visão cristã leva a olhar para o “novo céu e a nova terra”
(Ap 21,1) isso não enfraquece, antes estimula o nosso sentido de
responsabilidade pela terra presente (João Paulo II). São palavras do Papa que
salientam a ligação entre fé e vida, amor a Deus, amor e fidelidade a terra.
São palavras que apelam à nossa responsabilidade para com a criação. Isto quer
dizer que, quanto mais amamos a Deus e buscamos a sua proteção, tanto mais esta
busca deveria nos levar para um compromisso mais firme para com a justiça, a
paz, a saúde e em uma palavra: a cidadania.
Nem precisaria falar disso
porque em Jesus encontramos o exemplo. De fato, o Filho de Deus
comprometeu-se com a vida, a justiça, a exclusão social. A compaixão
que ele manifestou em várias ocasiões para com os mais pobres que, a seu ver,
eram “como ovelhas sem pastor” era fruto do relacionamento íntimo que Jesus
tinha com seu Pai.
Estou aqui escrevendo sobre isso porque entre nós católicos
espalhou-se uma doença espiritual que se manifesta em duas formas opostas, mas
que brota da mesma raiz: a separação entre fé e vida. De fato, de
um lado encontramos aqueles que acham que a vida de fé se resolve dentro
das paredes da igreja, e aí vem o esforço para uma liturgia super
organizada, esbanjando dinheiro com flores, cortinas, acessórios litúrgicos. Quanto mais se gasta nestas coisas, tanto
mais Deus e os santos gostam (assim acham eles).
De outro lado encontramos os católicos
comprometidos com as causas sociais: a terra, a água, as lutas
políticas. Com estes católicos é melhor não falar de sacramentos, de
Eucaristia, menos ainda de liturgia: arregalam os olhos como se tivesse o bicho
da meia noite na frente.
Se quisermos curar esta doença espiritual, o melhor remédio é
olharmos com mais intensidade o rosto de Cristo. Jamais encontraremos
nele os sintomas desta doença, que afeta milhares de católicos no mundo todo.
Em Jesus poderemos contemplar o Cordeiro de Deus que, enquanto celebra pela
última vez o rito pascal com os seus discípulos, profetiza a própria morte como
o coroamento de uma vida totalmente doada. Em Jesus fé e vida nunca são separadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário