“Ninguém pode
exigir-nos que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem
qualquer influência na vida social” (Papa Francisco, Evangelium Gaudium,182)
Reunidos no V Encontro da
Igreja Católica na Amazônia Legal, em Manaus-AM, de 19 a 22 de agosto de 2024,
fazemos chegar às irmãs e aos irmãos em Cristo e a todas as pessoas de boa
vontade, nossas esperanças e preocupações a respeito das eleições municipais
que se aproximam.
No dia 6 de outubro próximo
iremos às urnas para escolher aqueles e aquelas que estarão à frente do Poder
Executivo (prefeitos e prefeitas - vice-prefeitos e vice-prefeitas) e do Poder
Legislativo (vereadores e vereadoras) de nossos municípios. Essas eleições têm
uma importância particular pela proximidade dos candidatos e candidatas com os
eleitores, bem como com suas preocupações mais concretas, por exemplo, a
educação de qualidade para as crianças e adolescentes, o sistema público de
saúde eficiente e universal, a segurança para vivermos em sociedade, a moradia
digna e acessível à população de baixa renda, o cuidado com o meio ambiente –
nossa Casa Comum, a atenção especial aos povos indígenas, ribeirinhos,
pescadores, quilombolas, população em situação de rua e outros grupos em
situação de risco e vulnerabilidade social. Diante dessas preocupações, e de
tantas outras que afligem os povos, espera-se a garantia de políticas públicas
que atendam principalmente os empobrecidos.
Um dos meios para dar a devida
resposta a essas preocupações é identificar e escolher bem os candidatos e as
candidatas. Dos prefeitos e
prefeitas espera-se uma conduta ética nas ações públicas, nos contratos
assinados, nas relações com os demais agentes políticos e com os poderes
econômicos. Dos vereadores e das vereadoras requer-se uma ação correta de
fiscalização e legislação que não passe pela simples identificação com a
bancada de sustentação ou de oposição ao Executivo. O equilíbrio e a
complementariedade entre os poderes Legislativo e Executivo são indispensáveis
para a consolidação da democracia e o avanço da justiça social nos municípios.
Portanto, deve ser dada igual atenção à escolha dos prefeitos e prefeitas e
dos vereadores e vereadoras, visto que ambos devem ter um compromisso
irrenunciável com a defesa integral da vida, que passa necessariamente pelos
direitos humanos e sociais. Defender a vida é defender a Casa Comum em toda a
sua complexidade. Para isso, nossos candidatos e candidatas devem ter a
capacidade de colocar afetiva e efetivamente o bem comum acima de seus
interesses pessoais ou corporativos.
Votemos
responsavelmente pela Amazônia! É
urgente, nos municípios de nossos territórios, políticas públicas que minimizem
os efeitos das mudanças climáticas, favoreçam a agricultura familiar e as
iniciativas agroecológicas, enfrentem o escandaloso problema do saneamento
básico dando, por exemplo, tratamento eficaz aos resíduos sólidos urbanos
através de aterros sanitários que possam recebê-los e tratá-los de forma segura
e ambientalmente correta. Ao mesmo tempo, o apoio à fiscalização, identificação
e punição dos crimes ambientais deve ser compromisso dos gestores públicos
municipais. De quem pede o nosso voto, é importante verificar a história e os
processos vividos, conhecer as trajetórias e o passado, identificar suas
alianças políticas. A Igreja Católica no Brasil tem longa tradição na valorização
da Ficha Limpa e na denúncia da imoral e antiética compra de votos que, além
de crime, passou a cassar os mandatos dos culpados.
Votar por troca
de favores ou simplesmente por amizade pode comprometer seriamente nosso
futuro. Voto não tem preço, tem consequência! Lembramos que
todas as informações sobre os candidatos e candidatas em que se pretende votar
são importantes. É preciso examinar em fontes seguras se as propostas
apresentadas correspondem à realidade. Infelizmente as desinformações, hoje
potencializadas pela internet, têm a capacidade de mudar a vontade do voto
popular, comprometendo assim a democracia.
Eleitor e
eleitora, não permitam que a mentira determine seu voto. Outra atitude fundamental é repudiar quaisquer formas
de violência e divisão. Numa sociedade plural e democrática, é legítimo que
todos tenham a possibilidade de chegar às suas próprias conclusões, que nem
sempre serão e nem precisam ser, iguais às dos outros. Um traço essencial do
cristianismo é chamarmos a Deus de Pai-Nosso e, assim, assumimos que somos
todos irmãos e irmãs. Nossa sociedade e os municípios em que vivemos não podem
sair do processo eleitoral ainda mais divididos, pois “se um reino se divide
contra si mesmo, ele não poderá manter-se” (Mc 3,24). Sendo assim, vamos
aproveitar a oportunidade de, num período eleitoral pacífico e participativo, ajudarmos a construir uma sociedade de comunhão e
amizade social.
Concluímos conclamando a todos
e todas que se unam e rezem pelo bom êxito das próximas eleições. Que Nossa
Senhora de Nazaré, rainha e padroeira da Amazônia, nos conduza pelos caminhos
da justiça, da fraternidade e da paz. Manaus, 21 de agosto de 2024.
Participantes do V Encontro da Igreja Católica na
Amazônia Legal