Paolo Cugini
A liberdade é um dos grandes anseios da humanidade. Não
existe pessoa que não deseje viver de uma forma livre. Por isso as lutas, as
rebeliões. Quantas pessoas morreram buscando a liberdade!
No nosso contexto assistimos perplexos á algo de
diferente. As pessoas são acostumadas a viverem submissas. Apesar das angarias,
das humilhações, o povo em vez de se revoltar, agüenta, engole. As injustiças
acontecem á luz do sol, mas ninguém fala: é o silencio que paira no ar. Vivemos
num contexto social que é fruto de uma história, de anos de opressão, de anos
de dominação. Quem manda é acostumado a mandar sem ser questionado. Você pode
dizer que vivemos num país democrático, mas quem cresce com na cabeça a idéia
de ser o dono do pedaço, não aceita qualquer questionamento, sobretudo de
alguém que é pobre, de alguém que não tem nada que, neste paralelo, equivale a
dizer que não é nada.
Sendo que é natural aspirar a liberdade, em contexto de
opressões o povo busca caminho de saída para descarregar a tensão, a alienação.
Em muitos casos a religião pode oferecer esta possibilidade de fuga, quando
leva o povo a fugir do presente, dos compromissos da vida corriqueira para se
refugiar num paraíso projetado no futuro que não compromete ninguém. Os rios de
álcool que correm nestes lugares nos finais de semana, podem ser interpretados
como fuga de uma vida alienante, recheada e frustrações, de desilusões, de
fracassos. Mergulhar na cachaça é a resposta de muitos pra não sentir a dor no
peito do próprio nada, pra não ter que encarar em silencio a própria morte.
Botar o som a maior altura do mundo é um meio muito eficaz pra não ter que
escutar o ruído do próprio vazio e também pra desafiar todo mundo. Se na vida
não estamos conseguindo viver de uma forma digna, porque ninguém nos oferece
uma chance, pelo menos no meu pedaço faço o que quiser atrapalhando a vida de
todos.
Talvez seja um
problema de cultura, de tomada de consciência. É a cultura da dignidade humana.
Para assimilar esta cultura não basta estudar. Quantos doutores, ou presuntos
doutores, estão por ali massacrando as pessoas com o maior cinismo do mundo! A
cultura da dignidade humana necessita, sobretudo uma história, uma vida feita
de decisões coerentes. A cultura da dignidade humana é a mesma cultura do amor,
da consideração do outro como irmão, como irmã, seja ele quem for. É a cultura
que desabrocha de um coração atento ao outro, acostumado a viver pensando ao outro,
atento as pessoas que vivem perto, não se importando da cor da pele, da
proveniência, do estado social.
Esta cultura do amor que se abre á cultura da dignidade
humana é visível de uma forma contundente em Jesus. Nele percebe-se a atenção
constante para o outro. A sua Palavra provoca sempre uma reflexão, um
questionamento pessoal. A sua pessoa é mergulhada no silencio. O encontro com
Ele provoca uma resposta consciente e livre. A sua proposta não é opressiva,
mas, pelo contrário, é um convite a se libertar. A final de conta, somente um
homem livre realiza a si mesmo, somente um homem livre vive a própria dignidade
humana, ou seja, como um filho, uma filha de Deus.