Paolo Cugini
É como uma cebola ou como um forro. Vista de longe, a cebola parece compacta, algo único, mas não é. Quando você vê de perto, percebe que ela é em camadas, que você pode descascá-la, pode tirar as camadas, o que, no caso das cebolas – e não só – é um processo que nos faz chorar.
Até os cobertores parecem ser um corpo único, mas em vez disso há costuras que unem as peças e depois há forros para esconder as costuras. O cobertor parece um corpo compacto, mas não é. Afinal, como muitas coisas na vida: elas parecem compactas, mas não são. Acostumamo-nos a viver na aparência das coisas, até o dia em que um encontro, um rosto, um sentimento forte nos ajuda a acordar e a descobrir que nem tudo é tão compacto quanto parece, que há algo diferente, que há algo mais.
Existe todo um sistema de coisas que faz de tudo para garantir que a realidade pareça compacta, bonita e agradável. Existe todo um mundo que trabalha para mascarar a realidade, sobretudo, para mascarar as manipulações da realidade. E então ocorrem acontecimentos que minam a compacidade, que abrem vislumbres, que provocam uma reflexão, uma crise e assim abrem o caminho da desconstrução que nos leva à realidade, isto é, à verdade sobre as coisas. A desconstrução das estruturas colocadas em prática para encobrir a manipulação da realidade é, ao mesmo tempo, um caminho de libertação e revelação. É libertador porque, finalmente, a pessoa vive sua relação com a realidade com liberdade. De revelação porque a revelação do processo de desconstrução nos leva a entender que as intuições que percebemos durante o período de manipulação da realidade eram autênticas. Isto já é uma indicação importante de método. Ela nos diz, de fato, que cada pessoa é dotada de apreender a verdade das coisas, sua realidade e, portanto, é capaz de perceber qualquer tentativa de manipulação, distorção, dissuasão.
Em algum momento da vida temos que decidir se descascamos as cebolas ou as deixamos como estão; temos que decidir se retiramos as cobertas e verificamos as costuras, ou se continuamos a nos cobrir como se o cobertor fosse um corpo único. Finalmente, em algum momento de nossas vidas, temos que decidir se continuamos acreditando em Santa Lúcia e no Papai Noel, ou se os colocamos em seu devido lugar. Ou seja, precisamos, em determinado momento da vida, que seria bom que acontecesse o mais breve possível, decidir se vale a pena sofrer um pouco, desmascarar os mitos que estão obscurecendo nossa visão da realidade, ou fingir que nada está acontecendo e pagar o altíssimo preço de uma vida falsa, ou seja, de correr o risco de nunca viver a realidade.
Quando isso acontece, ou seja, quando demoramos a ativar os processos de desconstrução e desmascaramento, nos sentimos mal porque vivemos mal. A consciência se rebela quando algo ou alguém nos sufoca, corta nossas asas, nos impede de voar, de sermos nós mesmos. Nossa consciência fica brava conosco no fundo do coração quando nos vê preguiçosos, submissos, um pouco mesquinhos porque nos refugiamos atrás dos nossos medos. Ficamos com raiva quando percebemos que a vida não é como pensamos ou como alguém pensou para nós. E então há uma voz dentro de nós, um sentimento que nos impulsiona a nos recompor, a nos levar a sério, a parar de choramingar e arregaçar as mangas para expor tudo e, assim, finalmente viver livres.
É o contato com a realidade que desmascara as falsas superestruturas que nos impedem de viver autenticamente. É a realidade que causa a ondulação dessas ideias, filosofias e teologias que cobrem nossas vidas, impedindo-nos de viver autenticamente. O pior, que infelizmente acontece com frequência, é quando filosofias e ideologias encontram nos pais um aliado que não tem tempo para verificar se essas ideologias estão de acordo com a realidade ou não. Pobre jovem que encontra dentro de sua própria casa a aliança diabólica de seus pais com os traficantes de ideologias desvitalizantes e castradoras! Será difícil sair dessa jaula de loucos, mas é possível. De fato, sempre há um dia em que nos deparamos com algo real, em que percebemos que o mundo não é como nos é vendido. Há sempre um dia em que a alma jovem respira o ar da liberdade e, quando isso acontece, podemos ter certeza de que ela fará de tudo para se livrar da podridão das filosofias e teologias que, como correntes, a mantêm numa gaiola. Quem sente o cheiro da liberdade, principalmente quando esse cheiro chega até nós na juventude, dificilmente o esquecerá.
