Paolo Cugini
Lembrei nestes dias de um livro de espiritualidade que
li alguns meses atrás e que falava de um mal obscuro chamado akedia (é uma palavra grega que, em
português, poderia se traduzir com preguiça), que seria uma tristeza profunda
da alma, que se manifesta quando a pessoa perdeu o sabor da vida. Esta situação
existencial se transforma em preguiça, na falta de vontade de qualquer coisa,
levando a vida do jeito que vier. A akedia
é a incapacidade de ver no horizonte algo que possa valer a pena de lutar para
alcança-lo. Segundo Gabriel Bunge – um mestre espiritual contemporâneo e
estudioso da vida monástica - na raiz da acedia está a frustração para um
desejo não realizado. E assim a akedia
vai se insinuando devagarzinho na alma da pessoa ao ponto de se tornar um
estado de vida permanente, imobilizando a pessoa. Este mal espiritual se
manifesta na aversão à tudo aquilo que tem a disposição e, ao mesmo tempo, um
desejo por tudo aquilo que não é ao seu alcance. Esta situação da alma se
manifesta seja na vida matrimonial que religiosa. É o detestar aquilo que se
tem – marido, mulher, filhos, etc. - e o desejar aquilo que não tem (outra
mulher, marido, casa, situação financeira, trabalho, etc.). Acontece quando a pessoa não consegue mais
vislumbrar no seu presente algo de estimulante e, ao mesmo tempo, se torna
incapaz de formular novas motivações, transferindo a própria tensão emotiva em
desejos inalcançáveis, fora da realidade e, por isso, a situação se torna
frustrante ao ponto da criar um círculo vicioso que amiúde desemboca nas formas
depressivas. A akedia é a
consequência deste processo de desmanche do eu consciente, pois a frustração
chega ao ponto de aniquilar até a capacidade onírica da pessoa, deixando-a
totalmente esmagada num presente no qual não se percebe mais nenhum sentido da
vida. Segundo Gabriel Bunge não é raro que a akedia, nas suas formas mais agudas, chega até ao ponto do
suicídio.
É possível
sair desta situação lastimável? A akedia,
este mal obscuro da alma, tem remédio? Segundo Gabriel Bunge sim. O primeiro
remédio é resistir. Durante o período em que se sente forte a tentação da fuga,
da mudança da situação existencial, o primeiro remédio é ficar ai, permanecer
com paciência e esperar tempos melhores. Pode ser um remédio ridículo, mas não
é. Um dado importante na vida espiritual é a necessidade de suspender qualquer
tipo de decisão nos momentos de crise, de instabilidade. Perseverar na própria
situação de vida, derrubando toda fantasia de fuga é um grande exercício de
ascese, que deve ser acompanhado do esforço constante de levar em frente os
compromissos assumidos, também se a vontade é fraca. O trabalho é sem duvido um
grande instrumento nos períodos em que a preguiça – akedia penetra na alma.
Nestas situações precisa fazer de tudo para não deixar a tristeza tomar conta
da alma e, assim, o trabalho é um caminho de saída significativo. A pessoa que
vive a akedia precisa de um grande autodomínio, que é um dom do Espírito Santo,
que permite à pessoa de não deixar o barco da vida desandar. Nesta perspectiva,
percebe-se que a akedia, enquanto ameaça a alma no sentido profundo das suas
aspirações, ao mesmo tempo se torna instrumento para aprimorar a própria
vontade e reorganizar as motivações da vida andando em busca de novos sentidos,
mais conforme à nova situação existencial.
Sem
dúvida nenhuma para quem é tomado pela akedia, a oração constante e profunda se
torna o clima espiritual propicio que permite a alma não apenas de respirar
nestes momentos de sufoco, mas, sobretudo, de captar a presença consoladora do
Senhor. “Pesada é a tristeza –dizia o
padre Evagrio, grande e profundo pai espiritual do IVº século d. C. – e insuportável a akedia, mas as lagrimas
dirigidas à Deus dom mais poderosas de ambas”. As lagrimas são o
reconhecimento silencioso da nossa necessidade de sermos salvos. Famosas são as
lagrimas de Pedro, ou da mulher pecadora. Pedimos ao Senhor a humildade de
derramarmos lagrimas de misericórdia para acolhermos a sua salvação.
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