sexta-feira, 12 de julho de 2024

OS DESAFIOS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

 




Um importante congresso na Pontifícia Universidade Católica de Belo Horizonte

Paulo Cugini

 

Na segunda semana de julho participei numa conferência sobre inteligência artificial (IA) e o seu impacto na visão do homem e da religião. O evento aconteceu na sede da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Minas Gerais com sede em Belo Horizonte.

Por IA entendemos um sistema capaz de processar dados e informações de uma forma que se assemelha ao comportamento da inteligência humana e apresente aspectos do comportamento humano. Já hoje, através da IA ​​na forma de ChatGPT (já está disponível em vários aplicativos e em vários idiomas, até em português) é possível escrever textos, manipular fotos, produzir áudio. São muitas as possibilidades que, se utilizadas de forma positiva, auxiliam em diversas áreas do trabalho diário e aceleram significativamente os resultados com excelente qualidade. Só para dar um exemplo. Um padre americano revelou aos seus fiéis no final do ano passado que havia produzido as homilias feitas aos domingos do ano litúrgico com a AI: ninguém havia notado. A IA também é utilizada em previsões meteorológicas com melhor percentual de precisão do que o sistema utilizado anteriormente. No caso de previsões sobre o futuro, como é o caso do clima, a IA utiliza a base de dados disponível, que funciona recriando situações semelhantes à atual. Não se trata, portanto, de uma verdadeira projeção futura, no sentido de que a IA não é capaz de pensar no novo, mas consegue utilizar os dados existentes de uma forma melhor e mais rápida.

Mais delicada é a discussão sobre o fenômeno denominado transumano, ou seja, a união do ser humano com robôs e IA. No livro A Era das Máquinas Espirituais, o escritor e cientista da computação Raymond Kurzweil, citado diversas vezes durante o Congresso de Belo Horizonte, defende a ideia de que o crescimento exponencial da capacidade computacional, a aceleração no uso da inteligência artificial, o aprimoramento da capacidade neural as redes, o progresso dos algoritmos genéticos, o desenvolvimento da robótica e a enorme capacidade de processamento de dados e informações, permitiriam o surgimento de um ser humano superior: o transumano. Evidentemente, existem muitos desafios às propostas do movimento transumanista. A ideia de nos tornarmos transumanos imortais pode parecer muito interessante e convidativa, mas envolve implicitamente muitos riscos e inúmeras divergências científicas, filosóficas e teológicas. Um dos principais riscos é que um pequeno número de pessoas se torne uma raça superior, enquanto a maioria da humanidade se transforme numa sub-raça. Não é por acaso que por trás do desenvolvimento destas tecnologias existem grandes multinacionais apoiadas por um grupo de alguns super-ricos que estão investindo somas absurdas para a realização do projeto. O estudioso brasileiro Elio Estanislau Gasda, que discursou no Congresso, destacou a grande ligação que existe entre o desenvolvimento tecnológico e os interesses do capital e que o poder do digital está nas mãos do poder das finanças. Segundo Gasda, é muito difícil colocar forças de resistência a esta união, que ameaça a existência do próprio planeta. A par destes dados, há também todo o âmbito do delicado tema da relação entre verdade e democracia, de como alguns movimentos políticos em todo o mundo estão a utilizar a IA para desenvolver notícias falsas e manipular eleições em muitos países.

Do ponto de vista ético, surgem grandes questões e preocupações. Para não perder o valor acrescentado que a IA pode oferecer à vida quotidiana, é necessária a intervenção de grandes instituições políticas para salvaguardar a dignidade humana e os direitos dos homens e das mulheres. Foi isso que surgiu durante o Congresso. Na última mesa redonda, o professor falou. Magali do Nascimento Cunha, conhecida no Brasil por seu trabalho em defesa dos Direitos Humanos, que apoiou tanto a necessidade de não demonizar o que todos já usamos, quanto a importância de ativar, em todos os níveis, uma urgente educação midiática. Magali argumentou a necessidade de: “voltar à escola para aprender a ler, ou seja, aprender como se constroem as notícias que são veiculadas online. E então, aprenda a escrever usando novas linguagens de mídia. Por fim, participar ativamente com boa produção porque, se não fizermos, há outros que todos os dias produzem toneladas de merda (palavras exatas) que baixam na internet”.

Há muitas questões, algumas perturbadoras, que a posição transumanista coloca às religiões. O movimento transumanista defende a inutilidade do corpo no desenvolvimento do ideal de imortalidade, que as máquinas podem alcançar. Eles veem a velhice como uma doença e a morte como um problema que pode ser superado em poucas décadas. Na visão cristã, o corpo faz parte da dignidade da pessoa humana. Jesus Cristo ressuscitou com seu corpo, dando valor e dignidade à corporeidade. Trata-se, portanto, de estar vigilantes para que a tecnologia não distorça o significado mais profundo da integridade da pessoa humana. O perigo que, na verdade, acompanhou a humanidade ao longo dos tempos é que alguém se sinta no direito de substituir Deus e decidir por todos. Nesta perspectiva, as religiões possuem uma herança de valores que sempre defendeu o projeto de homens e mulheres de qualquer projeto manipulador. Só conhecendo os meios que a tecnologia nos disponibiliza poderemos acompanhar os processos em curso, garantindo um rosto humano. 

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Quarta Mesa Redonda - A Comunicação entre interesses econômicos e serviços à construção social

 



36º Congresso Internacional da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (Soter) - PUC Minas-Belo Horizonte, 9-12 julho 2024

 


 

Palestrante 1: Dr.  Moisés Sbardelotto (PUC Minas)

Palestrante 2: Dra. Magali do Nascimento Cunha (UFBA)

Moderador: Dr. Marco Túlio de Sousa - Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP)

 

Síntese: Paolo Cugini

Dr.  Moisés Sbardelotto

Construção do bem comum que exige práticas de comunicação.

Midiatização digital. Ecologia midiática na qual a voz das máquinas se mescla á voz das pessoas. Transformações informacionais. A identidade da pessoa não é um conjunto de dados.

Humus simbólico: reviravolta linguística. Pela primeira vez na história o ser humano perde seu monopólio sobre o uso eficaz da linguagem. A eficácia linguística da AI desafia a capacidade humana. É preciso repensar o comum. O risco de deixar de lado a potência do indivíduo. (Sodré).

Humus tecnológico.  Mídias como espécies companheiras (T. Lenoir 2009). Comunicação é um processo artificial (Flusser, 2011). Repensar a ideia de sociedade. Alfabeto, gestos: é tudo invenção humano. A Inteligência é artificial por si mesma, pois utiliza sempre artefatos para apreender. Necessidade de superar o antropocentrismo. Necessidade de um antropo descentramento (Marchesini, 2010).

Humus sociocultural. Humanismo digital (Nidia Rumelin e Weindenfeld, 2019). Pensar um humanismo digital integral, mas a superação autocentrada do ser humano a partir das relações com as alteridades não humanas. Necessitamos de uma razão cordial. Busca de um encontro amoroso com os seres.

Proposta: pensar uma biocomunicação. Comunicação não viva e computacional e comunicação geradora de morte por meio da desinformação. Comunicação que é humanizante.

 

Dra. Magali do Nascimento Cunha

O direito a vida e à coexistência humana antes as novas modalidades de IA: desafios às religiões.

Reconhecimento facial para a segurança pública.

 

Safya Noble, Algoritmos de opressão

Tarcísio Silva, Racismo algorítmico.

Nós temos um processo de algoritmização. Temos um grande desafio como pessoas religiosas. Cada pessoa tem direito de viver.

Uso da mentira e do engano para interferir no interesse público. Conceito de desinformação: conteúdo deliberadamente criado, falso ou enganoso para convencer, captar apoios, confundir, destruir reputações com a finalidade de se obter ganhos econômico e políticos para interferência em temas e situações de interesse público.

Porque as pessoas acreditam. O segmento mais vulnerável a isso é o religioso porque tem o ponto da crença. Os cristãos são os mais vulneráveis. Os cristãos são os maiores divulgadores de desinformação.

Dois desafios:

a.       Intolerância algorítmica

b.      Propagação da mentira cujo alvo são os grupos religiosos.

Proposta: não podemos demonizar o processo. Necessidade urgente de educação mediática. Intender como funciona. Estamos despreparados. Educa Midia trabalha com três pontos:

·         Ler: entender como se constroem as notícias

·         Escrever: colocar que tem regras para produzir textos. Cada mídia tem sua linguagem.