O primeiro elemento fundamental desse processo de desmascaramento, que é ao mesmo tempo um processo de desconstrução, consiste em nos distanciarmos dos mágicos, dos charlatões, dos vendedores de óleo de cobra, dos vigaristas de segunda categoria que, por muitas razões, encontramos em nosso caminho e que encheram nossas cabeças de bobagens. Acredito que essa despedida saudável dos charlatões é impossível sem conhecer alguém que já passou por isso, alguém que já se libertou do mundo do absurdo, do mascaramento da realidade. Hoje sabemos que muitos desses charlatões usam batinas pretas e andam pelas igrejas. Existe toda uma religião que é um caminho para a liberdade. É um instrumento satânico de escravidão e morte. Quantas pessoas conhecemos que ingenuamente seguem alguém ou um grupo, pensando que estão trilhando o caminho do Senhor, mas na verdade estão trilhando o caminho de Satanás.
O segundo elemento do processo de desconstrução é o amor à liberdade que, ao mesmo tempo, é amor à vida. Quem ama a vida não aceita prisões de espécie alguma e depois, quando sente sua liberdade ameaçada, bate o pé, se rebela, tenta entender. Aqueles que amam a vida, aqueles que desejam uma vida plena e livre nunca desistem. É o amor à vida ou, como diria Nietzsche, o amor à terra que nos impele a jogar fora todas essas estruturas formadas ao longo do tempo que sufocam a vida em vez de libertá-la. É a força interior que vem do fundo das nossas vísceras, que anseia por liberdade, que não aceita uma vida de morte, uma vida sufocada por superestruturas formadas ao longo do tempo e que não têm mais nenhuma ligação com a realidade vivida hoje. É o amor e o respeito que temos por nós mesmos que, em determinado momento da jornada, nos leva a jogar fora toda resignação, todas as injunções injustificadas, para olhar melhor para dentro de nós mesmos, para não ter que passar a vida inteira submetidos a imposições sem sentido.
O maior mestre de todo caminho de desconstrução que, como vimos, é, ao mesmo tempo, um caminho de desmascaramento, é Jesus. É justamente Ele, de fato, que em várias circunstâncias desmascarou a hipocrisia dos fariseus, que manipulavam a Palavra de Deus para controlar o povo e manter o poder. “Assim, vocês invalidam a palavra de Deus por meio da tradição que vocês transmitiram. E fazeis muitas coisas semelhantes” (Mc 7,13). Substituir a Palavra de Deus pela tradição dos homens: é o que aconteceu ao longo dos séculos, levando milhares de pessoas a se submeterem às leis humanas, pensando que eram a Palavra de Deus. Jesus descobriu isso nos anos de sua juventude, passados em silêncio, prestando atenção ao que acontecia ao seu redor, a como os fariseus se moviam e como o povo sofria. Sem dúvida, em algum momento ele deve ter compreendido a contradição entre aqueles que em todos os tempos tinham a Palavra de Deus na boca e o que essa suposta palavra estava produzindo no povo, isto é, miséria, pobreza, injustiça, sofrimento. Foi a realidade ouvida com atenção que levou Jesus a entender o engano, a entender que aqueles que falavam em nome de Deus estavam, na verdade, falando por si mesmos e por seus próprios interesses obscuros. E então, um dia, ele decidiu ajudar os homens e as mulheres a se libertarem de todas as tolices dos homens no poder, a desmascarar o engano dos fariseus, a desconstruir todas aquelas leis que sufocavam a liberdade dos homens e das mulheres para mostrar-lhes o verdadeiro rosto de Deus que é Pai e Mãe, o significado profundo da sua Palavra que é misericórdia, o verdadeiro desejo do coração do Pai que consiste em dar a vida e vida em abundância.
Esta é a grande tarefa da Igreja nesta era pós-cristã: ajudar os homens e as mulheres a libertarem-se dos absurdos da religião, oferecer instrumentos para que todos possam experimentar em primeira mão o amor de Deus, a sua justiça, a sua liberdade.
Ser livre é o único sentimento que atrelado ao amor torna os seres humanos humanizados autênticos.
ResponderExcluirO amor dá sentindo verdadeiro a vida,
Porém se os charlatões ocupa essa espaço nas igrejas adoece a sociedade.
Portanto temos graças de Deus conduzir pessoas de índole correta para nos auxiliar no processo chamado libertação.
Amor requer libertação.
Ser livre causa inquietação.
A sociedade gosta da mesmice desconstruir para reconstruir.
Isso é ser livre.
Ser livre , nos liberta de muitas doenças na alma , no pensamento, na sociedade, na família, na faculdade, na igreja...
ResponderExcluirSer livre com sabedoria e confiança em Deus que a tudo nos dar suporte pra entender e garantir uma vida em ambulância .
Ser livre em misericórdia, Deus é amor ,é perdão ,é jejum ,é oração ,
Ser livre é você se retirar e meditar na palavra de Deus , ouvir seu coração,sua alma.
Não ⛔😔 o
Deixa as opções alheia a lhe adoecer , lhe deprimir,l he deixar sem a luz de Deus .
DEVENMOS ,dizer onde doir , pare de machucar, ela isso não é certo
VAMOS RECOMEÇAR ,reciclar, reconstruir ,FAZER DIFERENTE