Paolo Cugini
Pintadas 2011
É sempre importante dar o nome às
coisas, aos eventos ou às situações, sobretudo quando não conseguimos
detectá-las e entendê-las. Existe toda uma literatura religiosa distorcida
sobre o importante tema do pecado, que não permite entender esse fenômeno
espiritual na sua justa profundeza. Sem dúvida, o pecado é uma experiência
negativa que provoca amargura e tristeza nas pessoas que buscam a Deus com
coração sincero. Além disso, o pecado se manifesta de várias maneiras e se
camufla de um jeito que, às vezes, podemos confundi-lo com algo de positivo. O
pecado é uma alternativa ao plano de Deus que, quando consegue penetrar em
nosso horizonte de vida, provoca um profundo mal-estar. Por que, então,
entramos nesses caminhos sombrios quando sabemos muito bem que nos causam
tristeza e mal-estar?
Os sábios de todos os tempos e culturas
indicam na felicidade o grande anseio do homem e da mulher. A busca da
felicidade, que se realiza no bem viver, é o foco das nossas preocupações, seja
de forma explícita ou implícita. A autenticidade da vivência Evangélica leva
para uma vida feliz, que se manifesta como plenitude. Quem na própria vida faz
a experiência do encontro pessoal com o Senhor não sente mais necessidade de
nada: só Deus basta! É nesse sentido que podemos entender os votos de
castidade, pobreza e obediência que, longe de serem imposições externas, são a
resposta pessoal a uma profunda experiência de amor, percebida como algo
incomparável.
Qualquer experiência humana, também a
mais profunda como pode ser a autêntica experiência de fé, é moldada na
estrutura antropológica humana. Somos humanos e não deuses; estamos sujeitos ao
tempo que passa, à caducidade com as suas influências na nossa estrutura
psíquica. As experiências humanas, por serem humanas, passam através do crivo
do tempo e, assim, tendem a esfriar, enfraquecer e, às vezes, a se derreter
para sempre. Quanto mais profunda for a experiência de fé ou uma experiência de
amor humano, maior será a força para aguentar o peso do sofrimento dos
problemas que encontramos no tempo presente. Infelizmente, nem sempre
conseguimos manter a concentração no nosso presente, sobretudo, nem sempre
conseguimos elaborar rapidamente novas motivações, necessárias para enfrentar o
tempo presente com os seus desafios.
É exatamente nessas passagens da nossa
vida que se insinua o pecado, assim viramos para o passado na busca da
consolação naquilo que não é mais, mas que já foi bom, muito bom. O pecado, nesse
sentido, busca empurrar o homem e a mulher no passado da vida, tirando-o do
presente, sobretudo quando este se apresenta como duro, insuportável e, então, dificulta
o anseio constante de felicidade humana. E, assim, insatisfeitos com o nosso
presente, nos transferimos ao passado, tentando ressuscitá-lo, mergulhando
nele, como se fosse algo real. É a necessidade humana da consolação que nos
leva a este sutil caminho do pecado, vivendo no presente com a cabeça no
passado. Claramente, não é a única forma com a qual o pecado se apresenta à
nossa consciência, mas é um dos caminhos que ele percorre, sobretudo nas
pessoas adultas, com uma discreta e significativa bagagem de sonhos.
Por que o pecado se manifesta, nestes
casos, como fuga no passado tirando-nos da realidade do nosso presente? A
resposta, para os cristãos, não é muito difícil. De fato, é no presente da
história humana que Cristo se manifesta. É no hoje da nossa vida que podemos
encontrar misteriosamente e, de fato, a presença real de Jesus Cristo, para nos
convertermos a Ele e segui-lo. “Hoje a
Salvação entrou nesta casa” (Lc 19). Foi com essas palavras que Jesus se
apresentou na casa de Záqueu, oferecendo para ele um caminho novo de vida.
Somente permanecendo no presente da vida teremos chance de encontrar o Senhor que
nos convida no Caminho da vida. Nesse sentido, podemos entender a vida
espiritual como um constante esforço de manter os pés no chão da nossa
realidade, desmascarando as insistentes tentativas de fuga na busca da
consolação do passado. E assim, a oração, longe de ser uma alienação, torna-se
um necessário exercício cotidiano de mergulho no presente da história – não de
qualquer presente, mas daquele presente que Deus nos apontou e continua nos
apontando como único espaço para alcançarmos a vida verdadeira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário