Paolo Cugini
Estamos
vivendo uma das épocas da humanidade que mais questionam a presença de Deus. A
cultura pós-moderna, na qual querendo ou não estamos mergulhados, está
literalmente varrendo não apenas os valores morais que nortearam a vida do
homem ocidental, mas também questionando na raiz o sentido da dimensão
espiritual do homem e da mulher, pondo em xeque a presença de Deus. Parece que
quando as pessoas alcancem um estado de vida que permite satisfazer os
instintos básicos da vida, não sentem mais a necessidade de Deus. Parece que o
anseio de Deus seja algo que acalma quando o homem e a mulher estão
satisfeitos. Isso é até mesmo um dado pastoral. De fato, muitas vezes as
pessoas se afastam da caminhada da Igreja quando alcançam um estilo bom de
vida. Podemos, então questionar: será que a matéria preenche a vida? Ao mesmo
tempo a pergunta pode ser dirigida do lado oposto: será que Deus serve para
isso? Numa recente pesquisa foi mostrado um dúplice resultado contrastante. De
um lado, foi observado que os países com o maior patamar de vida são aqueles
com o menor índice de presença religiosa. Na Suécia, por exemplo, que aparece
constantemente ao topo do ranking dos países mais abastados e como o melhor
estilo de vida, o índice de ateísmo chega ao 96%. Ao mesmo tempo, porém, a
pesquisa mostra que é o mesmo pais, que aparece no topo de outro ranking sem
duvida meno honroso: a percentagem de suicídios. Talvez podemos rapidamente
salientar que não são os bens matérias que preenchem a sede profunda de sentido
que o homem e a mulher percebem dentro de si. Não podemos encurralar a dimensão
humana apenas no espaço da dimensão material: existe algo que fica além, que
transcende a dimensão material. Não é o dinheiro que preenche o vazio
existencial e o homem e a mulher não se resumem nos desejos instintuais. Mais
uma vez: tem algo a mais que define a estrutura antropológica do homem e da
mulher e que foge aos critérios científicos.
O filosofo espanhol Xavier Zubiri (1898-1983) refletiu por
muito tempo sobre este assunto e chegou a uma conclusão que, como mínimo,
podemos definir mirabolante. De fato, Zubiri, em algumas das suas obras,
declarou que não é verdade que podemos dividir a humanidade entre as pessoas
que têm religiosidade distinguindo-as daquelas que não têm, pois o homem e a
mulher são religiosos, ou seja, a religiosidade aponta o sentido profundo do
ser humano. Porque Zubiri chegou a esta conclusão difícil de engolir num
contexto cultural pós-moderno, que fica indiferente as aproximações religiosas?
Segundo o nosso autor é necessário observar com atenção o ser humano e
descobrir o quanto é frágil, carente, em outras palavras: criatura. O homem e a
mulher para viver precisam de alguém e isso vale seja no sentido material que
espiritual e até cultural. O fato que o homem e a mulher são criaturas aponta
por algo que está por trás, ao fundamento da vida: o Criador. A criatura por si
mesmo incapaz de sobreviver, percebe ao longo dos anos a própria essência de
criatura e aprende a se dirigir ao Criador para viver dignamente na terra. A
religião é a percepção de uma ligação de dependência radical com o Criador e o
desenvolvimento da vida humana depende da percepção desta ligação intrínseca do
homem e da mulher com Deus. A religião define a essência do ser humano: durma
com um barulho desse!
Se Zubiri tem razão, ou seja, se for verdade que o homem e a
mulher são religiosos por essência e a realização da vida acontece a partir do
reconhecimento desta interligação com Deus, como explicar isso na cultura
pós-moderna, materialista e indiferente ao discurso religioso? Talvez seja isso
mesmo a grande tarefa da Igreja nesta estação pós-moderna: ajudar a humanidade
a descobrir, aliás, a redescobrir a autenticidade da própria essência
religiosa. Talvez isso não necessite ser feito com palavras, argumentos,
demonstrações racionais, mas sim com o dialogo honesto, com aquele respeito do
outro que era típico nas conversas que Jesus tinha com os interlocutores. O
mundo perdeu o sentido da própria essência religiosa talvez por causa das
próprias pessoas por assim dizer religiosas, ou pelas próprias instituições
religiosas, que deixaram de ser amiúde espelho transparente da presença de Deus
na história, ofuscando a verdade de Deus. Que tipo de trabalho pastoral
aprontar para ajudar as pessoas a se reconciliarem com Deus e, por isso,
consigo mesmo? Talvez seja este um dos grandes desafios que a cultura
pós-moderna está apresentando para todas as pessoas que trabalham em prol do
Reino de Deus.
Actualmente percebe-se o vazio humano que tenta qualquer custo explicar quem é Deus e onde encontrar é típico de uma sociedade capitalista "pós-moderna' que qualquer custo quer dominar a vida usando as vitimas sócias e usando o escudo ofusco na religião desde dos tempos primórdios...Que bom existem humanos capazes mostrar aonde podemos encontrar essência da vida através do diálogo com DEUS
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