·         Participar: cidadania digital, comentar, partilhar, etc. e pensar as consequências daquilo que postamos e comentamos.  

Mesa redonda - Desenvolvimento tecnológico e qualidade de vida: realces

 



36º Congresso Internacional da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (Soter) - PUC Minas-Belo Horizonte, 9-12 julho 2024

 

 

Palestrante 1: Dr. Edgar de Brito Lyra Netto (PUC-Rio)

Palestrante 2: Marcio Fabri dos Anjos (Professor Emérito pela PUC-SP; FTNS Assunção)

Moderadora: Andreia Cristina Serrato (PUCPR)

 

Síntese: Paolo Cugini

 

Edgar de Brito Lyra Netto

Hegemonia tecnológica: é um problema sério. A tecnologia condiciona os nossos hábitos. Existe um apagamento de fronteiras entre virtual e o real, com modificações na percepção de espaço e tempo. Aceleração e dificuldade de digestão do fenômeno. Tem uma insuficiência da concepção antropológico-instrumental. Necessidade de questionar a partir de dentro.

Open AI. Proselitismo tecnologico. Open AI provocou muitas imitações. A AI está afetando a pesquisa acadêmica. Estão proliferando pesquisas falsas, elaboradas pela AI e não fruto da pesquisa do pesquisador. Se trata de pesquisas adulteradas.

Qualidade de vida. OS jogos na internet modificam e alteram o sentido do tempo e do espaço. Existe uma consequência discursiva causados pelos processos na internet. ChatGPT. Não uma neutralidade nestes processos.

O problema é como prevenir desastres. O problema não é somente legislativo, mas educacional, político e outro.

 

Marcio Fabri dos Anjos

Qualidade de vida. Interação entre a tecnologia, valores e relações socioambientais. Com valores fortes podemos modificar a tecnologia. Conceito de saúde. Passar de uma visão pré-moderna, que é sacral, para uma visão cientista. É na modernidade que se descobre que a saúde tem uma dimensão pública. Qualidade de vida pode ser melhorada se pensarmos em termos de bem-viver.

Condições do bem viver: física, mentais, socioambientais e espirituais. O espiritual dá a direção as dimensões mentais e a sabedoria. Espiritual não é necessariamente religioso.

Pontos críticos deste entrelaçamento tecnológico. Ponto de partida é o sujeito, coletivo, grupais. Narrativas e metanarrativas. Tem um reforço latente do cotidiano. Hoje temos brigas de metanarrativas: as fake News. As metanarrativas são valores e sentidos que se tomam para viver. Dão critérios interpretativos ás realidades. A teologia é um espaço privilegiado para mostrar as metanarrativas das religiões. O problema é entender quais são as metanarrativas na era digital.

Dissociação corpo-espírito. Alma digital em máquina, dispensa corpo e corporeidade. Descobre-se:

a.       Beleza e segredo do corpo

b.      Estruturas e códigos

c.       Formas seletivas de parecer

d.      Dispensar o corpo (corporeidade)  

É mais importante aparecer de que ser.

Tensão entre poder e fragilidade. Sem robustez o ser vivo desmorona sobre si, sem vulnerabilidade fica congelado como cristal. A busca da robustez é criativa. O fim da vulnerabilidade é indispensável e jamais alcançado.

Os poderes que temos são vulneráveis: emocional, espiritual, operacional, racional.

O princípio humanidade existe porque queremos que ela existe (J. Guillebaud) e hoje está em risco. O planeta terra é perto de um colapso total. É uma humanidade que está se cansando. 

quarta-feira, 10 de julho de 2024

Segunda Mesa Redonda - Pós e transumanismo: questões teológicas

 




36º Congresso Internacional da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (Soter) - PUC Minas-Belo Horizonte, 9-12 julho 2024

 

 


 

Palestrante 1: Dr. Joelson Roberto de Oliveira (PUCPR)

Palestrante 2: Dra. Adelaide de Faria Pimenta (PUC Minas)

Moderador: Dr. Allan da Silva Coelho (UMESP/USF)

 

Síntese: Paolo Cugini

 

Dr. Joelson Roberto de Oliveira (PUCPR)

Problema da reforma do ser humano provocada pela IA e tecnologia em geral. Tran e pós humanismo são termos diferentes. Humanismo é o movimento que se desenvolveu no século XV com pico da Mirandola, que se distancia da religião para uma reflexão autônoma do homem. A tecnologia está oferecendo a possibilidade de desenvolver o projeto humanista. O problema da filosofia é que sempre quando fala do homem o descreve como algo de fixo, com uma sua dignidade específica. Hoje, o conceito do homem é em continua mudança.

Pós-humanismo: se fala do prejuízo do humanismo, como o especismo, o machismo. É uma reflexão crítica

Trans humanismo: se dizem continuadores do projeto humanista. Manifesta uma insatisfação com o projeto da natureza sobre o homem. Tem vários movimentos trans humanistas. Aplica a tecnologia para a mudança da condição humana. A própria natureza não está acabada. Estamos em trânsito para algo melhor. Existe uma insatisfação com a criação divina: somos seres imperfeitos, com um corpo que envelhece e que morre. Estamos presos numa condição mortal. Além disso, somos incapazes de viajar no universo. Os transumanistas são bem organizados, são inseridos na politica e nas universidades.

Em torno desta proposta de reforma do ser humano tem um problema teológico. Aparece a morte de Deus, a morte dos grandes ideais, como a dignidade humana. O nihilismo remete o ser humano a uma permissão absoluta: sem Deus podemos fazer tudo. A morte de Deus nos deixou desprovido sobre como usar os poderes. Hans Jonas: o maior dos poderes se uniu ao maior dos vazios. A tecnologia nos deu um poder imenso sobre a natureza humana e vegetal. Estamos na beira de uma revolução humana. Existe uma falta de referência ética e religiosa para entender como utilizar estes poderes.

Romano Guardini é um dos primeiros a escrever sobre o mal uso do poder tecnológico. Este poder é originado pelo fato que o homem não sente o mundo como próprio. Estamos sem terra, porque a globalização nos colocou no tudo pode. Agora este dato é assumido pelas tecnologias. Bruno Latour: desregulação. As empresas tecnológicas não estão interessadas do cuidar e da casa comum, pois nós vivemos, como diz Guardini, desprotegidos.

Dra. Adelaide de Faria Pimenta (PUC Minas)

Transumanismo e mitos na era da imortalidade digital. Palavra-chave: melhoramento. Cura da more, pois a morte é considerada uma doença. A busca é não envelhecer e não morrer.

Natasha Vita-More. Criou um projeto pos humano.

Extropia, termo criado em 1988. É o oposto da entropia.

Nick Bostrom

Princípios da filosofia transumanistas: buscam a aceleração da evolução. É uma vida não religiosa que recusa a fé e a religião.

J B S Haldane, Daedalus, 1923. Está na origem do transumanismo. O inventor químico ou físico é sempre um Prometeu.

Na II Guerra Mundial a Alemanha elaborou substância para criar super soldados.

Julian Huxley: foi ele que oficializou o termo transumanismo. Na realidade já Dante Alighieri utilizou a palavra transumanar.

Mito de Gilgámesh: necessidade de Deus ser eterno e do home também se tornar Deus. Os mitos gregos e dos povos antigos apresentam o tema da busca da imortalidade. Isso acontece também nas religiões orientais como o hindu. Também no antigo Egito.

Sem o concurso de um Deus o transumanismo realiza a imortalidade.

Crionica: crença que congelando o corpo pode viver com as novas tecnologias A imortalidade é matemática, não mística.

 

 

 

Mesa Redonda – Política Econômica e Democracia participativa em tempos digitais

 


36º Congresso Internacional da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (Soter) - PUC Minas-Belo Horizonte, 9-12 julho 2024

 

Mesa Redonda – Política Econômica e Democracia participativa em tempos digitais

 

Palestrante 1: Dr. Érico João Hammes (PUCPR)

Palestrante 2: Elio Estanislau Gasda (FAJE/BH)

Moderador: Carlos André Cavalcanti (UFPB)

 

Síntese: Paolo Cugini

 

 Érico João Hammes (PUCPR)

Os tempos digitais nos colocam próximos da existência humana. Fazemos parte de uma realidade que pode nos transformação. Somos parte de uma grande fabricação e transformação.

