Paolo Cugini
O que significa quando este termo é
usado em teologia? A contaminação é um aspecto da inculturação, do caminho da
evangelização em contextos culturais não cristãos ou de culturas diversas. Em
todo processo de inculturação há um aspecto de contaminação, isto é, ao entrar
em contato com uma cultura diferente existem elementos dessa cultura particular,
que são absorvidos pelo processo de evangelização, contaminando, por assim
dizer, a estrutura da doutrina. A contaminação põe em causa a ideia de que a
doutrina é um bloco incorruptível, compacto, imutável. Na realidade, o caminho
da evangelização desde o início passou por vários momentos de inculturação, que
levaram a contaminações, que modificaram o núcleo doutrinal, absorvendo
elementos da cultura encontrada.
Um exemplo do que estou dizendo é a
contaminação ocorrida no contexto da cultura grega que, entre outras coisas,
permitiu a formulação do credo niceno-Constantinopolitano. Isso significa que a
contaminação, longe de ser um fenômeno negativo, é sim um momento de
enriquecimento positivo, necessário. Como a ideia de contaminação no processo
de inculturação do Evangelho foi formulada, ela requer, por um lado, o
reconhecimento dos valores nas culturas encontradas e, por outro, a ação do
Espírito Santo que atua livremente em todos os contextos culturais. É este
momento de reconhecimento que provoca o estilo dialógico, a atitude de escuta
do outro, a consciência da presença do amor de Deus, que se manifesta de
diversas formas. Ainda nessa perspectiva, a ideia de contaminação ajuda a
valorizar a diversidade em seu sentido mais amplo. A contaminação na teologia
indica que há novos elementos, desconhecidos em outras culturas, que são
absorvidos pelo Evangelho, porque são implicitamente reconhecidos como
novidades significativas e em consonância com os conteúdos expressos. A
contaminação, portanto, faz crescer a doutrina, modifica-a, torna-a mais
completa.
Contaminação significa que o
processo de aprendizagem do mistério nunca termina. Admitir o processo de
inculturação em seu aspecto de contaminação, significa dizer adeus à concepção
obsoleta da doutrina como bloco imutável, que identifica a ideia de verdade com
a realidade imóvel e a perfeição com a estabilidade. O aspecto da historicidade
da história da salvação, a manifestação de Deus na história dos homens e
mulheres, abre espaço para a ideia do mistério de Deus que não pode ser
codificado por nenhuma doutrina teológica e, ao mesmo tempo, que sempre
permanece aberto, na verdade, sempre disponível para contaminação. Nessa perspectiva,
a ideia de contaminação na teologia antes de ser e indicar um momento negativo,
manifesta, ao invés, um momento positivo da ação do Espírito na história. Na
verdade, ele diz que sua ação não pode ser encerrada em nenhum espaço e ninguém
pode ter a presunção de codificar seu conteúdo.
Existe uma riqueza da presença de
Deus não só nos caminhos das igrejas e religiões, mas também em todos os
lugares. “Tudo foi feito nele e para ele” (Ef 1). O processo de contaminação é
exigido por todos aqueles que buscam o mistério e vivem dele.