Reflexões
sobre o fenômeno da política transformada em bandidagem
Paolo Cugini
A política é
algo de sério, pois visa o cuidado para com tudo aquilo que concerne a vida na
polis, ou seja, na cidade. O grande filosofo grego Platão dizia que pode ser
político somente quem na vida se esforçou de alcançar o bem, pois somente a
pessoa que vive bem, que é justa, pode ajudar os outros a viverem bem. O
político deveria ser uma pessoa livre, que exerce o poder para o bem do povo e
não visa o lucro pessoal. Infelizmente aquilo que nós assistimos é exatamente o
contrário. Quem chega ao poder muitas vezes não visa o bem do povo, mas sim o
próprio interesse pessoal. Talvez este tipo de político começou com as melhores
intenções do mundo, animado pelo desejo de fazer bem, ou seja, de servir o
povo. A falta de espessura espiritual e moral, porém, típica de quem chega hoje
na política, faz com que estas lindas intenções se derretem como a neve ao sol,
logo que o político da vez cheira o fedor irresistível do dinheiro e o do
poder. O problema é que este jeito interesseiro de fazer política atrai pessoas
do mesmo estilo, pessoas que aprendem a fazer da política não o espaço para
ajudar na realização de um mundo mais justo, mas para se abastar. Por isso,
quando estas pessoas chegam perto do poder grudam nele criando a lógica
perversa do parasitismo. Neste contexto, que injustamente é chamado de
política, porque de política tem bem pouco, a ideologia some e deixa o espaço
para o mero interesse material. É este o grave prejuízo que décadas de
politicagem descarada infligiram ao crescimento social do povo. Aquilo que nós
assistimos inermes é o verdadeiro massacre do espaço publico que, longe de ser
o campo do debate civil e da projetação de medidas de crescimento social,
tornou-se o campo onde se exerce de forma descarada a busca de um crescimento
material pessoal.
Neste
desqualificante patamar de politicagem de baixo nível, encontramos todos os
partidos, seja eles de esquerda que de direita. Este me parece o dado mais
preocupante porque marca o fim da ideologia e a vitoria – tomara que seja só
momentânea! – do interesse imediato. Quando se fala de ideologia se entende o
leque de valores que sustentam um grupo político, valores que norteiam todo um
conjunto de medidas e posições coerente entre elas, pois inspiradas do mesmo
conteúdo ideológico. Desaparecendo o quadro ideológico de referência, sobra
somente o cinismo maquiavélico que leva as pessoas a entrarem na esfera da
política partidária, para enxugar o que puder e levar para casa. E, assim,
assistimos a discursos enfeitados de ideologia, mas a verdade da substância
aparece imediatamente: o interesse pessoal.
Este estilo descarado de exercer o poder exige, para
se manter, de um tipo de pessoa especial: o puxa saco. Os centros
governamentais das prefeituras e dos estados são lotados deste gênero de pessoa
inqualificável, porque não têm identidade própria, mas vive daquilo que
encontram e que oferece sustento no imediato. O dato lastimável é que é mesmo
este tipo de pessoa que, ao longo ou breve prazo, se torna a causa da morte do
grupo político que apóia. É a lógica do parasita que gruda naquilo que pode
oferecer o alimento momentâneo e fica ali até provocar a morte do mesmo. É a
lógica do bandido que fica na espreita para aguardar o momento certo e dar o
golpe fatal. A política hoje está cheia de bandidos de terno e de parasitas sem
escrúpulo. Aquilo que está faltando é a capacidade crítica, a honestidade
intelectual que permite de rever as falhas de um projeto político e, assim, de levar
o projeto na direção da atualidade. Talvez, seja esta a falha maior do sistema
político que está tomando conta da realidade, ou seja, a incapacidade crônica,
devido ao sistema interesseiro, de produzir um pensamento critico, a capacidade
reflexiva que ajuda a analisar os problemas colocando-os no leque de valores
altos.
Isso acontece
quando a ideologia, que por definição é algo que tem uma fundamentação teórica,
se torna idolatria. A idolatria é a absolutização de uma parte de um todo, a
radicalização, a extremização de um fragmento de uma totalidade e, por isso se
torna mentira. De fato, sendo a verdade totalidade, um seu fragmento
absolutizado se torna mentira. O idolatra é a pessoa que enxerga somente uma
parte e a absolutiza, menosprezando todos aqueles que pensam de uma forma
diferente. A política hoje, aquela coisa esquisita que estamos assistindo,
precisa de idolatras para se sustentar. Sendo que a política perdeu o seu
referencial ideológico aquilo que sobra são fragmentos de ideologia que,
separados do seu contexto, gera a incapacidade de vislumbrar o todo, de colher
a verdade das coisas, confundindo o particular com o universal. Reverter o quadro que décadas de politicagem
realizaram é árduo e talvez difícil, mas não impossível. O sistema político
parasitário é destinado a morrer de morte própria. Enquanto estamos aguardando
esta morte que esperamos seja a mais rápida possível, precisamos articular
novamente a sociedade, principalmente os jovens, para que saibam olhar o futuro
com um olhar diferente, um olhar mais crítico e desinteressado.
Onde está o/a verdadeiro/a Zoon Politikón que somos em essência?
ResponderExcluirOusemos saber para transformar!