A revolução espiritual, declara Mounier,
não é uma revolução feita por pessoas impotentes: querem uma maior pureza para
conseguir uma maior eficácia. Ele, porém, se pergunta: “Toda ação não é
condenada a ser ineficiente enquanto é pura, e não é impura enquanto eficaz?”.
A resposta tenta ligar o rigor ético com a eficácia prática. Se, de fato, os meios
materiais são os mais queridos, eles geram a hipocrisia, a mentira, enquanto os
meios puramente espirituais realizam uma silenciosa ação de presença, mas não
levam ao sucesso. Mounier pensa que o contraste pode ser superado através de:
Meios que sejam temporais,
encarnados, que exigem uma técnica cuja alma, cujo fim e então o mesmo rosto
pertencem a um mundo diferente daquilo dominado pela utilidade da força. Por
isso torna-se necessária uma técnica da ação espiritual, não apenas de uma
ética da ação, mas também de uma técnica, pois não se trata simplesmente de
sugerir algumas ideias, mas de apontar os meios para rendê-las eficazes.
(MOUNIER, 1984, p. 273).
Essa técnica dos meios espirituais baseia-se numa
ligação estreita entre meios e fins, ações e valores. É preciso elaborar uma
lúcida consciência do valor da ação, das suas características e dos seus
limites, evitando de se jogar na ação sem antes avaliar os fins que ela envolve
e os meios da qual precisa. Essa lucidez nasce somente de uma decidida assunção
das próprias responsabilidades. A ação revolucionária, portanto, não pode
prescindir de uma precisa referência a um parâmetro de valores. Cada ação
revolucionária é destinada à falência sem este compromisso pessoal, sem ser
também uma revolução pessoal. Chamamos de pessoal aquela prática que nasce a
cada momento de uma consciência, de ter uma cativa consciência revolucionária,
de uma revolta que num primeiro momento cada um dirige contra si mesmo, contra
a própria participação ao desordem estabelecido, entre o espaço admitido entre
aquilo que serve e aquilo que diz servir, e que num segundo tempo, brota numa
conversão contínua de toda a pessoa. (MOUNIER, 1984, p. 294). Manter a ligação entre ação e pessoa é o
único caminho que permite não cair no mito da revolução, que se forma quando a
ação e o sucesso são procurados por si mesmos. A revolução, sendo feita por
homens, nunca poderá ser o bem total, assim como não existe estrutura que seja
o mal total. “Nós mereceremos a nossa revolução – afirma Mounier – somente se
tivermos a coragem de começar a revolucionar nós mesmos” (MOUNIER, 1984,
p.307).
Mais uma vez o discurso passa das estruturas à pessoa.
Além de todo mito de esquerda e de direita, a revolução é sempre uma conquista
difícil e também uma conquista permanente, que precisa ser renovada a toda
hora, através de um renovado impulso revolucionário. Dessa maneira, voltamos à
pessoa. Os Principes d’action personaliste do Manifeste au servisse du personnalisme,
que deveriam representar a tradução prática das ideias que se encontram em Revolução
personalista e comunitária, terminam em marcar muito mais a ligação entre ação
e pessoa, que as dimensões operativas da mesma ação. Como linhas de ação para
construir a nova sociedade personalista são, de fato, apontadas: a tomada de
consciência de si, a dissolução dos falsos mitos, a exigência de ser antes de
fazer e de conhecer antes de agir. Nessa fase do seu pensamento, Mounier
insiste muito sobre a necessidade de uma conversão integral, para evitar uma
adesão apenas superficial ao compromisso revolucionário. “Ser para fazer,
conhecer para agir: a revolução personalista realiza uma ligação interior entre
espiritualidade da pessoa, pensamento e ação, que o idealismo tinha despedaçado
e que o marxismo se recusa a restabelecer”. (MOUNIER, 1982, p172).
As linhas de uma teoria do compromisso revolucionário
deveriam se desenvolver em três direções: compromisso pessoal, ruptura com as
estruturas do mundo moderno burguês, estudo de uma técnica dos meios
espirituais. Mounier tem bem claro na mente que sem uma ruptura radical com
aquilo que ele chama de desordem estabelecida, ou seja, com o mundo moderno
burguês, é impossível realizar uma revolução personalista.
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