Paolo Cugini
São as palavras de um refrão de uma música italiana cuja autora é conhecida
também no Brasil, porque cantou com alguns cantores brasileiros: Fiorella
Mannoia. Uso estas palavras como ponto de referência para a reflexão que estou
realizando nesses dias. É difícil ficar coerente com os próprios ideais, com as
decisões tomadas na juventude. Percebe-se esta dificuldade, não apenas nas
pessoas superficiais, mas, também, naquelas acostumadas a refletir, a pensar e
ponderar os passos da própria vida. É difícil ser coerente a vida toda. É fácil
ser coerente quando a vida corre nas veias, quando tudo vai bem, quando o tempo
é nosso aliado, quando a nossa vida esbanja saúde. Muito mais difícil é ser
coerente com os próprios ideais quando o mundo anda do lado oposto ao qual
decidimos viver e tudo parece andar na corrente contrária. É difícil ficarmos
coerentes quando somos ameaçados, quando alguém nos pressiona, quando recebemos
ofertas extremamente vantajosas. É raro encontrar uma pessoa que fica de pé
quando é tentado pelo dinheiro ou pelo poder: se deita logo, nem precisa
apertar muito. Nesses casos, nos impele a tentação das massas, de fazer parte
da maioria, como se a Verdade fosse um problema de maioria e não de conteúdo.
Sentimos o sabor da vida boa, daquela que todo mundo quer: que se danem os
ideais!
Quantas
pessoas, até amigas, nesses anos todos de vida mudaram por medo de ficar de
fora, na minoria? Quantas pessoas mudaram de religião só porque não aguentaram
o confronto com os irmãos e as irmãs da caminhada? Quantas pessoas mudaram de
partido só por interesse pessoal? Quantas pessoas que um tempo eram doentes por
um partido ou uma ideologia, de repente, se tornam doentes do partido da
oposição? Quantos amigos e amigas se tornaram inimigos? Quantas pessoas
encostaram por um período na minha vida somente para tirar uma lasquinha e
depois “tchau!”? Muda-se para não morrer, para não ficar isolado, esquecido; só
que muitas vezes, são exatamente estas mudanças que acabam conosco, com a nossa
moral, com a seiva da nossa vida. E, assim, enquanto estamos fazendo de tudo
para não perder o trem da multidão e da massa e, sobretudo, da vida boa, na
realidade estamos perdendo aquilo que dava o sabor à nossa existência, que
fazia com que a gente fosse diferente, com uma qualidade, um valor autêntico:
uma ideologia, uma fé, um credo.
Ficando
bem atentos aos processos da nossa consciência, ou seja, com aquilo que
acontece em nossa vida interior, percebemos que, ao longo dos anos, a matéria
se torna sempre mais protagonista em nossa existência, exigindo sempre mais
espaço. É a lei da sobrevivência, do instinto que manda em nossos passos
corriqueiros. Se na juventude são os grandes ideais que nos emocionam e
empolgam, ao longo dos anos, a necessidade de sobreviver, de viver amparados, a
sedução da vida estética, o medo da morte e das doenças estimulam o nosso lado
instintivo. Como lidar com isso?
Seremos
pessoas autênticas somente quando ficarmos fieis aos nossos ideais. Por isso, a
verdade da nossa existência se realiza quando os ideais nos quais acreditamos
não se desmancham perante a força agressiva da vida instintiva. O exemplo de
tudo isso, mais uma vez, é Jesus. De fato, a prova da grandeza dEle, não
devemos procurá-la nos milagres que Ele fazia, mas sim na firmeza que Ele teve
na hora da paixão. Foi nessa hora de grande sofrimento, que os instintos
exigiam um compromisso com o mundo, e a consciência puxava pela fuga, que Jesus
demonstrou a toda humanidade o sentido da palavra homem, da palavra mulher.
Sim, o homem, a mulher é tal quando assume a própria identidade, quando não se
esconde atrás de nada e de ninguém e, sobretudo, quando sabe enfrentar as
consequências da fidelidade das próprias ideias. Jesus, na hora do sofrimento,
não mudou de religião, na hora do aperto, não mudou de partido: Jesus foi fiel
até o fim. É este o seu grande ensinamento. Jesus não mudou para não morrer,
mas morreu para dar um novo sentido à vida (Tapiramutà-2009).
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