Os meios técnicos potencializam as possibilidades humanas. A AI pode ser considerada neutra: este é o problema. É importante a responsabilidade dos cientistas, as decisões que eles tomam, a que ética fazem referência. A IA ´uma conquista admirável. As máquinas poderão superar o ser humano?

Quando pensamos na democracia podemos lembrar os movimentos de extrema direita que tenta sufocá-la. A democracia implica um governo eleito por uma população responsável. A democracia requer a lei, a separação entre os diferentes poderes, a liberdade dos meios de comunicação.  

É possível pensar a origem antropológica do poder na organização de grupo em vista do bem-estar. O princípio democracia possui uma fragilidade intrínseca, porque coloca o poder na mão do povo. Este aspecto é radicalizado no caso da democracia participativa. A democracia participativa questiona a democracia representativa, questiona a maneira de desenvolver o processo político, pois deixa atrás o povo, que não é mais envolvido no caminho do interesse direto com o bem comum. A democracia participativa é criticada porque os indivíduos são isolado e não pertencem a grupos referenciais.

Hoje temos obras que abordam o tema da democracia participativa em base digital. Na Estônia foi produzido um caminho de democracia participativa digital. Tem o problema da democracia em risco. O risco hoje está ligado ao mundo digital, pois tem uma força deletéria. No Brasil a escolha foi entre a barbaria e a política. Tem depois toda a dinâmica religiosa onde pessoas se consideram escolhidos, ungidos. Tem pastores que falam isso. Identificação do governante com Deus. A Igreja Católica abre esta tensão entre violência e democracia e sustenta a democracia.  No Brasil tem um estudo sobre a democracia digital.

Ponto de vista teológico. Se houvesse um povo de Deus, se governaria de forma democrática. A democracia cristã descreve a sua orientação política: Deus, família, trabalho, pátria. A doutrina social da Igreja nos lembra que a participação é fundamental no processo democrático. Na Centesimus anos João Paolo II fala positivamente do envolvimento dos cristãos na política. O monoteísmo representa o fundamento viável para a possibilidade da democracia. A autoridade de Deus vem para a comunidade e não para a pessoa. Não há espaço pela forma da teocracia. O divino se esvazia de si mesmo: isso é visível nos movimentos de encarnação (Ex 3).

 

Elio Estanislau Gasda (FAJE/BH)

Economia política e democracia em tempos digitais.

Assistimos a uma grande crise da democracia representativa.

Infocracia: digitalização e a crise da democracia. Midia digital é um processo de dominação. Hoje é soberano quem controla a mídia. (Han)

Disforia informacional: tática de regimes autoritários. Ânsia quando não podemos fazer nada contra o controle das informações por parte de regimes autoritários. Ocupar o espaço publico com informações erradas.

Ruptura civilizacional: AI é a maior transformação depois da II Guerra Mundial.

Que política irrompe na era digital. O que fazer.

IA e capitalismo digitalizado. Precisamos sempre lembrar no capitalismo neoliberal. A era digital está dentro este mercado do capital. Tudo é oportunidade pra ganhar dinheiro.

BIG TECHS-Big Money. Tecnologia responde aos interesses do capital. Como resistir a esta força que busca lucro e nada mais. O poder digital é o poder das finanças. O capitalismo está atrelado ao poder digital.

Classe que vive do próprio trabalho. Desumanização do trabalho é uma das consequências da hera digital. Aumentam os invisíveis e a exploração do trabalho.

Política neoliberal. Não pergunte se a AI é boa ou justa, mas pergunte como ela muda o poder (Kalluri). Neoliberalismo é incompatível com a democracia. Está avançando o capitalismo de vigilância. O neoliberalismo tenta de despolitizar a sociedade. Por isso é valorizada a ignorância e a demonização do pensamento reflexivo, a mentira como simulacro da verdade. O neoliberalismo constrói o idiota.

IA e democracia. Para o capitalismo é melhor um governo autoritário. A extrema direita é uma representante do neoliberalismo. Libero arbítrio pode ser realizado por pessoas que refletem e capacidade de decisão.

