Paolo Cugini
[publicamos um artigo escrito no 2011 sobre um amigo querido que muitas pessoas conhece]
Infelizmente
Léo foi embora. Ganhou um concurso do Estado no Sul da Bahia. Bom para ele,
ruim para nós que ficamos órfãos, apesar de torcer para que ele se possa dar
bem neste novo trabalho. Se Léo quisesse, com os conhecimentos que ele tem e,
sobretudo com a sua oratória arrasadora e a capacidade incomum de articular
discursos de deixar o interlocutor maluco, poderia ensinar em qualquer
faculdade do Brasil. Só que Léo gosta de fazer aquilo que mais sente no
momento: não é o cara que corre atrás de oportunidades. Ele é um amigo, no
sentido amplo e antigo do termo, ou seja, no sentido da gratuidade, da doação
e, quem se doa não tem tempo por cálculos.
Existem pessoas racionais,
sentimentais, malucas: Leo é uma mistura de tudo isso com algo a mais, ou seja,
o instinto da verdade. Sempre criticaram Léo pelo fato dele escrever, falar e
nunca fazer. Na realidade o fazer de Léo foi exatamente o seu dizer, denunciar.
Denunciando o poder, enfrentando com textos polêmicos os políticos locais, Léo
fazia com que o povo, os pobres, os jovens enxergassem uma maneira de ver
diferente. Num contexto aonde o esforço corriqueiro é criar um pensamento
único, o Vírus do Léo, as suas matérias escandalosamente polemicas, provocavam
imediatamente um olhar diferente.
Em todos estes
anos Léo não se corrompeu. Por isso não cresceu. O Leo do 2011 é o mesmo do
2001. Nestes dez anos quantas pessoas se venderam, mudaram de partido, se
tornaram improvisamente ricas. Leo não: é o mesmo cara de sempre, que mora num
apartamento alugado, com o dinheiro ganho do seu mesmo trabalho: professor de
história. A força dele, que pouquíssimos têm, é a moral. Léo escreve aquilo que
pensa porque tem moral e esta ninguém compra e ninguém tira. A moral é o preço
da coerência com as próprias idéias. Leo pagou duramente ao longo destes anos o
preço da sua moral. Foi agredido, insultado, ameaçado, denunciado. Até
levantaram falso contra ele dizendo que bate na mãe. Somente nós amigos sabemos
o quanto Léo ama a própria mãe. Apesar di tudo isso Léo está ainda ali, de pé,
sorrindo com aquela alegria que deriva da consciência limpa, de ter feito o seu
trabalho, alegre de ter ajudado tanta gente a enxergar o mundo e a história de
Miguel Calmon de forma diferente. Por isso sentimos a sua falta. Léo não é um
santo, mas um homem coerente e autentico sim. Boa viagem Léo. Continue sendo
aquele professor de história que os estudantes admiram. Sobretudo continue
sendo a voz da verdade dos sem voz, dos injustiçados. Continue sendo o profeta
do povo. Que Deus te abençoe.
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