terça-feira, 3 de dezembro de 2024

EXPANSÃO

 




 Paulo Cugini


Os astrofísicos nos explicaram que o universo está muito longe de poder ser definido e compreendido com sistemas rígidos e fixos, porque está em movimento contínuo: ele se expande. Após a explosão inicial, segundo a teoria do Big Ben, o universo nunca parou de se expandir. Esta é a natureza da realidade: um movimento constante de expansão que. traduzido em filosofia significa que, quem segue o caminho do desenvolvimento de sistemas rígidos, segue um caminho destinado ao fracasso. O que é rígido, num universo em expansão, quebra. Esta é a triste conclusão da história da narrativa ocidental da realidade. Seu fracasso está, infelizmente, à vista de todos. As repetidas crises do sistema económico são o sintoma de uma interpretação errada, que foi imposta apenas pela força, mas a força não determina a autenticidade de uma verdade. O mesmo se aplica às alterações climáticas em curso, fruto do Antropoceno, daquele mundo criado à imagem e semelhança do homem ocidental que felizmente não é Deus. O que é rígido num universo em movimento se rompe. Esta discussão leva-nos a compreender que a realidade, tal como se manifesta e tal como a ciência nos descreve, não necessita de um pensamento que se deixe guiar pelo instinto de sobrevivência humano, que tende a fixar as coisas, a enrijecê-las para dominá-las. , mas deve ir exatamente na direção oposta. É o caminho da escuta que a energia do universo nos sugere. 

Caminhos de escuta, que se tornam caminhos de descoberta do desconhecido, daquilo que só podemos aprender. Nesta viagem descobrimos povos indígenas com uma visão de mundo oposta à ocidental. Se, de fato, desde o início do desenvolvimento do pensamento lógico-filosófico, o homem sempre se considerou no centro do mundo fechado, separado do resto, que considera como à sua disposição, a perspectiva da cultura indígena em que o homem e mulher sentem-se parte do cosmos. Diferentes visões de mundo que produzem diferentes caminhos, diferentes formas de estar no mundo. Quando nos sentimos parte de algo nós protegemos, cuidamos, nos interessamos por isso. Pelo contrário, quando a realidade é percebida como externa a nós, ela nos interessa na medida em que nos pode ser útil. Concepções de mundo que abrem diferentes horizontes e perspectivas, que deixam uma marca profunda na história, para o bem ou para o mal. Bastaria reler as páginas da astronomia aristotélica em De Coelo ou Física para compreender como se moveu Aristóteles, um dos protagonistas da formação do pensamento ocidental. Um mundo ordenado e finito, estruturado em 55 esferas, com a terra no centro. O movimento só poderia ser esférico, porque a esfera, na mentalidade dos primeiros filósofos, é a forma mais perfeita. O universo é então finito, porque tem um centro, nomeadamente o centro da terra e, na lógica aristotélica, um corpo com centro só pode ser finito. Um universo feito assim pode ser gerenciado pela mente humana, pode ser controlado e, acima de tudo, não gera surpresas. 

O homem ocidental considerava-se o centro de um universo finito com movimentos circulares perfeitos. Do caos desordenado passamos para a ordem do cosmos. Como sabemos, a Igreja adotou este modelo, que foi assimilado ao sistema teológico de São Tomás, que utilizou o sistema filosófico aristotélico para sistematizar os principais mistérios da revelação bíblica de forma clara e ordenada. Existe uma necessidade de ordem que foi impressa no caminho da cultura ocidental, uma necessidade que moldou todas as formas de conhecimento ao longo do tempo, incluindo o conhecimento religioso. Neste caminho de passagem do caos à ordem, a realidade foi compreendida e ordenada a partir de princípios a priori. O mundo que circunda o homem entrou no sistema desenhado pelo homem e respondeu aos propósitos indicados pela cultura. Há, portanto, uma relação de força que orienta o caminho da cultura ocidental na sua relação com um mundo que não é compreendido senão na medida em que é interpretado a partir de esquemas de pré-compressão. Mais uma vez, é possível ler nesta perspectiva o sofrimento do planeta Terra, gradualmente violado por uma cultura que, antes de ouvir a realidade, classificou-a e obrigou-a a enquadrar-se em padrões pré-definidos. 

Nem todas as culturas percorreram o mesmo caminho. Permanecendo no terreno dos povos indígenas acima mencionados, a sua visão de mundo, que não é movida pela necessidade de ordem e controle, mas pela percepção de fazer parte do Todo, produziu uma forma diferente de habitar a terra. Pesquisas recentes de um grupo de antropólogos, arqueólogos e pesquisadores brasileiros identificaram, com as novas ferramentas oferecidas pela tecnologia, que no subsolo da chamada região Pan-Amazônica, que envolve nove países, existem cerca de dez mil sítios arqueológicos, sinal de uma região altamente habitada, ao contrário das estimativas feitas por pesquisas anteriores, muitas vezes ditadas por razões ideológicas e políticas. A característica que permitiu aos arqueólogos identificar estes sítios é a biodiversidade. O fato surpreendente, de fato, é que a presença dos povos indígenas ao longo dos séculos produziu a proteção e o desenvolvimento da biodiversidade no território habitado, exatamente o oposto do que aconteceu no Ocidente onde, os homens chegaram, produziram não apenas a morte e destruição de outras culturas, mas também a deterioração da biodiversidade local. 

Mais uma vez fica claro que a nossa forma de pensar o mundo e a realidade envolvente determina um estilo de vida, uma forma de habitar a realidade. Não se trata de contrastar culturas ou de elogiar umas e desprezar outras, mas simplesmente de realçar a diversidade de percursos culturais e a diferente abordagem ao mundo envolvente que provocam. Há quem gostou de inventar sistemas, rabiscar doutrinas, forçar a realidade a caber nas elucubrações da sua mesa de centro, e quem, em vez disso, passava o tempo em contacto com a natureza, procurando viver em harmonia, percebendo uma certa sacralidade, protegendo e respeitando isso. Diferentes caminhos que produziram diferentes mentalidades e sociedades.