Pós-verdade. 94 milhões acreditam em fake News. Crise da verdade é uma crise da sociedade. Quem fala bobagem é indiferente da verdade. Hitler utilizava muito a palavra verdade. Hoje a verdade é irrelevante, pois aquilo que importa é ganhar as eleições. Extremistas influencer estão ganhando as eleições. É assim que a democracia morre.

IA Rede sociais derrubam a democracia. As Big tech não são politicamente neutras. Necropolítica é um resultado da democracia que apresenta o neoliberalismo. O problema é como ligar a democracia digital com os direitos humanos.

Compromisso: paresia. Fazer teologia é falar a verdade. (Mc 8,32)

 

segunda-feira, 8 de julho de 2024

UMA IGREJA QUE COMBATE À CORRUPÇÃO POLÍTICA

 




 

Paulo Cugini

 

Em ano de eleições municipais, que elegem prefeitos e vereadores, nas cidades brasileiras, vemos de tudo. A disputa para eleger seu prefeito está muito tensa e acirrada. A campanha propriamente dita, tendo em conta as eleições que habitualmente se realizam de quatro em quatro anos no primeiro domingo de outubro, começa em agosto. Por isso, também sabendo da confusão que a campanha eleitoral gera, avançamos a tempo de ajudar as comunidades a não perderem de vista o Evangelho e a ajudar as pessoas a viverem com responsabilidade o seu compromisso político.

Há anos, a Arquidiocese de Manaus estruturou o Movimento Fé e Cidadania, que oferece cursos de formação, em colaboração com a Faculdade Católica da Amazônia, para ajudar os fiéis a se conscientizarem de suas responsabilidades sociais e políticas e, sobretudo, orientar os católicos em um ano eleitoral. O Diretório Pastoral convida as paróquias a criar centros de reflexão política e a estimular o protagonismo profético dos leigos contra todas as formas de corrupção e impunidade. Além disso, os leigos, que têm tarefas específicas nas comunidades como ministros da Palavra ou da Eucaristia, ou como catequistas e que pretendem candidatar-se nas eleições municipais, são convidados a abandonar o seu papel na comunidade até ao final do ano. as eleições. A razão desta postura radical, reside no facto de querermos evitar que um candidato utilize o espaço eclesial para se promover a si mesmo e ao seu próprio partido.



Na paróquia de São Vicente de Paulo começamos a nos preparar desde o início do ano com treinamentos específicos. O facto mais interessante vivido nos últimos meses é o envolvimento de adultos e jovens nas ações concretas propostas pelo Movimento. Em uma das reuniões de capacitação, aliás, decidimos imprimir em grande quantidade o texto da lei 9.840 contra a corrupção eleitoral, que diz que quem vender seu voto ou, no caso do candidato, oferecer dinheiro ou qualquer coisa para comprar um votar, você corre o risco de uma pena de prisão muito pesada. Durante o curso de formação constatou-se que várias pessoas não tinham conhecimento desta lei promulgada em 1999, o que contou também com o contributo da Igreja Católica que, na Quaresma de 1997, propôs uma reflexão sobre o tema da corrupção política.

Teatro de rua dos jovens


Há cerca de um mês, nas tardes de domingo, vamos de casa em casa pelas ruas da comunidade escolhida, para distribuir o texto da lei e discutir com quem quiser falar connosco. A ação do Movimento Fé e Cidadania começa sempre na capela da comunidade para um momento de oração e troca de ideias. Depois nos movemos em grupos, nos dividindo pelas ruas da comunidade. Por fim, encontramo-nos todos em frente à capela e assistimos a um pequeno espetáculo de teatro de rua organizado pelos jovens da paróquia, para envolver os presentes num debate. Já visitamos três comunidades e o entusiasmo em torno do Movimento cresce a cada dia. Há a sensação de que estamos a fazer algo de bom, útil num contexto social onde a corrupção política é uma das principais causas da desigualdade e da pobreza. Ontem (domingo, 7 de julho) a alegria estava estampada no rosto daqueles que distribuíram a lei 9.840 nas ruas da comunidade de Santo Inacio de Loyola. Há a consciência de que aquilo que vivemos na celebração eucarística, o sentido de amor e de justiça que Jesus nos comunica, estamos levando para as ruas, assim como Ele, o Mestre, fez. E então, vamos continuar a jornada.